sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Portugal: A DERROTA DE PAULO PORTAS

 


Eduardo Oliveira Silva – i online, opinião
 
Quem não quer ser lobo não lhe pode vestir a pele
 
O lume baixou, o fervilhar interior da panela diminuiu, o pipo actuou e a pressão interna desceu por via da evaporação. Em síntese, foi isso que as últimas horas trouxeram, o que permite admitir que o governo vai ultrapassar esta fase de grande dificuldade, embora poucos acreditem que tem condições para chegar ao fim dos três anos que lhe faltam, incluindo alguns dos seus integrantes ou apoiantes
 
É natural que, depois de ter engolido um enorme sapo, o CDS actue por pequenas bravatas na discussão do Orçamento na especialidade, para tentar não sair esmagado pelo contra-ataque fulgurante de Passos Coelho que deixou Portas no pau da roupa.
 
O melhor que o CDS conseguiu apresentar ao fim de mais uma guerra em que se andou perto da ruptura, da demissão do ministro Vítor Gaspar (o verdadeiro numero dois do governo), foi a garantia de que votará o Orçamento mas procurando “melhorar aspectos da proposta” (!!!).
 
Há depois mais uma série de palavras que resumidamente significam pura e simplesmente o seguinte: com certeza que aceitamos porque não há outra solução e não queremos fazer cair o governo.
 
Ponto final na história. Portas foi derrotado. Passos e Gaspar ganharam. Outras conclusões não se podem tirar. É de esperar que Portas tome boa nota da lição e recorde que quem não quer ser lobo não lhe deve vestir a pele.
 
Noutros momentos, a tensão na coligação voltará a subir para níveis tão graves como este, ou mais. E, se não for antes, tome-se nota na agenda de que, se subsistir, o governo terá dentro de exactamente um ano momentos muito difíceis, ao ver-se confrontado com outro Orçamento, mas aí em vésperas de autárquicas, o que também pode ser explosivo.
 
Nessa altura é bem provável que os ecos dispersos de descontentamento que o aparelho do PSD deu este ano tenham uma outra sonoridade e até eventualmente outra repercussão.
 
A esperança é que até lá a economia não estoire totalmente, como alguns admitem.
 
O Orçamento deste ano, para além do napalm fiscal que destrói a classe média, sustenta o Estado e o sistema social, comporta um número que não deixa de ser muito estranho.
 
Baseia-se num pressuposto de que a recessão andará por 1%, enquanto as instâncias internacionais apontam para 2% e uma análise à vista desarmada por um qualquer cidadão apontará para valores próximos do deste ano, ou seja perto de 3%.
 
A questão essencial com que os portugueses se confrontam agora prende-se com o efeito concreto que terão as medidas inscritas no Orçamento que vai passar.
 
Por muito que se concorde com a necessidade de austeridade, há um ponto que parece impossível de ultrapassar a contento. É que o aumento de impostos vai pesar muito nas famílias e nas empresas, já altamente endividadas, e, assim sendo, o agravamento tributário irá impedi-las de fazer face às dívidas contraídas.
 
Entre as duas coisas, os visados pagarão obviamente os impostos, até porque lhes são em regra deduzidos de imediato e porque o Estado tem mecanismos coercivos rapidíssimos.
 
Também por isso é de esperar que a recessão tenha uma expressão maior que o previsto, mas desta vez Vítor Gaspar até pode acertar.
 

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