segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Portugal: A AGONIA

 

Ana Sá Lopes – i online, opinião
 
O simbólico veto do Presidente deixa antever o grau de agonia do governo
 
O Orçamento do Estado que vai ser hoje entregue pelo governo já foi chumbado pelo Presidente da República.
 
É um facto que o Presidente português tem uma fórmula estranha de produzir os seus juízos políticos – resguarda-se nas instâncias simbólicas tradicionais (vide discurso do 5 de Outubro) e é profundamente cáustico em fóruns alternativos. Mas o post no Facebook, colocado no fim-de-semana a cavalo nas recentes declarações do FMI sobre os malefícios da austeridade, é um veto por antecipação. O Presidente está contra a estratégia do governo perante Bruxelas, contra o Orçamento e contra a negociação das metas do défice que este fez com a troika. Ficámos a saber que, depois do PS, também o Presidente já não faz parte do “consenso nacional” à volta da aplicação do memorando.
 
É um facto que Cavaco Silva diz que a culpa é das instâncias internacionais (e também é) e afirma “esperar” que os avisos da senhora Lagarde e do senhor Blanchard cheguem “aos ouvidos dos políticos europeus dos chamados países credores e de outras organizações internacionais”. Mas o Presidente afirma, “em linguagem simples” que “nas presentes circunstâncias, não é correcto exigir a um país sujeito a um processo de ajustamento orçamental que cumpra a todo o custo um objectivo de défice público fixado em termos nominais”. Ou seja, morreremos todos – e é o supremo magistrado da nação a dizê-lo – se o governo puser em prática o Orçamento que vai hoje entregar no parlamento.
 
A declaração de Cavaco Silva vem mostrar o profundo isolamento de Passos Coelho na liderança de um governo fracturado – e não é apenas a fractura exposta da coligação que mina a coesão governamental. O eleitorado do PSD já não se revê no governo, Passos tem contra si a maior parte dos barões e dos antigos líderes e a estrondosa derrota nos Açores pela qual se responsabilizou foi uma amostra optimista do que espera Passos Coelho e o PSD na próxima vez que for a votos.
 
Estamos a assistir aos últimos dias de um ciclo político, de uma coligação ferida de morte, de um governo com a credibilidade interna totalmente minada e cuja capacidade de regeneração – através de uma remodelação, por exemplo – já parece impossível. O simbólico veto do Presidente, por antecipação e via Facebook, à linha do Orçamento deixa antever o grau de agonia de um governo confrontado com uma missão impossível em democracia: destruir o seu povo sem que alguém o trave.
 
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