Rosa Ramos – Jornal i
Detenções
cirúrgicas durante manifestações pacíficas são consideradas procedimento
arriscado
Mesmo que o Corpo
de Intervenção (CI) da PSP tivesse cercado quem arremessou pedras e outros
objectos à polícia durante a última manifestação frente ao parlamento,
dificilmente os manifestantes teriam sido detidos. Isto porque, contaram ao i
fontes policiais, o Comando Metropolitano da PSP de Lisboa – que estava a
coordenar as operações – ordenou a retirada das brigadas à paisana do meio da
multidão logo depois de o secretário--geral da CGTP, Arménio Carlos, abandonar
o protesto, pouco depois das 17h.
Na base desta
decisão do comandante terão estado razões “estratégicas” e de “segurança”. Os
agentes à paisana – a maioria pertencentes à Divisão de Investigação Criminal
(DIC) da PSP – deixaram o epicentro da manifestação e foram depois colocados,
estrategicamente, em zonas periféricas do protesto – continuando, no entanto, a
passar informação ao comando. Por não estarem no meio da multidão, seria mais
fácil aos polícias à paisana, explicam as mesmas fontes, “cooperar, caso fosse
necessário, numa eventual intervenção”.
Os ânimos
exaltaram-se, no último protesto junto à Assembleia da República, a 14 de
Novembro, depois de terminada a manifestação da CGTP, em dia de greve geral. Os
manifestantes derrubaram as barreiras de protecção colocadas junto à escadaria
e arremessaram, durante duas horas, pedras e outros objectos, como balões com
tinta, aos polícias do Corpo de Intervenção.
O “Correio da
Manhã” escreveu ontem que as brigadas da PSP infiltradas entre os manifestantes
terão esperado, em vão, que o CI cercasse os agressores – o que permitiria aos
agentes à paisana da investigação criminal fazer detenções “cirúrgicas”. Fontes
ouvidas pelo jornal explicam que o treino policial para intervenção em
conflitos urbanos pressupõe que o CI, ao ser apedrejado pelos manifestantes, os
tivesse cercado em poucos minutos. Esta acção daria segurança aos agentes à
paisana para efectuar as detenções. Contudo, a manobra táctica não terá
avançado por decisão do Comando de Lisboa – o que terá gerado “desconforto”
entre as chefias da polícia.
No entanto, fonte
da PSP explicou ao i que além de os agentes à paisana já não se encontrarem no
meio da multidão no momento em que os apedrejamentos começaram, deter os
manifestantes antes da carga policial poderia ter sido uma decisão demasiado
arriscada. “Qualquer detenção no meio de uma manifestação e naquelas
circunstâncias, em que a maioria dos manifestantes são pacíficos, é um procedimento
perigoso”, conta um membro do CI. “Nas manifestações, tal como acontece nas
claques de futebol, uma simples detenção pode originar uma situação de enorme
instabilidade e as pessoas que até aí protestavam pacificamente podem sentir-se
tentadas a agir de forma agressiva, em solidariedade com quem é detido”,
acrescenta a mesma fonte. “Partir para a detenção teria obrigado, certamente, à
mesma intervenção por parte do CI, ou mesmo a uma intervenção muito pior”,
garante outra fonte da PSP.
Para justificar a
decisão, a mesma fonte usa como exemplo o que terá acontecido numa das últimas
manifestações em Espanha. A
confusão e a violência instalaram-se “devido a detenções que polícias infiltrados
fizeram avulso e no meio de outros manifestantes.”
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