Daniel Oliveira –
Expresso, opinião, em Blogues
Entre as
barbaridades que vão saindo de São Bento, há uma especialmente perturbante: a
redução do subsídio de desemprego mínimo para 377 euros para beneficiários com
agregado familiar e 300 euros para benificiários isolados. A medida afecta 150
mil desempregados. Isto sabendo que cerca de 300 mil desempregados inscritos
nos centros de emprego não recebem qualquer prestação social. Junte-se os que
já nem se inscrevem e percebemos a dimensão da catástrofe social: cerca de dois
terços dos desempregados reais não têm meios de subsistência.
A aproximação do
subsídio de desemprego ao salário mínimo nacional tem um sentido: a de que é, para
uma família em idade ativa, virtualmente impossível viver com menos do que isso.
Para defendermos a redução do subsídio mínimo teríamos de aceitar que os
desempregados são merecedores de menor dignidade do que os restantes cidadãos.
Sejamos claros:
esta redução de 10% num subsídio já miserável é a fronteira entra a pobreza
extrema e a indigência. Como disse Fernando Alves, na TSF, "não revela
apenas insensibilidade social, mas desprezo pelos mais desamparados".
E esta é a pedra de
toque deste governo: um desprezo absoluto pelos mais pobres. Na realidade, é um
desprezo que, nos últimos anos, fez o seu caminho em grande parte da sociedade.
Generalizou-se em relação aos beneficiários do Rendimento Social de Inserção -
que já poucos políticos ou comentadores se atrevem a defender - e em relação
aos desempregados, espalhando-se a ideia de que se tratam de preguiçosos. Este racismo
social tem uma função política poderosa: isolar os mais pobres para, com mais
facilidade, atacar o Estado Social. Começam-se nas prestações sociais mais
impopulares para, a partir daí, ir às seguintes. Depois do RSI, o subsídio de
desemprego. Depois do subsídio de desemprego, as reformas. No fim, claro, o
grande objetivo: os salários. Tal como as reformas e o subsídio de desemprego,
para o qual os trabalhadores descontaram na sua vida de trabalho, o salário já
quase é visto como uma esmola e não como um direito.
Surge, em cada vez
mais gente, a ideia de que quem recebe o subsídio de desemprego se deve dedicar
a limpar matas e a trabalhar à borla para o Estado. A defesa deste princípio
ignora que o dinheiro deste subsídio é dos trabalhadores. Foram eles que o
deram ao Estado para, num momento difícil, não ficarem sem nada. Ou seja, vão
trabalhar duas vezes para receber o mesmo. Esta ideia de a ao subsídio deve
corresponder um serviço para o Estado cumpre três funções: passar a tratar o
subsidio de desemprego como uma esmola, retirar a sua função reguladora
(impedindo, com o aumento dos desempregados, uma queda acentuadíssima dos
salários), criar condições para que eles sejam um indicador do que deve ser o
salário praticado e passar a ideia de que quem recebe o subsídio só está
desempregado porque quer.
Sim, é verdade que
estamos a assistir a um ataque sem precedentes à classe média. Mas seria bom
não nos fecharmos no nosso pequeno cantinho. O ataque aos mais pobres é ainda
mais brutal. Porque, neste caso, estamos a falar da sua própria sobrevivência
física. Basta fazer este esforço: imaginar o que é alimentar, vestir e garantir
casa uma família com 377 euros, todos os meses. E, no meio, ainda ter recursos
para conseguir procurar emprego. É condenar cada vez mais gente a um ciclo
interminável de pobreza. E assim aumentar o exército de reserva que substitui,
a qualquer preço e em quaisquer condições, os trabalhadores no ativo.
Depois de acabar
esta crónica, o governo recuou na medida. Mais uma vez, o truque do costume:
avança-se com o inaceitável. Provando-se escandaloso, recua-se e propõe-se
outra coisa, só um bocadinho menos pornográfica. Que, por comparação, pareça
civilizada. Chama-se a isto brincar com as pessoas. Começa a ficar repetitivo.
1 comentário:
Aqui, o administrador do site Natural News, explica o porquê de tudo isto estar a acontecer:
http://marecinza.blogspot.pt/2012/10/genopocalypse-o-exterminio-global.html
Trata-se de genocídio a nível global e sem segredos.
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