Liliana Valente – i
online
Comunicado de
Portas tranquilizou PSD. Da tensão na coligação, os dois partidos passaram à
paz podre
Em vésperas de
Conselho Europeu e de a troika libertar a quinta tranche, Paulo Portas deu
sinais de cedência e de querer manter a estabilidade política a todo o custo.
Justificando-se com a situação do país, o líder do CDS amarra-se à execução do
Memorando de entendimento através do Orçamento do Estado para 2013, mas mantém
a pressão para a discussão em pormenor do documento. As palavras de Portas
permitiram que Passos sorrisse de alívio: “O governo não está para cair”,
garantiu.
Depois de três dias
de silêncio e de quase um mês e meio de tensão política entre os dois partidos,
Portas tentou ontem, através de um comunicado enviado às redacções pela manhã,
travar o agravamento da crise política. No documento, Portas diz que o CDS
viabilizará o Orçamento do Estado para o próximo ano, sem nunca referir o
sentido de voto – apesar de improvável, uma abstenção dos deputados centristas
não poria em causa a aprovação do documento. Contudo, o não dito de Portas –
que também não escreveu uma linha sobre o estado da coligação – exerce pressão
na discussão em pormenor do documento na comissão de Orçamento e Finanças. É
que Portas refere que, tal como tentou alterar no governo o OE, os deputados do
CDS farão o mesmo na Assembleia da República: “Em coerência com o esforço feito
dentro do governo, e em articulação no quadro da maioria, o grupo parlamentar
do CDS contribuirá para melhorar aspectos do Orçamento do Estado até à
conclusão do respectivo processo.” A omissão de Portas no comunicado tem pelo
menos o efeito de pressionar a discussão em detalhe, em que os deputados
centristas já prometeram dar luta, como Adolfo Mesquita Nunes e João Almeida.
Mas se mantém a pressão, baixa as expectativas: “O CDS tem o peso que os
portugueses lhe deram.”
Horas depois,
Passos Coelho reagia aliviado: “Nem o governo está para cair, nem o governo diz
que não pode alterar uma vírgula ao Orçamento”, assegurou. Em Bucareste, onde
participou no Congresso do Partido Popular Europeu (PPE), o primeiro-ministro
repetiu, no entanto, os limites já traçados por Vítor Gaspar e avisou que a
margem para alterar o OE “é muito estreita, dado que as negociações com os
nossos credores não são fáceis, ao contrário do que muitas vezes se tentou
fazer crer”. E é sobretudo nas negociações com a troika que o primeiro-ministro
e o ministro das Finanças se baseiam para travar as intenções de alterar em
demasia o Orçamento. Depois do aviso deixado por Gaspar aos deputados do CDS e
do PSD de que as propostas teriam de ser “fundamentadas” e validadas pela
troika, Passos reafirmou ontem a dificuldade do que foi a negociação da quinta
avaliação do Memorando. A quinta avaliação “foi particularmente difícil”,
disse.
O comunicado de
Portas teve, aparentemente, o efeito de tranquilizar os bastidores. No CDS o
dia foi de aceitar a realidade e voltar à narrativa de culpar o passado pelo
estado das coisas – o discurso assegurado pelo líder parlamentar Nuno Magalhães
na intervenção no parlamento ontem, mas também do ministro da Economia Álvaro
Santos Pereira, que disse ontem que o actual executivo e os portugueses “estão
a pagar a factura da festa socialista”.
Já no PSD o
comunicado de Portas foi bem recebido. “Acho muito bem. Não creio que vá haver
problemas na coligação”, diz ao i o vice-presidente do partido Pedro Pinto.
Depois da tensão nos últimos dias, a ideia é apaziguar a crispação pública
entre os dois partidos, até porque nas próximas semanas o OE vai ser discutido
na Assembleia da República e PSD e CDS vão conversar para apresentar propostas
de alteração “tendencialmente” em conjunto.
Caso não cheguem a
acordo, poderão apresentar separadamente, mas sempre depois de falarem,
assegurou o líder da bancada centrista. Pedro Pinto desdramatiza as diferenças
de opinião entre os dois partidos: “É absolutamente natural que haja pessoas,
tanto no PSD como no CDS, que tenham posições diferentes ao abordar a mesma
questão. O que é importante é a expressão maioritária, em ambos os partidos.”
Se na maioria o dia
foi de paz aparente entre os dois partidos, a oposição aproveitou a fractura.
Carlos Zorrinho, líder parlamentar do PS, disse que o conteúdo e o facto de
Portas ter de fazer um comunicado mostra o estado da coligação. “Se houver uma
crise política é da sua exclusiva responsabilidade. O que é importante é que a
coligação cumpra o seu papel e governe o país”, disse.
Jorge Cordeiro, do
PCP, disse que a posição de Portas mais não foi que uma “manobra para disfarçar
o que não é disfarçável”. Já João Semedo, do Bloco de Esquerda, sintetizou as
críticas: “Na realidade, o CDS pretende estar no governo e ao mesmo tempo dá-se
a ares de oposição.”
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