La Stampa, Turim – Presseurop – imagem Vauro
A demissão do
primeiro-ministro anunciada em 7 de dezembro causa preocupações em Itália e no
estrangeiro. Mas, perante a tentativa de Silvio Berlusconi de explorar o
mal-estar dos italianos, que outra coisa poderia fazer o Governo tecnocrata que
tantos sacrifícios impôs para reerguer o país?
Mario Monti demorou
um dia a pensar. Em seguida, fez o único gesto coerente com a sua pessoa, a sua
vida e a sua forma de governar: garantir o orçamento para 2013 e, depois,
apresentar a demissão.
Não apenas não
podia aceitar ser acusado por quem lhe deixara nas mãos um país que se
encontrava num caos; não apenas não tinha intenção de mendigar, durante
semanas, a confiança relativamente a cada medida, como também não desejava
partilhar nem mais um metro de caminho com quem decidiu agora que a causa de
todos os males reside na moeda única. "Não vou a Bruxelas para dar
cobertura àqueles que fazem declarações antieuropeias. Não quero ter nada a ver
com eles", disse muito claramente Monti ao Presidente da República, em 8
de dezembro, quando lhe anunciou a sua intenção de se demitir.
Um gesto claro e
transparente, que obriga os outros a assumir as suas responsabilidades e que deixa
Berlusconi sozinho com as suas agitações e as suas reviravoltas. Ninguém
pretende discutir o direito do Cavaliere de voltar a candidatar-se (apesar de,
durante um ano, ter afirmado o contrário), mas é intolerável que a principal
figura do Governo técnico – que, recorde-se, é também o primeiro-ministro que
deixou a Itália à beira do abismo – acorde, uma manhã, e se distancie.
O regresso à
emergência e às convulsões
É intolerável que
acuse Monti de ser o responsável por todos os problemas de Itália, sem reconhecer
o trabalho realizado no espaço de um ano. O governo técnico nasceu da
incapacidade de governar e da profunda desconfiança dos italianos em relação ao
sistema de partidos, e devia servir para pôr em segurança as contas do Estado e
para nos conduzir a novas eleições. O pacto era que cada um assumisse a sua
parte de responsabilidade (e de impopularidade), para se tentar evitar a ruína
do país, sem ceder ao populismo nem tirar partido do mal-estar social.
Partindo destas
premissas, como podia o chefe do Partido da Liberdade, o partido de Berlusconi,
Angelino Alfano, pensar que Monti podia continuar a governar, depois de lhe
retirar oficialmente a confiança, na Assembleia Nacional? Só um político da
velha escola e habituado a todos os compromissos, teria fingido que não
acontecera nada. Monti, pelo contrário, tomou a devida nota e decidiu entregar
as chaves do Governo.
Assim, pela
primeira vez na história da República, iremos votar no inverno. Talvez mesmo na
primeira metade de fevereiro, se a votação do orçamento for antecipada e o
parlamento dissolvido na véspera de Natal.
Depois de ter
tentado fazer as coisas com ordem durante 12 meses, voltamos à emergência e a
ter de enfrentar as convulsões da pior política. Com todos os esforços e
sacrifícios que fizemos, não merecíamos isso.
Seria a altura de a
Itália se tornar um país normal, previsível e – quem sabe – talvez também
aborrecido. Um país que não nos fizesse corar, que pudesse ter assento na
Europa e conseguisse fazer-se ouvir. Durante um ano, andámos lá perto.
Reações à direita
Adeus Monti, e boa
viagem
“Quero ser sincero
e não me quero juntar aos que se afundam na tristeza, que suplicam ao professor
Monti para não se ir embora e que lhe vão agradecer o trabalho realizado”, escreve Alessandro Sallusti um
dia depois de o chefe de Governo italiano ter anunciado a sua intenção de se
demitir. O diretor de Il Giornale, o diário do irmão de Silvio Berlusconi, quer estar ao lado
de milhares de trabalhadores e de empresas que, durante o iluminado Governo de
Monti, perderam o emprego e encerraram portas. […] Não vivemos da suposta
credibilidade internacional. Queremos restabelecer a democracia suspensa há
cerca de um ano pelo ataque relâmpago do Presidente da República. Queremos
recuperar a soberania nacional estupidamente delegada aos bancos e à Europa dos
alemães. Queremos recuperar a liberdade de decidir, de atuar, de sofrer, se for
preciso. Não pelo capricho de uma casta endeusada pelos jornais dos poderosos,
mas porque fomos nós que escolhemos. Temos de intervir e votar, aconteça o que
acontecer. […] Devíamos ter orgulho de termos tido a coragem de desencadear o
fim deste governo de tecnocratas. Não nos trouxe nada, nem poderia trazer. Pelo
contrário, sacrificou-nos ainda mais.
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