Daniel Oliveira –
Expresso, opinião, em Blogues
Na semana passada
vários "doutorados" em intervenções policiais explicaram da impossibilidade
das forças de segurança intervirem na concentração de dia 14, em frente ao
Parlamento, para isolar e retirar os manifestantes violentos que, ao fim de
tanto tempo, estavam claramente identificados por toda a gente. Se fosse
precisa mais experiência do que a das últimas manifestações, expliquei que é
isso mesmo que tem sido feito. Neste caso eram mais violentos e mais
organizados. Seria mais difícil. Mas alguma coisa estaria muito mal se, para
travar umas poucas dezenas de desordeiros, fosse preciso espancar centenas de
pessoas num raio de quilómetros.
O "Correio da
Manhã", que tem boas fontes na polícia e é insuspeito de antipatia para
com os seus comandos ou para com o Governo, deu-nos ontem conta da irritação
das brigadas infiltradas por o Corpo de Intervenção não ter cercado cerca de
uma dezena de agressores iniciais, dando cobertura aos agentes à civil que os
deveriam deter. No jornal surgem várias críticas ao Comando de Lisboa, vindas
de responsáveis policiais, por se ter optado por esperar quase duas horas e
depois se ter efetuado uma carga policial indiscriminada, que além de ter
atentado contra a integridade física de uma maioria de manifestantes pacíficos,
impediu que os agressores fossem detidos em flagrante, dificultando a sua
merecida punição judicial. Segundo fontes policiais do "CM", era
perfeitamente possível "uma contenção imediata do fenómeno, com prova
consolidada para os principais agressores - evitando-se aquela extensão de
confrontos". E diz-se que os polícias à civil foram
"desaproveitados".
Esclarecidos os que
diziam ser impossível o que toda a gente sabe que se pode fazer - e já foi
feito - e sabendo-se agora que a polícia tem treino específico para fazer o
que, desde a primeira hora, várias pessoas que participaram na manifestação
esperaram que fosse feito, resta saber de quem foi a responsabilidade. Ao que
se percebe, a decisão de deixar que um pequeno grupo violento tomasse conta do
Largo de São Bento para depois correr tudo à bastonada até Santos veio do
Comando de Lisboa. Este deve justificar a sua opção e informar se, tal como
aconteceu com a carga policial (segundo o "Expresso"), a ordem veio
diretamente do ministro Miguel Macedo. Ou seja, se correspondeu a uma opção
política.
Não deixa, no
entanto, de ser interessante que a origem de tantos parabéns dados à atuação
policial tenha uma exceção: a própria polícia. A carga policial resultou de uma
negligência de duas horas que deixou milhares de cidadãos entregues à vontade
de uns poucos arruaceiros onde se incluem, sabe-se agora, meninos de claques de
futebol. Fica a dúvida: de que lado está quem dá ordens à polícia? Dos que
querem que a contestação se torne violenta ou dos que defendem o direito à
manifestação?
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