Eugénio Costa
Almeida* – Pululu*
A liberdade de cada
um acaba onde começa a liberdade do outro, mas a liberdade e um Povo expira
onde a liberdade de comunicação é suspensa por motivos que não se enquadram no
panorama democrático de um País.
Soube-se, no
decorrer desta semana que um órgão de informação nacional teve um percalço na
saída e terá sido impedido de percorrer as estradas nacionais de leitura porque
incluiria no seu interior uma peça jornalística que teria criado um problema
viral às pessoas que gerem o respectivo órgão informativo.
De acordo com
algumas vozes, a que o Sindicato dos Jornalistas terá feito eco, tudo poderá
haver estado baseado nas “palavras à Nação” de Samakuva, líder da UNITA – numa
réplica ao “Estado da Nação” do presidente dos Santos –, numa atitude que se
louva por ser o líder da Oposição e por mostrar que quer participar no
desenvolvimento do País.
Pessoalmente, ainda
não houve a oportunidade de ler, na íntegra, a mensagem de Samakuva, apesar de
ter a mesma em meu poder e do citado órgão, parece – o parece, hoje em dia,
está muito em voga, porque nada e é tudo parece – que acabou por aparecer nas
bancas, tardiamente, e com a referia comunicação encolhida.
A ser verdade esta
eventual atitude, deram mostras de não respeitar a liberdade de cada um. A
liberdade de quem escreveu, a liberdade de quem produziu e, mais grave ainda
porque a condiciona, a liberdade de escolha do leitor.
Porque os jornais,
a comunicação social, só existe porque há leitores, ouvintes e telespectadores
que lêem, ouve, ou vêem as notícias e as opiniões emitidas para,
posteriormente, terem a liberdade de as apreciar, citar ou questionar e criticar
as mesmas e delas tirarem as ilações possíveis.
Há uma coisa que
muita gente ainda hoje parece esquecer. Os órgãos de informação têm directores
e editores que apreciam, previamente, as matérias jornalísticas e de opinião
que se lhes deparam antes das publicações. E que os mesmos têm toda a liberdade
de, naturalmente e sempre que assim se justificar, mesmo que não seja esse o
entendimento do “produtor”, não publicar a matéria.
Se ela foi
publicada, como parece ter sido o caso, deveu-se ao facto dos principais
responsáveis assim o terem entendido para que a tal liberdade do leitor nunca
venha a ser condicionada e a verdade de cada um seja dilatada a todos; e que
todos, depois, a escalpelizem e saibam peneirar a fundamental essência da
matéria.
Ora a ser verdade o
que acusam as páginas sociais e o Sindicato dos Jornalistas, embora citando
terceiros, houve uma inequívoca violação à Liberdade de expressão por parte de
quem não deveria ter feito com a agravante desse sacrilégio se reflectir em
terceiros que, no mais certo, nada têm a ver com a situação e não desejariam
que tivesse acontecido.
E esse “terceiro” é
o Presidente da República, Eduardo dos Santos que viu a sua liberdade de não
falar na Assembleia Nacional ser posta em causa com esta absurda e estranha protecção
feita com a censura às palavras de Samakuva.
Uma censura que se
reflecte, ainda que talvez assim o não pensassem os autores da dita censura, no
presidente da República. Recordemos que a oposição criticou a liberdade de dos
Santos, enquanto presidente da República e não presidente da Assembleia
Nacional, de não falar no acto oficial da abertura. Uma liberdade que se deve
respeitar.
Porque se a ideia
era abafar ou amortecer algum impacto das palavras do líder da oposição,
Samakuva, acabaram por, naturalmente, ter um efeito maior e mais abrangente. A
busca de informação é cada vez mais um acto natural nas novas populações, já de
si mais intelectualmente evoluídas e, por esse facto, mais preparadas para
analisarem e crivarem as notícias e análises emitidas.
É a Liberdade de
cada um em simplificar a Liberdade de todos que ninguém ouse conseguir impedir.
E quem assim o
tentar ou pensar, dificilmente poderá evoluir e será, irremediavelmente,
deixado para trás.
Até porque, não
esqueçamos, acabamos de entrar no mês da nossa Liberdade!
©Artigo de Opinião
publicado no semanário angolano Novo Jornal, secção “1º Caderno” ed. 250, de
2-Novembro-2012, pág. 21
Relacionado
* Página de um
lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais
e Doutorado em
Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele
poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a
actividade académica, social e associativa.
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