New
Eastern Europe, Cracóvia – Presseurop – imagem Tyunin
As eleições
legislativas de 28 de outubro devem confirmar o poder do presidente Yanukovych
e a necessidade de renovar o que resta da Revolução Laranja. Mas a longo prazo,
a crise duradoura do país levará à normalidade, defende um jornalista
ucraniano.
O mundo
pós-soviético, construído com tantos sacrifícios, está agora a colapsar. Assim
como o seu colapso, o destino da Ucrânia repousa no equilíbrio. Muitos
representantes políticos da Ucrânia, meios de comunicação social e a elite dos
negócios preparam-se para uma longa vida de clandestinidade. Que mais podem
fazer? Após dois anos no poder, o Presidente Viktor Yanukovych apoderou-se
praticamente de todo o poder no país. O que este fez, juntamente com outros
políticos do Partido das Regiões, só pode ser classificado como um simples
Golpe de Estado.
Ao alterar a
Constituição restaurou velhos privilégios para a instituição do Presidente,
que, curiosamente, é a função que desempenha. Este marginalizou o papel do
Governo, do parlamento e do sistema jurídico, subordinou o setor da defesa e
calou o povo e a oposição.
Neste momento, na
Ucrânia está a nascer algo que se assemelha ao regime de Alexander Lukashenko
na Bielorrússia. Existe apenas uma diferença: foram precisos vários anos para
Lukashenko se tornar um ditador, enquanto Yanukovych se tornou um ao explorar
os direitos que possui como Presidente, algo que ocorreu perante a completa
indiferença da sociedade ucraniana.
Tudo isto, uma vez
mais, confirma a tese dos analistas que afirmaram abertamente que a Revolução
Laranja de 2004 não foi uma aspiração da sociedade ucraniana à democracia, mas
à riqueza. Durante a “revolução”, um populista irresponsável, Viktor
Yushchenko, tornou-se o ídolo de milhões de ucranianos por um curto período de
tempo.
As pessoas que votaram
em Yushchenko não estavam a expressar o seu apoio à liberdade, mas à
prosperidade. A ideia era simples: uma vez que Yushchenko nos pode pagar a
tempo, também pode trazer prosperidade à Ucrânia. Atualmente, o desapontamento,
sentido há anos por quem votou em Yushchenko, está a ser sentido pelo
eleitorado pobre, marginalizado e desprivilegiado de Yanukovych.
Estados consumistas
Por que haveríamos
de comparar Yanukovych ao Presidente da Bielorrússia? As analogias estão lá,
mas as conclusões serão diferentes. Lukashenko governa a Bielorrússia há 18
anos, enquanto o seu gémeo “ucraniano” não irá provavelmente ficar no poder
durante tanto tempo. Antes de mais, a ditadura bielorrussa é de natureza muito
consumista, o que significa que o regime não percebe o que são reformas
económicas.
A maioria dos bens
é, obviamente, financiada com dinheiro russo. Quando o Kremlin decidir deixar
de financiar o seu irmão mais novo, a sociedade bielorrussa irá experienciar a
verdadeira pobreza. E a pobreza levará ao colapso do sistema. Lukashenko
acabará por ser afastado pelos que fazem parte do seu círculo mais próximo ou
entregue, pelos mesmos, à justiça.
A Ucrânia é
diferente da Bielorrússia, na medida em que sempre se sustentou a si mesma. É
verdade que temos tido acesso a gás natural barato, algo que nos foi concedido
por Leonid Kuchma, quando chegou a acordo com o antigo líder russo, Boris
Ieltsin. Mas esta política terminou definitivamente. Moscovo não ajudará Kiev
da mesma forma que tem vindo a ajudar Minsk. Não pode, nem quer fazê-lo.
Em pleno
desmoronamento do mundo pós-soviético, Kiev está em apuros, assim como qualquer
outro Estado pós-soviético. Estes podem ser considerados países consumistas mas
apenas pelo facto das suas elites e sociedades continuarem a utilizar recursos
e meios soviéticos. Existem, obviamente, países – como a Geórgia – onde os
recursos foram esgotados; o Governo em Tbilissi viu-se obrigado a dar mais
liberdade aos pequenos negócios e a lutar contra a corrupção.
A Ucrânia será um
país relativamente normal
Mas há também
países que possuem muitos recursos naturais, nomeadamente a Ucrânia e a Rússia.
No entanto, o seu fim está à vista e será trágico. Yanukovych foi simplesmente
eleito tarde. Se este tivesse sido presidente da Ucrânia em 1994 (em vez de
Kuchma), ainda hoje continuaria a governar o país, fazendo com que nos
questionássemos sobre quando acabaria este pesadelo de 18 anos. Mesmo se
Yanukovych chegasse mais tarde ao poder, talvez em 2004, este ainda teria
usufruído de alguns anos na liderança de um regime completamente autoritário;
isto é, até à chegada da crise económica.
E, curiosamente,
foi esta mesma crise económica que levou Yanukovych ao poder, sendo que o seu
regime não corre qualquer risco. No entanto, o colapso económico está próximo e
requer diálogo e confiança. Não se deve, portanto, reprimir nem roubar o que
resta no país. Yanukovych não se insere de todo na última categoria.
No final do mandato
de Yanukovych surgirá outro problema. O paternalismo continua muito embrenhado
na sociedade ucraniana que, além de não ter sentido de obrigação cívica, ainda
não está preparada para enfrentar desafios mais sérios. O rosto desta nova era
poderá ser Yulia Tymoshenko ou alguém como ela, que promoverá talvez a criação
de um clima político onde os debates em torno das reformas passarão a ser
possíveis. Estas reformas serão da responsabilidade de uma nova geração de
políticos e economistas, mas não deixaram de ser submetidas a um processo
exaustivo.
Entre o colapso do
regime autoritário e as primeiras reformas, deveremos ter que esperar, pelo
menos, entre quatro a sete anos. E as próprias reformas demorarão entre três a
cinco anos a ser implementadas. As contas são simples: dentro de quinze anos,
ou até talvez oito, a Ucrânia será um país relativamente normal. Só nesse
momento se assemelhará à Polónia dos dias de hoje.
Este artigo foi
publicado na edição de outubro-dezembro do New Eastern
Europe.
Visto de Kiev
Campanha marcada
por “uma ausência total de ideias”
“Não se pode dizer
que a campanha que terminou tenha sido interessante. Mas, pelo menos, foi
instrutiva”, escreve Serhy
Rakhmanine no Dzerkalo Tyinia: “parecia que estávamos a assistir a um
concurso onde o dinheiro e a facilidade eram reis e senhores”. No entanto,
sublinha o semanário, esta campanha ficou marcada por uma “ausência total de
ideias” dos partidos concorrentes e pela “ausência percetível” de Yulia
Timochenko, a opositora presa desde 2011 por abuso de poder. E por fraude,
acrescenta o semanário de Kiev:
O Governo não
hesita em apoiar-se nos tribunais, os únicos habilitados a demonstrar o recurso
à corrupção ou a métodos escandalosos, como a remoção ilegal de painéis de
publicidade (por vezes em presença das forças da ordem). Os candidatos da
oposição tentaram, em vão, apelar para a justiça e denunciar a recusa das
autoridades locais para distribuírem o material de campanha ou facilitarem a
organização de comícios. Como é hábito, a televisão nacional abriu amplamente
os seus canais ao Partido das Regiões, o partido do Presidente Viktor
Yanukovych, que ficou com a parte de leão na presença em canais oficiais, ou
seja, 43,3% do tempo de antena.
No fim de tudo
isto, não sei quem ganhará nem que consequências terão estas eleições. O que é
certo, pelo contrário, é que a mentira e a indiferença já ganharam. […] O que
esperam os líderes dos países ocidentais, que se abstêm diplomaticamente de se
pronunciar sobre a nossa campanha eleitoral, preferindo esperar pelo resultado?
De que é que precisam? De milhares de observadores?
Sem comentários:
Enviar um comentário