quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Guiné-Bissau: ONU ALERTA, O PRESIDENTE GOLPISTA E A CULTURA, TPI NÃO

 


ONU alerta para necessidade de programa de proteção de testemunhas na Guiné-Bissau
 
27 de Novembro de 2012, 13:29
 
Bissau, 27 nov (Lusa) -- A comunidade internacional, e nomeadamente a ONU, está a apoiar a Guiné-Bissau no sentido de se criar um programa de proteção de testemunhas, para através dele se concluírem processos relativos a crimes ocorridos no país.
 
De acordo com Antero Lopes, do gabinete das Nações Unidas em Bissau (UNIOGBIS), "se estiverem criadas as condições para que as testemunhas não tenham medo de exercer os seus direitos e deveres, a produção de prova far-se-á de acordo com o que está prescrito na lei e os processos poderão ser concluídos".
 
Antero Lopes falava hoje em Bissau após o início do II Fórum Nacional sobre Justiça Criminal (o primeiro foi em novembro do ano passado), organizado pelo UNIOGBIS e pelo Supremo Tribunal de Justiça, e que junta na capital guineense magistrados, investigadores, advogados e académicos.
 
Para o responsável, o processo de justiça na Guiné-Bissau e o sentimento geral de que há total impunidade tem "uma lacuna evidente", que é a da "dificuldade na preservação dos meios de prova", pelo que um programa de proteção de testemunhas poderia ajudar na conclusão de processos em investigação.
 
O sentimento de impunidade é generalizado na Guiné-Bissau, um país onde ciclicamente ocorrem crimes sem que os infratores sejam punidos. Nos últimos anos têm sido assassinadas figuras públicas, e outras espancadas, mas até hoje ninguém foi levado à justiça.
 
Questionado sobre para que servem tantas reuniões e discussões sobre impunidade, se nada mudou até agora, o vice-presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Paulo Sanhá, disse aos jornalistas que os tribunais não podem fazer nada quando os processos estão em investigação.
 
"Há uma cadeia de órgãos que intervêm para que a justiça seja feita, desde a Polícia ao Ministério Público. Os tribunais só recebem o processo acusado. Os processos que chegam ao tribunal na maioria já estão a ser julgados ou estão agendados", observou, acrescentando: "A impunidade não depende dos tribunais".
 
Antero Lopes reconheceu que existe essa impunidade mas considerou que tem "havido passos" no sentido de a resolver.
 
Hoje há uma participação mais ativa "dos atores militares e penso que é um sinal positivo, de aproximação, de trabalhar em conjunto para ajudar a combater as questões que dão azo a uma perceção generalizada de impunidade", disse.
 
"Há dificuldades no processo de justiça" mas reuniões como a de hoje servem para sensibilizar os "atores do sistema de justiça criminal, que estão de facto empenhados em fazer justiça", mas sensibilizar também "as estruturas políticas", disse, acrescentando: "O que eu vejo é congregação de esforços que não tínhamos, vejo abertura das estruturas militares em vir debater os problemas da impunidade com os colegas civis".
 
Menos otimista, Francilino Nhaga, padre de Bissau, disse na reunião que vê na Guiné-Bissau uma sensação generalizada de que "a punição é rara", de que há uma "displicência na pena" e de que a justiça não funciona.
 
"Não há um condutor neste país que atropele alguém e que fique para socorrer" (por ter medo de ser morto), disse, para concluir que "o sistema judicial é posto em causa pela sua falta de credibilidade e ausência de poder".
 
A Guiné-Bissau, disse também, é um país "onde a polícia solta um detido após receber um telefonema de 50 segundos e onde "muitos juízes não escondem a sua filiação partidária".
 
E a impunidade, advertiu, leva os criminosos a reincidirem nos crimes porque "têm a certeza absoluta de que ficarão impunes", sendo também "a maior geradora de medo" e de corrupção.
 
FP //HB
 
Cultura é o setor que mais se desenvolveu na Guiné-Bissau, diz Presidente de transição
 
28 de Novembro de 2012, 14:20
 
Bissau, 28 nov (Lusa) - O Presidente de transição da Guiné-Bissau, Serifo Nhamadjo, afirmou hoje que em 39 anos de independência do país a cultura é o setor que mais se desenvolveu pelo que "deve ser acarinhado".
 
Serifo Nhamadjo fez esta observação hoje no âmbito das festividades que marcam o 37.º aniversário da fundação do Ballet Nacional "Esta é a nossa pátria amada", um dos agrupamentos mais representativos da cultura guineense.
 
"A cultura é uma ferramenta indiscutivelmente muito importante para o desenvolvimento da sociedade, ainda mais para a Guiné-Bissau. A cultura é o setor que mais evoluiu na Guiné-Bissau, mas tem que ser acarinhado para dar mais passos para se afirmar melhor", referiu o Presidente de transição guineense.
 
Visivelmente emocionado, Serifo Nhamadjo defendeu que um país como a Guiné-Bissau, constituído de vários grupos étnicos, tem na cultura uma forma de unidade nacional pelo que esse setor deve merecer "a boa vontade dos políticos".
 
Para o chefe de Estado, falta a comparticipação do Estado no desenvolvimento das iniciativas culturais.
 
"É preciso maior atenção e disponibilização de meios, infraestruturas, para que a juventude e as pessoas que estiveram ao longo desses anos todos a trabalhar na cultura para o engrandecimento do nome do nosso país, possam fazer cada vez mais e melhor", observou Nhamadjo.
 
Dirigindo-se aos membros integrantes do Ballet Nacional "Esta é a nossa pátria amada", fundado em 1975 pelo então Presidente Luís Cabral, dois anos após a proclamação unilateral da independência do país, o atual chefe de Estado guineense considerou-os "combatentes pela causa cultural".
 
"Contem com o meu apoio incondicional", afirmou Nhamadjo, dando de seguida um "abraço fraterno" ao fundador do Ballet, Beghateba Tamba Na Numna, que não conseguiu suster as lágrimas após ter sido cumprimentado pelo Presidente de transição.
 
MB // VM.
 
Tribunal Internacional para Guiné-Bissau não se aplica, diz professor direito
 
28 de Novembro de 2012, 19:20
 
Bissau, 28 nov - O julgamento por um tribunal internacional dos crime ocorridos na Guiné-Bissau é extemporâneo, porque a situação do país é diferente de outras como as ocorridas na Serra Leoa ou Ruanda, defendeu hoje um especialista português.
 
Jaime Valle, professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e assessor científico da Faculdade de Direito de Bissau, falava em Bissau no final do primeiro "Seminário Académico sobre Direitos Humanos e Igualdade do Género", que juntou durante dois dias dezenas de participantes, nomeadamente estudantes.
 
Na Guiné-Bissau têm ocorrido com frequência assassinatos de figuras públicas sem que até agora alguém tenha sido julgado por isso.
 
"Há muitas pessoas que suscitam a criação de um tribunal criminal internacional para tratar dos homicídios e das violações dos direitos humanos", mas a situação na Guiné-Bissau "é diferente das que levaram à criação dos tribunais do Ruanda e da Serra Leoa, que tiveram uma dimensão coletiva que aqui felizmente não foi atingida, pelo menos ainda", disse Jaime Valle.
 
Em todos esses casos houve uma "dimensão coletiva de violação dos direitos humanos, como execuções, desaparecimento e violações em massa", na Guiné-Bissau tem havido "homicídios ou execuções seletivas" mas não estamos "perante uma situação de violações intoleráveis em massa dos direitos humanos", explicou Jaime Valle.
 
Ainda assim, acrescentou, na Guiné-Bissau, onde "os direitos humanos estão fragilizados em vários aspetos", é possível um tribunal internacional, se as Nações Unidas assim o entenderem e se o Estado pedir. "A meu ver ainda não foram esgotadas as possibilidades de os tribunais nacionais e o ministério público fazerem o seu trabalho", salientou.
 
No entender do professor a Guiné-Bissau tem "um longo caminho a percorrer" na questão dos direitos humanos, algo que tem de ser "interiorizado e apropriado" pelo Estado.
 
Na organização social há "dificuldades no que toca ao pluralismo político", por falta de se entender que há opiniões diferentes e que "os processos políticos não devem desembocar numa vitória total ou no predomínio da força sobre o direito", disse.
 
E a nível cultural, acrescentou, ainda é "mais complexo". "Na violação dos direitos políticos quem os viola sabe perfeitamente o que está a fazer. A nível cultural é necessário mudar mentalidades".
 
Encontros como o que hoje terminou, organizado pela Faculdade de Direito e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), têm essa função. Debateu-se a questão dos direitos humanos e a tradição, a igualdade entre homens e mulheres, a liberdade religiosa, o direito à segurança social ou os direitos das pessoas com deficiência.
 
FP //JMR.
 

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