Verdade (mz) -
editorial
O veterano da luta
de libertação nacional, Marcelino dos Santos, concedeu uma entrevista à
televisão pública do país e deixou vários pontos para reflexão. Disse, entre
outras coisas, que os megaprojectos devem pagar impostos. Também revelou que a
economia de mercado foi introduzida sem discussão alguma. Porém, no que diz
respeito ao partido que gere os destinos dos moçambicanos, Marcelino confirmou
algo que a opinião pública murmurava um pouco por todo o país: “não há
democracia na Frelimo”.
Esse pronunciamento,
no nosso entender, revela muito daquilo que a Frelimo se tornou. Contudo, não é
das idiossincrasias do partido no poder que pretendemos falar. Até porque houve
algo muito grave que saiu da boca de alguém que muitas vezes disse que não era
fundador da Frelimo, mas a própria Frelimo. Ou seja, Marcelino disse, para quem
quis ouvir, que ele era maior do que a Frelimo.
Talvez, por isso,
tenha dito que nunca vai apertar a mão a Dlhakama. “Eu não respeito Dlhakama.
Nunca vou apertar a mão (...) descer tão baixo não dá”, referiu. Nós,
refira-se, defendemos o direito que Marcelino tem de não apertar a mão a quem
quer seja. Concordamos plenamente que não o faça. Está coberto de razão. Aliás,
nesse aspecto a sua razão é maior do que o país.
Só que a razão que
assiste ao Marcelino cidadão não abrange ao fundador da Frelimo. Esse, diga-se,
tem outras responsabilidades e não pode, de forma alguma, elevar os seus
rancores pessoas acima da construção do país. Portanto, o rancor de Marcelino
não precisa de ser público. Que o guarde para si e que seja responsável nos
seus pronunciamentos públicos. O facto de ser libertador não lhe dá, de forma
alguma, o direito de se pronunciar de forma irresponsável.
O fundador da
Frelimo pode julgar que está acima dos valores da moçambicanidade. Pode
acreditar cegamente de que é realmente maior do que a Frelimo e como, neste
rochedo à beira mar, o partido no poder confunde-se com o país temos a
responsabilidade lembrar algumas coisas ao cidadão Marcelino dos Santos.
Primeiro: o seu partido é maior do que ele.
Se não o fosse
Marcelino não precisaria de dizer num órgão público que a Frelimo perdeu muito
da sua democracia interna. Segundo: Moçambique é maior do que Marcelino e a sua
Frelimo. Alguém precisa de lhe avivar a memória e dizer que os homens podem
determinar o curso da história, mas não duram para sempre e nem são maiores do
que o povo. Que não perdoe Dlhakama.
Que não lhe aperte
a mão e que guarde o mais profundo desprezo pelo líder da oposição. Só que nós,
como povo, não precisamos de saber. Há tantas coisas a esquecer, para perdermos
tempo a cultivar extremismos.
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