sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Moçambique: NINGUÉM É MAIOR DO QUE O PAÍS

 


Verdade (mz) - editorial
 
O veterano da luta de libertação nacional, Marcelino dos Santos, concedeu uma entrevista à televisão pública do país e deixou vários pontos para reflexão. Disse, entre outras coisas, que os megaprojectos devem pagar impostos. Também revelou que a economia de mercado foi introduzida sem discussão alguma. Porém, no que diz respeito ao partido que gere os destinos dos moçambicanos, Marcelino confirmou algo que a opinião pública murmurava um pouco por todo o país: “não há democracia na Frelimo”.
 
Esse pronunciamento, no nosso entender, revela muito daquilo que a Frelimo se tornou. Contudo, não é das idiossincrasias do partido no poder que pretendemos falar. Até porque houve algo muito grave que saiu da boca de alguém que muitas vezes disse que não era fundador da Frelimo, mas a própria Frelimo. Ou seja, Marcelino disse, para quem quis ouvir, que ele era maior do que a Frelimo.
 
Talvez, por isso, tenha dito que nunca vai apertar a mão a Dlhakama. “Eu não respeito Dlhakama. Nunca vou apertar a mão (...) descer tão baixo não dá”, referiu. Nós, refira-se, defendemos o direito que Marcelino tem de não apertar a mão a quem quer seja. Concordamos plenamente que não o faça. Está coberto de razão. Aliás, nesse aspecto a sua razão é maior do que o país.
 
Só que a razão que assiste ao Marcelino cidadão não abrange ao fundador da Frelimo. Esse, diga-se, tem outras responsabilidades e não pode, de forma alguma, elevar os seus rancores pessoas acima da construção do país. Portanto, o rancor de Marcelino não precisa de ser público. Que o guarde para si e que seja responsável nos seus pronunciamentos públicos. O facto de ser libertador não lhe dá, de forma alguma, o direito de se pronunciar de forma irresponsável.
 
O fundador da Frelimo pode julgar que está acima dos valores da moçambicanidade. Pode acreditar cegamente de que é realmente maior do que a Frelimo e como, neste rochedo à beira mar, o partido no poder confunde-se com o país temos a responsabilidade lembrar algumas coisas ao cidadão Marcelino dos Santos. Primeiro: o seu partido é maior do que ele.
 
Se não o fosse Marcelino não precisaria de dizer num órgão público que a Frelimo perdeu muito da sua democracia interna. Segundo: Moçambique é maior do que Marcelino e a sua Frelimo. Alguém precisa de lhe avivar a memória e dizer que os homens podem determinar o curso da história, mas não duram para sempre e nem são maiores do que o povo. Que não perdoe Dlhakama.
 
Que não lhe aperte a mão e que guarde o mais profundo desprezo pelo líder da oposição. Só que nós, como povo, não precisamos de saber. Há tantas coisas a esquecer, para perdermos tempo a cultivar extremismos.
 

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