sábado, 17 de novembro de 2012

Escaladas de violência em diferentes estados do Brasil estão ligadas – especialistas

 

FYB - HB – Lusa, com foto Vladimir Platonow
 
São Paulo, 17 nov (Lusa) - As escaladas de violência em São Paulo, que iniciou no mês de outubro, e em Santa Catarina, que ocorre há quase uma semana, estão ligadas e podem influenciar a eclosão de ataques noutras localidades, afirmaram especialistas à Lusa.
 
O cientista social José dos Reis Santos Filho atribui a relação entre os ataques a uma suposta ramificação em 17 estados da fação criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, que nasceu dentro de presídios e atua com o tráfico de droga.
 
"Certamente essa aparição de assassinatos no interior e em outros estados está inscrita no contexto de luta entre o estado e a criminalidade organizada, que se comunica", disse Santos Filho, coordenador do Núcleo de Estudos de Situações de Violência e da Universidade Estadual Paulista, em Araraquara (interior de São Paulo).
 
Já o coronel da reserva da Polícia Militar José Vicente da Silva Filho, ex-secretário Nacional de Segurança Pública, descartou a ligação entre fações criminosas dos estados, mas acredita na formação de uma "onda de adesão", através da imitação de comportamentos e da crença na impunidade.
 
"Não tenho a menor dúvida de que em Santa Catarina tem acontecido a mesma coisa do que em São Paulo. E a polícia no Rio de Janeiro já emitiu um alerta aos agentes de que os ataques podem ocorrer lá também", disse o coronel aposentado.
 
O aumento da violência que atinge São Paulo provocou 140 mortes só em outubro. Desde o início do ano 90 polícias foram assassinados, quase o dobro da cifra do ano passado.
 
O cientista social apontou que ainda não há uma conclusão sobre o motivo dos ataques, mas sim hipóteses a serem consideradas. Uma delas é o fim de um acordo tácito entre Governo e fações criminosas, rompido "certamente dentro dos presídios, onde se encontram os chefes de quadrilhas".
 
"Se houve algo que mexeu com o interesse deles [criminosos], eles ordenaram os crimes, e começou uma guerra entre polícia e criminalidade, na qual a população fica no meio", disse.
 
Na última semana, foram divulgadas pela imprensa cartas de reclusos, intercetadas por autoridades, que pediam a morte de agentes militares.
 
Suspeitos detidos após ataques afirmaram à polícia que foram convocados para executar assassinatos por líderes criminosos, para saudar dívidas de drogas.
 
O advogado Martim de Almeida Sampaio, coordenador da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo, afirma que a violência tem causas estruturais, como falta de trabalho, de estudo e uma má política de segurança pública, e causas conjunturais, como o crime organizado.
 
"O Governo teima em não admitir a existência da fação criminosa e o que vemos é um uso abusivo da violência pela polícia. Esperamos que o estado aja com mais inteligência e com menos truculência", afirmou.
 
Já o coronel José Vicente da Silva Filho aponta que o aumento dos crimes é uma reação à repressão que tem sido feita pela polícia ao tráfico de droga, a mesma visão divulgada pelo Governo de São Paulo.
 
Segundo o militar, não há o comando de uma fação organizada nessas ações, mas sim a atuação de vários pequenos grupos.
 

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