Paulo Baldaia – Diário de Notícias, opinião
Isto está tudo
'lixado'. Cumprimentar alguém com a costumeira pergunta "Está tudo
bem?" resulta, por estes dias, numa resposta também ela trivial:
"Vamos vivendo um dia de cada vez." Estar 'vivo' passou a ser um
privilégio. Ter sucesso hoje é ter sido capaz de mudar de vida. Regressar ao
campo e ao domínio do tempo passou a ser mais importante que a migração para as
grandes cidades à conquista de bons ordenados. A alternativa é ter sucesso no estrangeiro.
Por cá, ocupamos o
tempo a dizer mal da vida como se fôssemos velhos a queixar-se do reumatismo.
Já poucos acreditam nas suas próprias capacidades, quanto mais na capacidade
dos que têm a tarefa de nos liderar. D. Sebastião deve estar a dar voltas no
túmulo. Nem com sol, nem com nevoeiro. O nosso Salvador já não tem nome
português. Políticos de alto gabarito, analistas de toda a espécie e povo em
geral perguntam: "Onde está o nosso Monti?"
Olham para o caso
italiano e suspiram pela intervenção de Cavaco Silva. Começa a formar-se um
consenso à volta da necessidade de ter no poder uma outra estirpe de políticos.
E disparam-se nomes: Carlos Costa, António Vitorino, Rui Rio, António Costa,
Eduar- do Catroga, Luís Amado, Paulo Macedo... Há mais nomes a circular, mas eu
ficava-me por aqui porque com estes já me parece possível fazer um Conselho de
Ministros de Salvação Nacional. Com a vantagem de qualquer um deles poder ser o
primeiro.
Parafraseando o
ministro das Finanças, é chegado o momento de os melhores retribuírem ao País o
que o País lhes deu. Nós até somos bem melhores do que pensamos, não temos um,
temos vários Monti. O que lhes pedimos é que humildemente façam o que puderem
para garantir o futuro de um país que, neste momento, anda perdido em querelas
políticas.
Vivemos com medo de
uma crise política e este medo revela inteligência, porque precisamos de
estabilidade para fazer o caminho duro que temos de fazer. Acontece que a crise
política não está para chegar, já chegou. A desconfiança instalou-se dentro da
coligação. E, se eles não confiam uns nos outros, como querem que o povo confie
neles? O jogo das culpas já começou e não vai parar. O Governo vai acabar por
cair. A pergunta de um milhão de euros é: "Em que dia?"
Aos partidos, se
prezam a Democracia que os sustenta, o que se exige é que sejam capazes de
interpretar a angústia do povo. Façam hibernar os interesses egoístas dos
vossos militantes, avivem o interesse colectivo e mostrem disponibilidade para
salvar Portugal. Quem se julga capaz de andar de cabeça erguida cruzando com um
povo cabisbaixo não entende nada do que é a vida. Só se deve respeito a quem
sabe respeitar todos os outros.
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