Lusa, publicado por
Ricardo Simões Ferreira – Diário de Notícias - Ontem
Pedro Marques,
enfermeiro português de 22 anos, emigra quinta-feira de madrugada para o Reino
Unido, mas antes despediu-se, por carta, do Presidente da República e pediu-lhe
para não criar "um imposto" sobre as lágrimas e sobre a saudade.
"Quero
despedir-me de si", lê-se na missiva do enfermeiro portuense, enviada hoje
a Cavaco Silva e que tem como título "Carta de despedida à Presidência da
República".
O enfermeiro Pedro
Marques, que diz sentir-se "expulso" do seu próprio país, implora a
Cavaco Silva para que não crie um "imposto sobre as lágrimas e muito menos
sobre a saudade" e apela ao Presidente da República para que permita poder
regressar um dia a Portugal.
"Permita-me
chorar, odiar este país por minutos que sejam, por não me permitir viver no meu
país, trabalhar no meu país, envelhecer no meu país. Permita-me sentir falta do
cheiro a mar, do sol, da comida, dos campos da minha aldeia", lê-se.
Em entrevista à
Lusa, Pedro Marques conta que vai ser enfermeiro num hospital público de
Northampton, a 100 quilómetros de Londres, que vai ganhar cerca de 2000 euros
por mês com condições de progressão na carreira, mas diz também que parte
triste por "abandonar Portugal" e a "família".
Na mala, Pedro vai
levar a bandeira de Portugal, ao pescoço leva um cachecol de Portugal e como
companhia leva mais 24 amigos que emigram no mesmo dia
Mónica Ascensão,
enfermeira de 21 anos, é uma das companheiras de Pedro na diáspora.
"Adoro o meu
país, mas tenho de emigrar, porque não tenho outra hipótese, porque quero a
minha independência, quero voar sozinha", conta Mónica, emocionada,
pedindo ao Presidente da República e aos governantes de Portugal para que
"se preocupem um pouco mais com a geração que está agora a começar a
trabalhar".
"Adoraria
retribuir ao meu país tudo aquilo que o país deu de bom", diz,
acrescentando que está "zangada" com os governantes, porque o
"país não a quer mais".
Pedro Marques não
pretende que o Presidente da República lhe responda.
"Sei que ser
político obriga a ser politicamente correto, que me desejará boa sorte,
felicidades. Prefiro ouvir isso de quem o diz com uma lágrima no coração, com o
desejo ardente de que de facto essa sorte exista no meu caminho", lê-se na
carta de despedida do filho de uma família de emigrantes que se quis despedir
de Cavaco Silva.
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