João Saramago - Correio da Manhã
Ordenado e abonos
somam 773 euros. Renda da casa é de 350. Um crédito leva 210 euros
João Emanuel, de
dois anos, e Cátia Raquel, de cinco meses, são dois bebés de Samora Correia,
Benavente, cuja família vive uma situação alimentar dramática. "Em
desespero já pedi a colegas minhas do trabalho para darem de comer aos meus
filhos", relata Ana Raquel Viveiros, de 30 anos.
Empregada de
supermercado, Ana Raquel diz que já perdeu a conta aos dias em que tanto ela
como o marido, Francisco João Faria, se deitam com fome.
Sem encontrar
soluções para a falta de alimentos, a mulher não consegue conter as lágrimas.
Ao seu lado, Rosa Marques, uma colega de trabalho, lança um apelo para que
chegue ajuda para os bebés. E Ana Raquel mostra o frigorífico, que conta uma
taça com sopa e pouco mais. "Por muito pouco que seja, peço que as pessoas
me ajudem com comida ou roupa para os bebés".
Francisco Faria,
manobrador de máquinas da construção civil, está desempregado há quatro anos.
Vive de pequenos trabalhos, que cada vez são mais raros. O ordenado de Ana
Raquel é de cerca de 540 euros. A família conta ainda com 233 euros de abono
pelas crianças. São 773 euros. A renda da casa – com três meses de pagamentos
em atraso – é de 350 euros. A esta despesa junta-se o crédito de um empréstimo,
de dez mil euros (já gastos), numa mensalidade de 210 euros. Os 213 euros que
sobram são para pagar as contas da água, luz, gás e alimentação.
Em licença de
parto, Ana Raquel regressa ao trabalho no dia 24. A ausência da mãe levanta
agora a questão de quem irá tomar conta dos bebés. Numa situação provisória, a
amiga Rosa Marques irá cuidar das crianças.
Ana Raquel nasceu
na Madeira, mas foi criada por uma família adoptiva na Amora, Seixal. "Os
meus pais faleceram. Não tenho a quem recorrer e não sei o que hei-de
fazer".
Esquentador já
funciona
A família Ferreira,
de Casal Vicente, na Amadora, recebeu ontem mais uma prenda de um leitor do CM,
que se disponi-bilizou para arranjar, gratuitamente, o esquentador. O aparelho
ainda não está a 100% porque lhe falta uma peça, mas já permite um uso
moderado, o que alegra as crianças da casa, com 8, 12 e 14 anos.
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