segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Assim que Arménio Carlos saiu, os agentes infiltrados abandonaram a manifestação

 

Rosa Ramos – Jornal i
 
Detenções cirúrgicas durante manifestações pacíficas são consideradas procedimento arriscado
 
Mesmo que o Corpo de Intervenção (CI) da PSP tivesse cercado quem arremessou pedras e outros objectos à polícia durante a última manifestação frente ao parlamento, dificilmente os manifestantes teriam sido detidos. Isto porque, contaram ao i fontes policiais, o Comando Metropolitano da PSP de Lisboa – que estava a coordenar as operações – ordenou a retirada das brigadas à paisana do meio da multidão logo depois de o secretário--geral da CGTP, Arménio Carlos, abandonar o protesto, pouco depois das 17h.
 
Na base desta decisão do comandante terão estado razões “estratégicas” e de “segurança”. Os agentes à paisana – a maioria pertencentes à Divisão de Investigação Criminal (DIC) da PSP – deixaram o epicentro da manifestação e foram depois colocados, estrategicamente, em zonas periféricas do protesto – continuando, no entanto, a passar informação ao comando. Por não estarem no meio da multidão, seria mais fácil aos polícias à paisana, explicam as mesmas fontes, “cooperar, caso fosse necessário, numa eventual intervenção”.
 
Os ânimos exaltaram-se, no último protesto junto à Assembleia da República, a 14 de Novembro, depois de terminada a manifestação da CGTP, em dia de greve geral. Os manifestantes derrubaram as barreiras de protecção colocadas junto à escadaria e arremessaram, durante duas horas, pedras e outros objectos, como balões com tinta, aos polícias do Corpo de Intervenção.
 
O “Correio da Manhã” escreveu ontem que as brigadas da PSP infiltradas entre os manifestantes terão esperado, em vão, que o CI cercasse os agressores – o que permitiria aos agentes à paisana da investigação criminal fazer detenções “cirúrgicas”. Fontes ouvidas pelo jornal explicam que o treino policial para intervenção em conflitos urbanos pressupõe que o CI, ao ser apedrejado pelos manifestantes, os tivesse cercado em poucos minutos. Esta acção daria segurança aos agentes à paisana para efectuar as detenções. Contudo, a manobra táctica não terá avançado por decisão do Comando de Lisboa – o que terá gerado “desconforto” entre as chefias da polícia.
 
No entanto, fonte da PSP explicou ao i que além de os agentes à paisana já não se encontrarem no meio da multidão no momento em que os apedrejamentos começaram, deter os manifestantes antes da carga policial poderia ter sido uma decisão demasiado arriscada. “Qualquer detenção no meio de uma manifestação e naquelas circunstâncias, em que a maioria dos manifestantes são pacíficos, é um procedimento perigoso”, conta um membro do CI. “Nas manifestações, tal como acontece nas claques de futebol, uma simples detenção pode originar uma situação de enorme instabilidade e as pessoas que até aí protestavam pacificamente podem sentir-se tentadas a agir de forma agressiva, em solidariedade com quem é detido”, acrescenta a mesma fonte. “Partir para a detenção teria obrigado, certamente, à mesma intervenção por parte do CI, ou mesmo a uma intervenção muito pior”, garante outra fonte da PSP.
 
Para justificar a decisão, a mesma fonte usa como exemplo o que terá acontecido numa das últimas manifestações em Espanha. A confusão e a violência instalaram-se “devido a detenções que polícias infiltrados fizeram avulso e no meio de outros manifestantes.”
 

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