domingo, 21 de outubro de 2012

Portugal: O ORÇAMENTO DA BARBÁRIE

 


Tiago Mota Saraiva – i online, opinião
 
“Permita-me chorar, odiar este país por minutos que seja, por não me permitir viver no meu país, trabalhar no meu país, envelhecer no meu país. Permita-me sentir falta do cheiro a mar, do sol, da comida, dos campos da minha aldeia.” Segundo o jornal “Público”, este é um parágrafo da carta que Pedro Marques, enfermeiro de 22 anos, dirigiu ao Presidente da República antes de emigrar para o Reino Unido na passada quinta-feira.
 
Provavelmente, Cavaco Silva não encontrará tempo para lhe responder, ocupado a escolher o governo que se segue – um “governo tecnocrata” que lhe dê garantias de que os privilegiados mantêm as suas rendas e que a conta do BPN não lhe chega a si e aos seus. Portugal tem de definhar, para que governo e Presidente passem incólumes à crise e à justiça.
 
O pagamento da dívida transformou-se num dogma que nos conduz à barbárie. E não é apenas esta nova mala de cartão dos mais qualificados. Na semana passada, a directora de uma escola de Loulé achou-se no direito de impedir de almoçar uma criança de cinco anos porque os pais não pagaram a conta (prática que parece não suceder apenas nessa escola).
 
O Orçamento do Estado de 2013 radicaliza a barbárie e acelera a destruição do país. É uma declaração de guerra. Ao mesmo tempo que não falta dinheiro aos beneficiários das PPP, dos juros da dívida ou da banca, corta 20% nas despesas de saúde e inviabiliza qualquer esforço de aumento de produção ou crescimento económico. A receita é simples: para que uns se safem a maioria tem de desaparecer.
 
É chegado o momento de escolher entre a civilização e a barbárie. O pagamento da dívida não se pode sobrepor ao direito à saúde, à habitação ou à alimentação. Que se lixe a troika, que se lixe o euro, que se lixe a UE, se este Orçamento é inevitável. Que se lixem todos os que nos querem condenar à barbárie.
 
Escreve ao sábado
 

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