Governo de
transição da Guiné-Bissau fala de tempos difíceis e avisa que sem dinheiro não
se fazem eleições
24 de Outubro de
2012, 09:31
Fernando Peixeiro,
da Agência Lusa
Bissau, 24 out
(Lusa) - Os 150 dias do Governo de transição da Guiné-Bissau foram
"extremamente difíceis", mas foi possível pagar salários com receitas
conseguidas na capital, disse hoje à Lusa o porta-voz do executivo, que avisou:
sem dinheiro não se fazem eleições.
O Governo de
transição, na sequência do golpe de Estado que a 12 de abril derrubou o Governo
de Carlos Gomes Júnior, foi anunciado a 22 de maio. Cinco meses depois, num
balanço à Agência Lusa, o porta-voz do executivo, Fernando Vaz, fala de dificuldades,
mas deixou também um rol de críticas ao anterior Governo.
Dificuldades em
conseguir dinheiro para pagar os salários da função pública, aliadas a uma
"conjuntura não favorável na exportação" do principal produto do
país, o caju, à suspensão do acordo de pescas com a União Europeia e a
"uma desaceleração da atividade económica".
"Mesmo assim,
conseguimos honrar os compromissos com os salários", salientou, frisando
que as receitas são provenientes apenas de Bissau, "porque as receitas do
resto do país estão hipotecadas com dívidas que Carlos Gomes Júnior deixou na
banca".
Mas as maiores
acusações a Carlos Gomes Júnior ainda estavam para vir: "Encontrámos
contratos assinados que são autênticos crimes a este país", disse,
referindo-se aos contratos de exploração de bauxite, na zona sul do país, e de
fosfatos, na zona de Farim, a norte.
"Os governos
anteriores viviam numa teia enorme de corrupção e de banditismo político e de
Estado. O que aconteceu foi que guineenses foram capazes de hipotecar o nosso bauxite,
dando 90 por cento aos angolanos e deixando 10 por cento para o país",
acusou.
De acordo com o
responsável, o contrato assinado com a Bauxite Angola envolvia um investimento
da empresa de três mil milhões de dólares (2,3 mil milhões de euros) em infraestruturas
do porto de Buba e em caminhos-de-ferro e na própria mineração.
"No contrato
de 25 anos, seis anos depois a Guiné-Bissau pagava os três mil milhões com a
bauxite e ficava 19 anos a receber 10 por cento", disse, acrescentando que
o contrato está a ser renegociado com a empresa angolana e que se não for
possível chegar a um acordo "há muita gente que quer a bauxite", de
chineses a canadianos ou norte-americanos.
Em relação aos
fosfatos, a Guiné-Bissau só recebia dois por cento, disse Fernando Vaz,
adiantando que também neste caso está a haver negociações.
Críticas à parte,
Fernando Vaz queixou-se da falta de dinheiro e avisou que sem dinheiro não é
possível fazer eleições.
"Não houve
nenhuma eleição financiada internamente, foram sempre financiadas pelos
parceiros de cooperação. Neste momento, temos a União Europeia que não nos
reconhece, temos a União Africana que não nos reconhece, temos uma série de
países que não nos reconhece e que estão por fora a exigir que façamos eleições
a tempo e horas. Ninguém disse que vai dar dinheiro a não ser a CEDEAO, mas a
CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental) não pode
financiar tudo", disse.
Segundo o ministro,
acabaram esta semana os trabalhos de cartografia do país e é necessário agora
lançar o concurso para se fazer o recenseamento biométrico. "Para isso, é
preciso dinheiro, temos os americanos que nos prometeram e esperamos que nos
apoiem para tentar fazer (as eleições) dentro do ano, mas não havendo condições
não podemos fazer milagres e a comunidade internacional tem de entender isso,
não é só pôr-se na posição de exigir. A realidade é esta e eles conhecem-na e
se a quiserem ignorar o problema é deles", disse.
Sobre a greve dos
professores, que decorre há mais de um mês, Fernando Vaz disse ter sido criada
uma comissão chefiada pelo ministro das Finanças para dialogar com os
sindicatos e adiantou que "as negociações estão no bom caminho",
admitindo que as aulas comecem em breve.
Também não correu
bem a exportação do caju, visto que permanecem 36 mil toneladas por vender,
reconheceu. Mas, segundo Fernando Vaz, o Governo "recebeu propostas que
estão a ser negociadas".
E sobre o
fornecimento de energia o ministro disse acreditar que o Governo de transição
vai conseguir resolver "um problema que o PAIGC (partido no poder até 12
de abril) não resolveu em 40 anos". Neste momento, disse, estão instalados
sete megawatts e na semana passada o Governo assinou um contrato para a
construção de uma central de energia solar que chegará, por fases, aos 10
megawatts.
Fernando Vaz
garantiu que o Governo tem feito uma gestão de rigor e que vai continuar a
pagar ordenados até ao final do mandato. E diz: "é difícil de gerir sem
nenhuma ajuda externa, tirando a ajuda que a Nigéria deu, de 10 milhões de
dólares, que representam dois meses de ordenados".
FP // VM.
Governo de
transição da Guiné-Bissau diz haver "indícios" do envolvimento de
Portugal no assalto a quartel
24 de Outubro de
2012, 09:31
Bissau, 24 out
(Lusa) - O Governo de transição da Guiné-Bissau considera haver
"indícios" de que Portugal está envolvido no assalto do passado
domingo a um quartel militar em Bissau e espera explicações do Governo de
Lisboa sobre o assunto.
"Não acusamos,
só colocamos questões e queremos respostas. Que o senhor Paulo Portas esclareça
que Portugal não está por detrás e que nos explique como é que um asilado
político em Portugal, sob custódia de Portugal, aparece na Guiné a fazer uma
tentativa de tomada de um quartel", disse, em entrevista à Lusa, o
porta-voz do Governo, Fernando Vaz.
Um grupo
alegadamente comandado pelo capitão Pansau N´Tchama, um militar que estaria em
Portugal, onde tinha pedido asilo político, tentou assaltar um quartel militar
na madrugada de domingo, uma ação da qual resultaram seis mortes, segundo o
Governo de transição.
O executivo de
transição da Guiné-Bissau, no mesmo dia, apontou o dedo a Portugal, à CPLP
(Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) e a Carlos Gomes Júnior,
primeiro-ministro deposto no golpe de Estado de 12 de abril e atualmente a
residir em Portugal.
Hoje, em entrevista
à Lusa, Fernando Vaz, ministro da Presidência do Conselho de Ministros e
porta-voz do Governo, reiterou as acusações, afirmando: "há indícios de
Portugal estar por detrás, porque a pessoa que comandou a operação é um asilado
político em Portugal, que pede asilo político e lhe é concedido, e que aparece
na Guiné a comandar uma tentativa de assalto a um quartel. Temos de perguntar a
Portugal e temos de responsabilizar Portugal".
A agência Lusa
questionou o Governo português sobre a presença em Portugal de Pansau N´Tchama
e em que qualidade, e se saiu de Portugal com conhecimento das autoridades. Não
obteve resposta, "por questões de confidencialidade".
O Ministério dos
Negócios Estrangeiros já havia recusado comentar estas acusações do Governo de
Bissau.
No entender de
Fernando Vaz, a tónica do discurso da CPLP, de Portugal e de Carlos Gomes
Júnior tem sido a favor de uma intervenção militar "e a resolução do
problema (da Guiné-Bissau) pela via da violência". "Ao acontecer esta
perspetiva de resolução pela violência, entendemos que as pessoas que fomentaram
isso têm culpas", salientou Fernando Vaz.
Portugal, disse o
responsável, "devia ter um papel diferente, fulcral, como mediador e como
antiga potência colonial", mas, ao contrário, "reduziu-se
completamente a zero".
"Não
entendemos porque até hoje deixou que o protagonismo passasse para a CPLP,
dominada por Angola, uma organização que devia ser linguística e que tomou o
comando da situação e se transformou numa organização eminentemente
política", disse Fernando Vaz.
O Governo português
apelou esta semana ao diálogo a propósito do caso de domingo, algo que segundo
Fernando Vaz o Governo de Bissau ouviu com agrado. "Mas como é que
Portugal defende a via do diálogo se não reconhece este Governo? Vai dialogar
com quem? Só com a parte que reconhece! É um bocadinho de hipocrisia",
rematou o ministro.
Sobre os
acontecimentos de domingo, Fernando Vaz disse à Lusa que Pansau N´Tchama tinha
um cúmplice na porta de armas do quartel, no qual chegou a entrar e de onde
telefonou ao comandante, intimando-o a render-se, depois de ter dominado
"o oficial de dia e outros militares".
"O comandante
reagiu e conseguiu expulsá-los para fora do quartel e aconteceram as
mortes", disse o ministro, acrescentando que o intenso movimento de
militares em Bissau desde essa altura acontece porque está a haver uma busca
dos responsáveis pelo ataque.
Sobre o
espancamento de dois políticos na segunda-feira, o responsável reiterou que o
governo não "tinha nada a ver com isso", que condenava a ação e que
tinha feito diligências de imediato junto da cúpula das Forças Armadas para que
os culpados sejam encontrados e punidos.
"Se os
descobrirem, garanto que não sairão impunes destes atos", disse Fernando
Vaz, garantindo também que não houve ordens do Estado-Maior das Forças Armadas
para que fossem espancados os dois dirigentes políticos em questão, admitindo:
"neste tipo de situações há sempre aproveitamentos para ajustes de
contas".
Fernando Vaz
acredita que ao longo desta semana o ambiente vai ficar menos tenso e deixou
outro reparo: "houve quem dissesse que isto era montado pelo Governo. O
Governo faria tudo menos montar uma situação que é naturalmente contra o
Governo".
FP/TQ // VM.
*O título nos
Compactos de Notícias são de autoria PG
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