domingo, 18 de novembro de 2012

A “EUROMANIFESTAÇÃO” E A GRANDE CRISE DAS ALTERNATIVAS

 


Benjamim Formigo – Jornal de Angola, opinião, em Horizontes - hoje

A Europa do euro conheceu esta semana um fenómeno tão novo quanto inevitável desde que o neoliberalismo se apoderou da política europeia e os interesses financeiros passaram a comandar a política: a horizontalização do protesto e da resistência.

Ao contrário do que por vezes se escreve não existe uma crise portuguesa, grega, irlandesa, espanhola ou ”chinamarquesa”, existe sim uma crise das dívidas soberanas da euro zona que se definia desde o final da década de 90 do século passado.

A deslocalização das indústrias para exploração de mão-de-obra barata, a desregulamentação do sistema financeiro entregue, como tudo o mais, aos sacrossantos mercados, arrastaram para a Europa uma crise de que não se vislumbra saída. Pelo contrário só se pode esperar que mais países sejam arrastados para o buraco negro do défice.

Sindicatos e centrais sindicais face ao acentuado desemprego – equivalente à população de mais um Estado na União Europeia – não conseguiram oferecer mais do que greves gerais ou cedências na tentativa de evitarem o que consideram “males maiores”. O desemprego é uma situação horizontal a que estruturas verticais dos sindicatos não dão resposta.

O agravamento da crise na Europa e a falta de respostas políticas levou ao recurso às redes sociais para a convocação de manifestações à margem dos sindicatos. Manifestações que tal como a crise são transversais às sociedades e conseguiam chamar às ruas mais pessoas que os sindicatos conseguiam mobilizar para as greves gerais.

Esta semana várias centrais sindicais europeias, com especial destaque para os países em dificuldades, mas incluindo a França e até a Alemanha, em menor grau, procuraram manter o terreno que estavam a perder para os movimentos espontâneos desenvolvidos através de redes sociais. Se a saída à rua de um milhão de pessoas – só em Portugal – na “manif” independente de há cerca de um mês foi notável (já havia ocorrido noutros países), a greve geral pan-europeia ultrapassou as expectativas. Mobilizou não apenas trabalhadores de países sob programas do FMI, BCE e Comissão Europeia, mas também os que como a Espanha – a quarta economia europeia – e Itália estão sob ameaça e até a França ou a Bélgica e em menor grau a Alemanha. A greve foi transversal às opções políticas. A tudo isto os Governos europeus, excepção do francês, responderam apenas com mais do mesmo. “Não há alternativa, este é o único caminho”, sustentam os governantes ignorando as manifestações de quem os elegeu. Ora, quando Christine Lagarde, DG do FMI, fala na necessidade de promover o desenvolvimento – o que passa necessariamente pelo investimento, incluindo do Estado – os governantes da crise continuam na senda da austeridade.

A pergunta é legítima: afinal qual é a posição do FMI? A da sua Directora Geral que coloca dúvidas à austeridade ou dos tecno-burocratas que avaliam os países? Se os governantes dizem que não há alternativas e a austeridade é o único caminho então quais foram as alternativas analisadas antes da solução final? Como é legítimo interrogar se os decisores da austeridade e consequente recessão europeia analisaram as consequências negativas nas economias dos países emergentes? Nos países que fornecem à UE as matérias-primas e necessitam dessas receitas para continuarem o seu desenvolvimento e abandonarem a sua condição terceiro-mundista.

Por fim, e não menos importante, quais vão ser as consequências desta austeridade – e consequente desemprego, quebra de consumo e de receitas do Estado – na Alemanha e outros países do Norte tão lestos nas suas críticas ao Sul. Claro que não vão ficar imunes. Se saírem do euro as suas moedas nacionais vão ficar de tal modo sobrevalorizadas face ao dólar que as exportações, de que vivem, cairão a pique; se forem os outros a abandonar o euro a moeda europeia sobrevalorizará e o resultado será o mesmo. Claro que no final destas alternativas, dramáticas, está sempre o prejuízo às economias emergentes.

Talvez a União Europeia, para salvaguardar a sua economia e a global, tenha de adoptar medidas regulamentadoras como os Estados Unidos fazem, reanalisar as alternativas não neoliberais, ou ir mais além mesmo e, no limite, reconhecerem que a soberania dos seus Estados membros, muito relativa, deva ser cedida a uma Federação semelhante aos EUA, onde nenhum Estado possa dominar os outros, razão primeira do embrião que hoje é a UE.

O resto do Mundo agradece.

Sem comentários:

Mais lidas da semana