Jorge Nascimento
Rodrigues – Expresso, ontem
A probabilidade de
incumprimento da dívida portuguesa atingiu o nível de 37,68%. Risco subiu 7
pontos percentuais desde 18 de outubro. E os juros das obrigações do Tesouro a
dez anos fecharam em 8,45%.
O risco de
bancarrota num horizonte de cinco anos subiu hoje para 37,68% e o custo dos credit
default swaps (cds, seguros contra a probabilidade de incumprimento) ligados à
dívida soberana portuguesa saltaram para mais de 539 pontos base, segundo dados
da CMA DataVision. Ontem haviam fechado em 36,08% e 510 pontos base
respetivamente.
Também as yields das
obrigações do Tesouro (OT) a dez anos chegaram a subir para 8,505% e acabaram
po fechar em 8,45%; ontem haviam fechado em 8,195%, segundo dados da Bloomberg.
O ponto de inversão
da trajetória no risco e nos juros ocorreu a 18 de outubro, dia da mais recente
cimeira europeia, que foi inconclusiva. No dia anterior, a probabilidade de
incumprimento tinha descido para 30,63%, o valor mais baixo desde novembro de
2010. E as yields das OT a dez anos haviam descido para 7,749%, um nível que
não se observava desde 25 de março de 2011. Os valores a que nos referimos são
de fecho do dia.
A partir de 30 de
janeiro deste ano, quando Portugal se aproximou de um nível de risco de
incumprimento (superior a 73%) que apontava para a possibilidade de um evento
de crédito iminente e atingiu um pico, após a adesão ao euro, nas yields a dez
anos que fecharam em 17,39%, que a trajetória foi descendente. O bom exemplo
português foi louvado a par do irlandês.
Risco subiu 7
pontos percentuais em duas semanas
A partir de 18 de
outubro observamos uma subida nestes indicadores da dívida. Esta trajetória
atual aponta para um risco hoje superior em mais de sete pontos percentuais ao
verificado a 17 de outubro e um nível de yields nas OT a dez anos muito acima
do limiar dos 7%, estabelecido por Abebe Selassie, chefe de Missão do Fundo
Monetário Internacional para Portugal, como o limite abaixo do qual será
possível equacionar o "regresso aos mercados" (ou seja, a emissões de
dívida de médio e curto prazo pelo IGCP, a agência que gere a dívida
portuguesa).
A subida
verificou-se em todas as maturidades, e não só no prazo a dez anos. Nas OT a
dois anos, as yields subiram de 4,219% a 17 de outubro para 5,673% no fecho de
hoje. Nas OT a cinco anos, asyields subiram de 5,495% para 7,014% no mesmo
período. No prazo a sete anos - que corresponde, grosso modo, à maturidade
média do stock de dívida - as yields no mercado secundário subiram para 8,416%.
O prémio de risco
(que mede o diferencial entre o custo da dívida portuguesa e da alemã)
regressou hoje aos 7 pontos percentuais. Esteve abaixo desse patamar entre 5 de
outubro e 1 de novembro.
Fitch: "mais
apoio oficial"
A Fitch disse hoje
que a sua previsão "é que Portugal vai receber mais apoio oficial [do
designado sector oficial, corporizado nas entidades que constituem a troika]
antes de regressar aos mercados". A agência de notação considerou que o
regresso aos mercados "está ainda longe". E acrescentou: "Ainda
que os países que saiam dos programas de ajustamento são elegíveis para o
programa do Banco Central Europeu de compra de títulos [no mercado secundário,
programa designado pelo acrónimo OMT], as fracas perspetivas económicas de
Portugal, a dimensão do ajustamento orçamental a realizar e a natureza frágil
do mercado da dívida soberana da zona euro exigiriam uma melhoria significativa
no sentimento [dos mercados da dívida] para que o país possa regressar em pleno
ao mercado no próximo ano".
A subida portuguesa
na probabilidade de incumprimento da sua dívida soberana é um dos factos
marcantes nas duas últimas semanas, a par do disparo no risco da dívida
argentina. Portugal subiu de 9º para 6º lugar no "clube" dos 10
países com maior risco de bancarrota e a Argentina passou da 3ª para a 2ª
posição, ultrapassando Chipre.
Argentina agita o
mercado dos cds
A agitação nos cds
relativos à dívida argentina, que levou a Argentina a subir à segunda posição
no referido "clube" no dia 26 de outubro, deve-se aos rumores de que
o país poderia não pagar em dólares (mas sim em pesos, a moeda local) os
títulos soberanos (denominados em dólares) que vencem até ao final do ano, o
que poderia desencadear um evento de crédito. A presidente argentina Cristina
Fernández veio desmentir esta semana os rumores.
O ambiente aqueceu
ainda mais com o litígio na barra dos Tribunais norte-americanos dos
"fundos abutre" contra a República Argentina. Estes fundos,
nomeadamente o NML Capital Limited, da Eliot Management, não aceitaram as
trocas de dívida realizadas em 2005 e 2010 no âmbito da reestruturação da
dívida argentina derivada do default de finais de 2001. Em virtude desse
litígio uma fragata da marinha de guerra argentina está aprisionada no Gana
desde 2 de outubro. Ontem o custo dos cds para segurar a dívida argentina
atingiu mais de 2000 pontos base, mas fechou em 1897,78.
Entrou ontem em
vigor um regulamento europeu sobre vendas a descoberto e credit default swaps
(cds) cujo efeito sobre a liquidez destes mercados de dívida tem de ser
avaliado. Os artigos 13 e 14 da nova legislação, decidida no ano passado pelo
Parlamento Europeu, colocam restrições às vendas a descoberto da dívida
soberana, quer em termos de venda ou recompra de obrigações como de cds. A
própria legislação acautela contra o efeito negativo na liquidez dos mercados,
podendo suspender a aplicação das restrições.
Sem comentários:
Enviar um comentário