Daniel Oliveira –
Expresso, opinião, em Blogues
O governo propôs
mais meia hora de trabalho diário. As reações foram violentas perante tamanho
incentivo ao desemprego. O governo recuou nessa para a UGT ter um argumento
para assinar um acordo inaceitável para qualquer sindicalista.
O governo avançou
com a concessão de um canal da RTP com o Estado a pagar. As reações foram de
espanto por tão estapafúrdia ideia. O governo recuou para poder continuar a
defender a privatização.
O governo avançou
com a redução em 10% no subsídio de desemprego mínimo. As reações foram de
indignação perante tamanha insensibilidade social. O governo recuou para vir
seguramente a propor uma outra qualquer patifaria que pareça um pequeno menos
grave.
A estratégia é
sempre a mesma: propor uma brutalidade para a tareia que vem depois até parecer
uma coisa mais ou menos decente. Resultou à primeira, resultou à segunda, não
resulta, porque não somos todos idiotas, à terceira.
O único recuo sincero
deste governo foi na TSU. Aí, a rua foi demasiado forte. E, mesmo neste caso,
os impostos vieram com tal violência que já ninguém se lembra que para além de
roubar os salários ainda queria pôr os trabalhadores a financiarem as suas
próprias empresas. Fora este caso, estes recuos são apenas jogos de sombras.
O problema é que o
governo anda a brincar com coisas sérias. Com a vida, o dinheiro e a ansiedade
das pessoas. Por isso, em vez dos avanços e recuos resultarem num benefício
para a sua estratégia, este jogo funciona contra o governo. Em vez de conseguir
amenizar o que vem depois, apenas aumenta a impaciência dos portugueses.
Consegue, em simultâneo, exibir a sua brutalidade social e a sua desorientação.
Este foi apenas
mais um episódio na triste vida de um governo desgovernado. Que, em
apodrecimento acelerado, já só consegue repetir uma truque gasto. Já não
resulta. Alguém que os avise.
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