“Ninguém peça ou
exija ao PCP que deixe de ser o que é” – Jerónimo de Sousa
O secretário-geral
do PCP afirmou hoje que os comunistas não recusam o “diálogo” com outras forças
mas disse que o partido não abdicar dos seus valores e que o PS se mantém
comprometido com “a política de direita”.
“Nós dizemos que
não renunciamos à convergência, ao diálogo com forças e setores democráticas em
tudo o que for bom para os trabalhadores, para o povo e para o país. Mas
ninguém peça ou exija ao PCP que deixe de ser o que é, que deixe de falar verdade,
que deixe de lutar por outra política, que rompa com estafada
alternância”,afirmou Jerónimo de Sousa.
O secretário-geral
comunista falava no encerramento do XIX Congresso do PCP, em Almada, de onde
sai com novo mandato para quatro anos, dado pelo Comité Central.
Jerónimo de Sousa
reiterou o objetivo da criação de uma “alternativa patriótica e de esquerda” no
“plano institucional”.
A este propósito,
definiu como “questão primeira” e “incontornável” a “de se saber” se o PCP
“deveria abdicar” dos valores que defende de forma “coerente e consequente” e
se o PS, “comprometido com a política de direita”, “se deveria manter como
está”.
“O PS não dá
resposta à contradição fundamental que é a de saber se é possível uma
alternativa verdadeiramente de esquerda, mantendo-se comprometido e
identificado com a política de direita em questões estruturantes”, acrescentou,
sublinhando que será “pela vontade e apoio” “dos trabalhadores e do povo
português”, a quem serve, que o PCP estará “numa solução alternativa”.
“E não por arranjos
de poder que nos exijam deixar de ser o que somos, de defender o que
defendemos”, afirmou.
MP // SMA
PS disponível para
dialogar mas acusa comunistas de fazerem dos socialistas o "inimigo"
O dirigente
socialista Alberto Martins manifestou-se hoje disponível para um diálogo com o
PCP, mas criticou os comunistas por fazerem do PS "o inimigo" e
salientou que há "regras constitucionais" para as mudanças de Governo.
A posição de
Alberto Martins, membro do Secretariado Nacional, foi transmitida após a sessão
de encerramento do XIX Congresso do PCP, que hoje terminou em Almada.
"Entendemos
que o PCP é um partido democrático, que se deve situar no arco do diálogo
institucional e constitucional. O PS está disponível para o diálogo, mas
rejeita e acha errada a política do PCP de fazer do PS o seu inimigo",
declarou.
O ex-ministro da
Justiça traçou ainda outra linha de demarcação face aos comunistas.
"O PS defende
uma mudança política com responsabilidade. Pensamos que a ideia de rasgar o
memorando da 'troika' (Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e
Comissão Europeia) seria errada para Portugal, já que o país deixaria de ter o
apoio financeiro necessário para resolver os problemas", sustentou.
Alberto Martins,
porém, disse que o PS "está de acordo que, em diálogo, tudo deve ser feito
para mudar esta política recessiva, esta ditadura da austeridade, que prejudica
o povo português, aumentando o desemprego e não criando condições para o
crescimento".
"Exige-se uma
nova consciência coletiva, uma nova legitimação e uma mudança estrutural da
política no quadro europeu", disse.
Alberto Martins
voltou a também a demarcar-se da exigência do Bloco de Esquerda e do PCP para
uma imediata demissão do Governo PSD/CDS.
"A demissão do
Governo é uma questão que se situa no quadro constitucional. Há regras
constitucionais em Portugal para as alterações do Governo. Não podemos esquecer
que o PCP contribuiu para e entrada em funções deste Governo", disse, numa
alusão aos episódios que conduziram ao fim do segundo executivo liderado por
José Sócrates.
PMF // SMA
Não há Governo de
esquerda sem todos os partidos de esquerda - Bloco de Esquerda
O Bloco de Esquerda
disse registar a disponibilidade do PCP para a criação de uma alternativa
política e vincou que só poderá existir um Governo progressista com a
"responsabilidade" de todos os partidos de esquerda.
"Não há
Governo de esquerda sem a responsabilidade de todos os partidos de esquerda e
de todas as forças de esquerda", acentuou a dirigente Cecília Honório no
final do XIX Congresso do PCP, que hoje terminou em Almada.
Acompanhada pelos
dirigentes do Bloco de Esquerda Pedro Soares e Joana Mortágua, Cecília Honório
disse que a sua força política "acompanhou com toda a atenção" o
congresso do PCP, "nomeadamente a intervenção final do secretário-geral,
Jerónimo de Sousa, que apresenta um compromisso com a luta pela destruição
destas políticas de austeridade e pela responsabilidade na construção de uma
alternativa de esquerda".
"Registamos a
disponibilidade do PCP para, na luta popular, contra as orientações deste
Governo, criar uma alternativa", frisou Cecília Honório.
Confrontada com a
ideia de que o PCP se demarcou estrategicamente do Bloco de Esquerda ao
considerar mais importante saber com que política se chega ao Governo do que
discutir com quem se chega ao Governo, Cecília Honório disse não partilhar essa
interpretação.
"Temos a noção
que há uma luta que se faz na sociedade e que é preciso uma voz popular para
mudar a orientação deste Governo. Mas o Bloco de Esquerda renova o sentido de
compromisso e de responsabilidade na criação de uma alternativa", acrescentou.
PMF // SMA
Governo de esquerda
não resultará de "diálogo e simpatia" com PS e BE - Jorge Pires
O dirigente
comunista Jorge Pires advertiu hoje que não será possível atingir “o objetivo”
de um governo de esquerda com “diálogo e simpatia”, mas sim com a "luta de
massas", reafirmando o socialismo e o comunismo como horizonte.
Dizendo responder a
dúvidas que foram colocadas por comunistas durante a preparação do Congresso
sobre a forma de construir um “governo de esquerda”, Jorge Pires, da comissão
política do PCP, começou por dizer que “não há nenhuma solução mágica”.
No entanto,
advertiu, não se chegará a esse objetivo “com diálogo e simpatia” entre
dirigentes de partidos à esquerda do Governo PSD/CDS-PP, ou seja, com o PS e o
BE.
“Haverá democratas
que pensam que todas as dificuldades se resolveriam com o diálogo e alguma simpatia
entre dirigentes dos partidos à esquerda deste Governo. A vida confirmou que
não é assim”, afirmou, sendo aplaudido pelos delegados.
Assim, defendeu, “o
caminho mais seguro para a conquista alternativa esquerda é os democratas
perceberem que são as suas aspirações por uma nova política e as suas escolhas
também eleitorais que mais podem assegurar um novo e esperançoso rumo para
política nacional”.
Jorge Pires disse
que, da parte do PCP, tudo se fará para que, “com confiança e determinação seja
possível transformar o enorme descontentamento em formas concretas de
intervenção”.
O PCP dará o seu
contributo para a “afirmação na sociedade portuguesa de um vasto movimento de opinião,
unido em torno dos grandes valores e propósitos de uma política de esquerda”.
Este movimento
deve, prosseguiu, “dar origem a uma ampla frente social de luta capaz de lutar
por um Portugal soberano e independente, de progresso e justiça social como
componentes constitutivas da democracia avançada que o PCP propõe ao povo
português”.
“Mas sempre, como
há 91 anos, com o socialismo e o comunismo no horizonte”, avisou.
O XIX Congresso do
PCP termina hoje em Almada, com uma intervenção do secretário-geral eleito,
Jerónimo de Sousa.
SF // MSF
* Notícias da Agência
Lusa
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