Paulo Gaião –
Expresso, opinião, em Blogues
Em Roma, os guardas
do imperador tinham melhor soldo. Em Portugal, mesmo com o aperto da crise, as
forças de segurança são aumentadas de salário em mais de 10%. É impossível ver
este aumento desligado do papel de defesa da ordem que PSP e GNR têm
desempenhado nos últimos meses durante as manifestações populares de protesto
contra a austeridade.
PSP e GNR dizem que
são das mais mal pagas da Europa. É verdade. Mas o problema não é este. Portugal
é o segundo país da UE que mais gasta em Forças de Segurança (a seguir à
Eslováquia). São 2,4 do PIB quando a média europeia é de 1,8%.
E é o terceiro país
da UE com mais elementos das forças de segurança (PSP e GNR) por habitante.
Acima de nós, só a Espanha e o Chipre. Há 4,63 elementos de segurança por mil
pessoas. A média europeia é de 3,74.
Era necessário uma
reforma profunda do sector, que reduzisse estas forças à medida da realidade do
país (pagando-lhe depois melhores salários). Mas como o Governo tem medo de a
fazer na actual conjuntura, causando instabilidade na PSP e GNR, o resultado
traduz-se em mais gastos do Estado com estas forças de segurança. É certamente
uma política que os outros trabalhadores do sector público, alvo de cortes, não
entenderão. E que podem muito bem justificar protestos.
Há uma semana,
Mário Soares escrevia no Diário de Notícias sobre as manifestações de rua
contra a austeridade: "Nunca se viu nada de comparável, mesmo no
salazarismo. O desespero pode conduzir à violência, quando as Forças de
Segurança e as próprias Forças Armadas estão no mesmo comprimento de onda,
quanto ao descontentamento..."
Estão no mesmo
comprimento de onda? Não estão. Como se viu na carga à bastonada na
manifestação de 14 de Novembro à frente da Assembleia da República. E no zelo
com que perseguiram os jovens radicais até os deterem.
Nas esquadras, a
PSP impediu à margem da lei, os detidos de contactarem os seus advogados. Um
dos defensores, Vasco Marques Correia, presidente do Conselho Distrital de
Lisboa da Ordem dos Advogados, vai apresentar uma queixa pelas ilegalidades
praticadas e levantou mesmo a suspeita de os detidos terem sido agredidos por
polícias encapuzados.
A dúvida é legítima
e corrosiva dos pilares do Estado.
O empenhamento dos
polícias na defesa da legalidade, ao ponto de violarem garantias elementares
conferidas aos detidos, seria o mesmo sem os aumentos salariais? Seria o mesmo
se o governo fizesse uma reforma de alto a baixo nas forças de segurança?
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