João Lemos Esteves –
Expresso, opinião, em Blogues
É oficial: este
Governo não é mau - é muito mau. É simplesmente...ridículo. Ontem, mais um
episódio abalou a credibilidade do Governo liderado por Passos Coelho. Afinal,
o Governo solicitou ajuda à troika para definir e executar medidas de redução
da despesa. Leu bem, caro leitor: o Governo - que se diz sempre muito
competente e ciente do rumo político que está a seguir - teve de pedir o
obséquio aos senhores da troika (em especial, do FMI) para virem cá a Portugal
ensinar os senhores ministros a cortarem com as apelidadas "gorduras
" do Estado. Este pedido de socorro é um erro político brutalíssimo. Quer
na forma, quer no conteúdo. Vejamos porquê:
Na forma, ninguém
sai bem na fotografia: nem o Governo, nem os senhores das "pastinhas"
da troika. Porquê? Por um lado, Vítor Gaspar afirma que já tinha anunciado o
auxílio há uma semana; os senhores da troika revelaram que, afinal, se trata de
uma visita normal e habitual. Não é nenhuma visita extraordinária. Que grande
trapalhada! Alguém está a tentar iludir os portugueses. E, parece-me, que o
mais interessado em que os portugueses não saibam toda a verdade sobre este
(mais um!) triste episódio é o Governo. Para já, ninguém se lembra do anúncio
de Vítor Gaspar (deve ter sido mais um estimulante passo das suas sempre dinâmicas
conferências); em segundo lugar, se o objetivo era mandar vir os senhores da
troika para definir as políticas de redução da despesa, cumpre perguntar ao
Ministro das Finanças a razão pela qual adiou, até ao último momento, a entrega
do Orçamento de Estado para o próximo ano. Os leitores estão certamente
recordados que a justificação dada foi a de que o Governo se encontrava a
estudar novas formas de redução da despesa que pudessem atenuar os sacrifícios,
impostos aos portugueses, para aumentar a receita. Afinal, mais uma vez, o
Governo montra um teatro mediático, mas depois os seus membros não têm experiência,
tacto político, nem criatividade para definir e executar medidas. Os membros do
Governo converteram-se, definitivamente, em burocratas ao serviço da troika. Em
vez de defender os interesses nacionais, Passos Coelho é o chefe de repartição
que presta contas à sua empregadora trika, Angela Merkel, Lda;
Por outro lado,
como é que esta notícia foi divulgada? Através do circuito que há muito que vem
fazendo escola entre os membros do Governo. Qual é esse circuito? Um dos
membros do Governo - porventura, Miguel Relvas ou um dos seus assessores - liga
para Marques Mendes; Marques Mendes comunica o facto no seu espaço de
comentário semanal na TVI - e, no dia seguinte, o jornal SOL desenvolve a
"boa nova" do Governo. Esta é invariavelmente a estratégia de comunicação
do Governo;
Quanto ao conteúdo,
importa perceber por que razão decidiu o Governo chamar a troika. Aparentemente
é estranho: para concretizar a sua principal promessa eleitoral, Passos Coelho
precisa da ajuda de uma entidade externa. A vinda da troika, a pedido do
Governo, é, pois, a confissão implícita e inequívoca da total incapacidade do
Governo para enfrentar os desafios que se impõem ao nosso país. Como Passos
Coelho percebeu - corretamente? - que a aplicação de tais medidas poderá ser
bastante impopular, gerando uma contestação popular bastante significativa, a
presença da troika permitirá ao Governo desresponsabilizar-se: a autoria das
medidas, em caso de insucesso, será sempre das entidades externas. Em caso de
sucesso, Passos reivindicará o sucesso para si. A chamada da troika tem, pois,
a finalidade de desresponsabilização política do Governo. Passos Coelho
agarrou-se à troika como se fosse uma vassoura que sustenta as suas (péssimas)
políticas - e agora apenas foi coerente. Portugal, neste momente, é governado
pela troika. Uma sugestão para reduzir a despesa: comecem a demiitir os
Ministros e os elementos das equipas ministerais. Como não estão a fazer nada -
delegaram aparentemente a definição das medidas de redução da despesa na
troika, tal filho assustado que corre para o colo do pai -, poupa-se dinheiro e
paciência aos portugueses.
Email: politicoesfera@gmail.com
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