Especialistas
exigem mais pesquisas sobre a região, enquanto a gigante britânica BP e a russa
Rosneft planejam perfurar o frágil polo norte em busca de petróleo.
Explorar petróleo
em alto mar é arriscado em qualquer parte do mundo, mas as condições particulares
do ártico tornam o trabalho no local especialmente complicado. A perfuração e a
limpeza em caso de derramamento são difíceis por causa do frio extremo
combinado com ventos fortes, blocos de gelo e pouca luz do sol durante o
inverno.
Além disso, o gelo
marinho está derretendo rapidamente, tornando extremamente difícil construir
uma compreensão abrangente sobre esse ambiente físico, químico e biológico,
afirma o geólogo marinho e diretor da comissão norte-americana de pesquisas no
ártico, John Farrel.
Isso significa que
é quase impossível rastrear danos ao meio ambiente ligados à expansão da
perfuração de petróleo. "Com a diminuição da extensão da camada de gelo
marinho e o aquecimento da região polar, não há mais um ecossistema de
base", diz Farrell.
Desbravando o
ártico
Cientistas e
ambientalistas se voltaram para o polo norte após anúncio feito no dia 22 de
outubro de que a gigante petrolífera britânica BP estava vendendo sua
participação russa para a Rosneft – companhia estatal de petróleo da Rússia.
Pelos termos do
acordo, a Rosneft se tornará a maior companhia de petróleo de capital aberto do
mundo, com a BP controlando 20% dela. Para ambientalistas, a questão-chave é
que o novo acordo dará à empresa britânica acesso a reservas do ártico por meio
da Rosneft.
De acordo com o
Serviço Geológico dos EUA, 13% das reservas de petróleo mundiais ainda não
descobertas estão sob a camada de gelo do polo norte, que está derretendo
rapidamente. A Rosneft já perfurou pontos no ártico, mas investiga agora como
fazer isso no mar. Trata-se de um casamento por conveniência: a BP oferece sua
experiência e a Rosneft, suas licenças.
Na Rússia,
exploradores de petróleo estão de olho no Mar de Kara. Essas águas são tão
remotas que os soviéticos as usaram como local de despejo de lixo nuclear por
mais de 25 anos.
No fundo do mar, há
17 mil contêineres de lixo radioativo e um submarino nuclear naufragado. Os
resíduos nucleares e o risco de um eventual derramamento de petróleo na região
polar levaram o Greenpeace a pedir a proibição da perfuração no ártico.
E os ambientalistas
não são os únicos a se preocupar. Em setembro deste ano, a multinacional
francesa de petróleo e gás Total alertou sobre a perfuração no ártico. A
companhia disse que os riscos eram muito altos, e que um acidente seria
prejudicial para a imagem da companhia.
Aprender com a
experiência
O auditor ambiental
russo Alexei Bambulyak trabalha com exploração no ártico na Noruega e na
Rússia. Segundo ele, ainda é preciso realizar mais pesquisas antes que a
perfuração possa começar. O especialista explicou que falta conhecimento sobre
o Mar de Kara, se comparado ao que especialistas em perfuração sabem sobre
águas de regiões mais ao sul.
"Conhecemos
alguns padrões gerais, mas não podemos afirmar que sabemos o suficiente para
fazer avaliações adequadas sobre riscos e impacto ambiental", diz
Bambulyak. "À medida que avançamos para o norte e para o leste do ártico,
a partir do Mar de Barents, no leste, o conhecimento diminui." Mas ele
acrescentou que a participação da BP pode melhorar os padrões de segurança na
exploração de petróleo no ártico.
A imagem da BP foi
gravemente prejudicada em 2010 após um vazamento no Golfo do México, o pior da
história dos EUA. E tal episódio está longe de terminar. Ainda há mais de 750
milhões de litros de petróleo no mar. Mas isso fará com que a companhia aja com
muito mais cautela no futuro, acredita Bambulyak.
"O
conhecimento deles tem extremo valor. Podemos esperar que ajam com precaução no
ártico", diz o auditor. "E podemos esperar por mais investimento em
pesquisa ambiental. Eu lanço um olhar positivo sobre o que aconteceu, mas temos
que esperar para ver."
Autor: Daniella
Cheslow (lpf) - Revisão: Francis França
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