FYB - HB – Lusa, com foto Vladimir Platonow
São Paulo, 17 nov
(Lusa) - As escaladas de violência em São Paulo , que iniciou no mês de outubro, e em Santa Catarina , que
ocorre há quase uma semana, estão ligadas e podem influenciar a eclosão de
ataques noutras localidades, afirmaram especialistas à Lusa.
O cientista social
José dos Reis Santos Filho atribui a relação entre os ataques a uma suposta
ramificação em 17 estados da fação criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC),
de São Paulo, que nasceu dentro de presídios e atua com o tráfico de droga.
"Certamente
essa aparição de assassinatos no interior e em outros estados está inscrita no
contexto de luta entre o estado e a criminalidade organizada, que se
comunica", disse Santos Filho, coordenador do Núcleo de Estudos de
Situações de Violência e da Universidade Estadual Paulista, em Araraquara
(interior de São Paulo).
Já o coronel da reserva
da Polícia Militar José Vicente da Silva Filho, ex-secretário Nacional de
Segurança Pública, descartou a ligação entre fações criminosas dos estados, mas
acredita na formação de uma "onda de adesão", através da imitação de
comportamentos e da crença na impunidade.
"Não tenho a
menor dúvida de que em
Santa Catarina tem acontecido a mesma coisa do que em São Paulo. E a
polícia no Rio de Janeiro já emitiu um alerta aos agentes de que os ataques
podem ocorrer lá também", disse o coronel aposentado.
O aumento da
violência que atinge São Paulo provocou 140 mortes só em outubro. Desde o
início do ano 90 polícias foram assassinados, quase o dobro da cifra do ano
passado.
O cientista social
apontou que ainda não há uma conclusão sobre o motivo dos ataques, mas sim
hipóteses a serem consideradas. Uma delas é o fim de um acordo tácito entre
Governo e fações criminosas, rompido "certamente dentro dos presídios,
onde se encontram os chefes de quadrilhas".
"Se houve algo
que mexeu com o interesse deles [criminosos], eles ordenaram os crimes, e
começou uma guerra entre polícia e criminalidade, na qual a população fica no
meio", disse.
Na última semana,
foram divulgadas pela imprensa cartas de reclusos, intercetadas por
autoridades, que pediam a morte de agentes militares.
Suspeitos detidos
após ataques afirmaram à polícia que foram convocados para executar
assassinatos por líderes criminosos, para saudar dívidas de drogas.
O advogado Martim
de Almeida Sampaio, coordenador da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos
Advogados do Brasil em São
Paulo , afirma que a violência tem causas estruturais, como
falta de trabalho, de estudo e uma má política de segurança pública, e causas
conjunturais, como o crime organizado.
"O Governo
teima em não admitir a existência da fação criminosa e o que vemos é um uso
abusivo da violência pela polícia. Esperamos que o estado aja com mais
inteligência e com menos truculência", afirmou.
Já o coronel José
Vicente da Silva Filho aponta que o aumento dos crimes é uma reação à repressão
que tem sido feita pela polícia ao tráfico de droga, a mesma visão divulgada
pelo Governo de São Paulo.
Segundo o militar,
não há o comando de uma fação organizada nessas ações, mas sim a atuação de
vários pequenos grupos.
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