Tiago Mota Saraiva –
i online, opinião
“Permita-me chorar, odiar este país por
minutos que seja, por não me permitir viver no meu país, trabalhar no meu país,
envelhecer no meu país. Permita-me sentir falta do cheiro a mar, do sol, da
comida, dos campos da minha aldeia.” Segundo o jornal “Público”, este é um
parágrafo da carta que Pedro Marques, enfermeiro de 22 anos, dirigiu ao
Presidente da República antes de emigrar para o Reino Unido na passada
quinta-feira.
Provavelmente,
Cavaco Silva não encontrará tempo para lhe responder, ocupado a escolher o
governo que se segue – um “governo tecnocrata” que lhe dê garantias de que os
privilegiados mantêm as suas rendas e que a conta do BPN não lhe chega a si e
aos seus. Portugal tem de definhar, para que governo e Presidente passem
incólumes à crise e à justiça.
O pagamento da
dívida transformou-se num dogma que nos conduz à barbárie. E não é apenas esta
nova mala de cartão dos mais qualificados. Na semana passada, a directora de
uma escola de Loulé achou-se no direito de impedir de almoçar uma criança de
cinco anos porque os pais não pagaram a conta (prática que parece não suceder
apenas nessa escola).
O Orçamento do
Estado de 2013 radicaliza a barbárie e acelera a destruição do país. É uma
declaração de guerra. Ao mesmo tempo que não falta dinheiro aos beneficiários
das PPP, dos juros da dívida ou da banca, corta 20% nas despesas de saúde e
inviabiliza qualquer esforço de aumento de produção ou crescimento económico. A
receita é simples: para que uns se safem a maioria tem de desaparecer.
É chegado o momento
de escolher entre a civilização e a barbárie. O pagamento da dívida não se pode
sobrepor ao direito à saúde, à habitação ou à alimentação. Que se lixe a
troika, que se lixe o euro, que se lixe a UE, se este Orçamento é inevitável.
Que se lixem todos os que nos querem condenar à barbárie.
Escreve ao sábado
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