sábado, 3 de novembro de 2012

Brasil: POR TRÁS DA GUERRA NAS RUAS DE SÃO PAULO

 


Bob Fernandes - de São Paulo – Correio do Brasil, opinião
 
Noventa e oito policiais militares assassinados em São Paulo neste ano. Só 5 deles mortos trabalhando. Quando a morte é fora do trabalho, a família não recebe benefícios. Neste ano, em todo o Estado, já foram assassinados mais de 3.330 cidadãos. Só na capital, até setembro, 919 homicídios.
 
Antonio Ferreira Pinto é o Secretário de Segurança. Numa dessas coletivas para a imprensa, há pouco tempo, ele disse que os assassinatos de PMs não tinham “nenhuma vinculação com a facção”. A “facção”, como diz o secretário sem citar o nome, é o PCC.
 
Não há quem não saiba que está em andamento uma guerra particular entre o PCC e a PM. Uma PM, pelo que se sabe, com divisões; digamos assim. Segundo oficiais com quem falei, teriam sido rompidos, de parte a parte, “códigos de conduta”.
 
Há quem negue a existência de tais códigos, mas eles existem: a polícia tem seus códigos não escritos e os criminosos também têm. E ambos têm um código em comum. Pela quantidade de mortos, é evidente que algum tipo de código, ou de acordo – ou de acordos – foi rompido.
 
Criminosos matam de um lado? Vem a resposta: alguns, quase sempre em motos, com munição de uso exclusivo de forças policiais, dão o troco e também matam. Fica no ar uma pergunta que talvez contenha a resposta: por que, nesta guerra nas ruas, apenas policiais militares, e não policiais civis, estão sendo mortos? É certo que a Inteligência do Estado tem informações sobre isso.
 
O secretário de Segurança nega, ou negava até outro dia, o que é óbvio. E, diante de câmeras e microfones atua como se fosse o Durango Kid. Enquanto o secretário atua, e nega o óbvio, vejam a ousadia dos ataques: um tenente trabalha na Casa Militar e na escolta do governador Geraldo Alckimin. As iniciais do seu nome são SCS. O tenente foi atacado; não no trabalho. Recebeu um tiro de raspão, no rosto, reagiu e matou o agressor.
 
O Major Olímpio, deputado estadual pelo PDT, em ato na Praça da Sé disse com todas as letras: “Policiais militares estão sendo dizimados e não adianta negar e dizer que é lenda. O PCC está matando policiais”.
 
O troco vem sendo dado nas ruas. Isso nunca funcionou. Nem no Velho Oeste, nem com as milícias no Rio de Janeiro, nem aqui, com os antigos e os novos esquadrões da morte. Isso só serve para produzir mais mortes, muitas vezes de inocentes. Serve também para eleger oportunistas, com discursos e práticas fascistóides.
 
Fato é que, antes de tomar posse, o governador Geraldo Alckimin pensou em substituir o Secretário Ferreira Pinto. Um importante emissário do governo sondou o jurista Walter Maierovitch. Walter, antes até de começar a conversar, impôs algumas condições. Uma delas, nomear os comandos das polícias militar e civil. A conversa nem andou. E Ferreira Pinto ai está.
 
O bang-bang, os assassinatos, avançam nas ruas de São Paulo. Até quando?
 
Bob Fernandes é jornalista.
 
Publicado originariamente no blog Tecedora
 

6 comentários:

Anónimo disse...

Décadas após o fim da ditadura, a luta armada voltou a São Paulo. Criminosos matam policiais como se quisessem derrubar o governo paulista e implantar a ditadura do crime.

Isso não faz sentido.

Faz sentido imaginar que o barulho feito pela imprensa sobre o “caos” e a “insegurança” possa favorecer quem queira ocupar o Palácio dos Bandeirantes no futuro próximo. Imprensa tem que noticiar, mas não agir sem investigar e questionar os fatos. E "todas" as autoridades.

Volto a insistir. O que parece não é. O que é visto como briga entre quadrilhas lutando por territórios novos para o tráfico de drogas é uma ilusão.

Quadrilhas em luta não ficariam matando policiais. Elas atrairiam sobre si todas as forças policiais do Estado. Qual o sentido disso? Bandidos que querem ser presos mais depressa, ou morrer? Absurdo!

Há quadrilhas que brigam por territórios? Sim, mas existem em todos os estados brasileiros. No Rio de Janeiro, por exemplo, como o Estado não consegue vencer os criminosos apenas os espanta para outros lugares com a instalação das tais das UPPs. O Rio inaugurou o turismo de bandidos. Os municípios da Grande Rio é que conhecem bem a verdade do que escrevo.

Anónimo disse...

A imprensa tem que noticiar mesmo os casos de morte e ataques a policiais. Afinal isso é notícia. Matar policiais é notícia em qualquer lugar do mundo. Mas a imprensa deveria ser ponderada. Aprendi, há décadas, em um livrinho de um matemático (estatístico) francês, que os números são perigosos, e aprendi também que jornalistas podem ser muito ruins lidando com eles. Jornalistas quase sempre fogem dos números e são ruins com percentagens.

Se uma morte é o total, isso é igual a cem por cento. Com mais um morto a manchete, escondendo o número base, poderia ser: Número de mortes dobra em São Paulo.

Matérias que tratam resultados usando apenas percentuais são perigosas, podem ser ilusórias, quando não mentirosas. Um bom jornalista teria que mostrar o total absoluto e colocar num contexto, relativizando, nunca tratando as notícias apenas com a revelação de percentuais.

Se São Paulo tinha dez mortes e passou a 18, o total é 80 por cento maior. Mas dez poderia ser um número baixo. A média mensal ou anual em outros estados pode ser bem maior.

Esconder os números é coisa de gente malandra. Seria como dizer: Este ano choveu o dobro do ano passado. Estamos falando de chuvas onde em um ano choveu um copo por metro quilometro quadrado, e no outro dois. Continuamos no deserto.

Anónimo disse...

O leitor e eleitor, e também pagador de impostos, deveria cobrar da imprensa mais dados para que pudesse fazer as comparações adequadas. São Paulo está sendo alvo de ataques terroristas, e a imprensa trata isso apenas como um aumento de insegurança por falha das autoridades estaduais. O que pode ter conseqüências políticas. As notícias são dadas num tom impressionista, emocional. E, claro, as pessoas têm medo de morrer. Então a culpa é ... do governo. Pode não ser bem essa a verdade.

Se na democracia pessoas que fazem política utilizarem métodos criminosos violentos para chegar aos seus objetivos, isso terá que ser chamado de subversão. As coisas têm nome e subverter a ordem com atos ilegais e disfarçados de outras coisas, isso é subversão. É isso que se chama terrorismo.

Qual o sentido de, apenas por prazer, alguém colocar fogo em um ônibus? Poderíamos dizer: é um louco, apenas. Um sádico. O que dizer de muitos e muitos ônibus? Um incendiário? Um Nero suburbano? Acho isso tudo muito esquisito. É tão esquisito como o rebelde sem causa. Um maluco querendo transformar São Paulo em um espetáculo pirotécnico?

Anónimo disse...

Obter resultados políticos indiretos da morte de policiais, por meio da cobertura espalhafatosa, imprecisa, e claramente parcial da imprensa, é terrorismo. Se bandidos são utilizados para fazer aquilo que era feito antes por terroristas isso, além de terrorismo ao quadrado, ainda é imensa covardia e pusilanimidade. Na luta armada grupos terroristas queriam derrubar a ditadura para implantar outra modalidade de ditadura. Mas muitos terroristas, ao menos, enfrentavam as balas da Lei e a morte. Nem todos, pois alguns tinham que ficar planejando, não é mesmo? Sem planos parece que nada funciona direito.

Bandidos comuns não podem estar querendo iniciar uma luta armada para ocupar o poder. Não teria o menor sentido: República Federativa Cocainística do Brasil.

Mas faz sentido que bandidos sejam usados como os braços armados de políticos desarmados. Um tipo de extensão. Uma prótese do terror.

Fico aturdido, estupefato mesmo, só com a possibilidade de haver imaginado que alguém pudesse ter interesse em derrubar um governo ou um partido político, ou ocupar um palácio recorrendo a tais métodos.

Creio que uso demais a minha imaginação e não acredito que, em 2012, em pleno Século XXI, alguém ou algum partido, ou pessoas, ou autoridades públicas exercendo suas funções numa democracia, em pleno estado de direito, possam sequer pensar em fazer algo assim.

Leio demais romances de aventuras e de espionagem, em demasia.

Ôpa, lembrei novamente: já li o manual do guerrilheiro urbano do Carlos Marighella. E o manual do Marighella não tem nada a ver com o manual do escoteiro mirim de Patópolis.

Página Global disse...

Página Global aprende com vossas opiniões e as toma em consideração. Por esse motivo e com esse pretexto vos convidamos a escrever para nosso email paginaglobal@mail.com e dizerem sobre vossas opiniões e experiências. Decerto um pouco mais acentuados e concretos como o fazem aqui nos comentários. Gratos por vossas opiniões. Bem hajam!

Anónimo disse...

Sem teorias da conspiração, mas J. Kennedy não atacaria o Vietnãn; foi morto e seu sucessor, fez. Trilhões de dólares e 50.ooo americanos mortos. As torres, poderia ser um "teatro" do Bush para perpetrar a ordem mundial (faço e arrebento). Aqui, continua essa estratégia do terror administrativo. A industria da violência rende audiência, cria falsos heróis e alimenta a corrupção no judiciário. Os "povos" engolem tudo.

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