terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Portugal: DOIS BEBÉS COM FOME

 

João Saramago - Correio da Manhã
 
Ordenado e abonos somam 773 euros. Renda da casa é de 350. Um crédito leva 210 euros
 
João Emanuel, de dois anos, e Cátia Raquel, de cinco meses, são dois bebés de Samora Correia, Benavente, cuja família vive uma situação alimentar dramática. "Em desespero já pedi a colegas minhas do trabalho para darem de comer aos meus filhos", relata Ana Raquel Viveiros, de 30 anos.
 
Empregada de supermercado, Ana Raquel diz que já perdeu a conta aos dias em que tanto ela como o marido, Francisco João Faria, se deitam com fome.
 
Sem encontrar soluções para a falta de alimentos, a mulher não consegue conter as lágrimas. Ao seu lado, Rosa Marques, uma colega de trabalho, lança um apelo para que chegue ajuda para os bebés. E Ana Raquel mostra o frigorífico, que conta uma taça com sopa e pouco mais. "Por muito pouco que seja, peço que as pessoas me ajudem com comida ou roupa para os bebés".
 
Francisco Faria, manobrador de máquinas da construção civil, está desempregado há quatro anos. Vive de pequenos trabalhos, que cada vez são mais raros. O ordenado de Ana Raquel é de cerca de 540 euros. A família conta ainda com 233 euros de abono pelas crianças. São 773 euros. A renda da casa – com três meses de pagamentos em atraso – é de 350 euros. A esta despesa junta-se o crédito de um empréstimo, de dez mil euros (já gastos), numa mensalidade de 210 euros. Os 213 euros que sobram são para pagar as contas da água, luz, gás e alimentação.
 
Em licença de parto, Ana Raquel regressa ao trabalho no dia 24. A ausência da mãe levanta agora a questão de quem irá tomar conta dos bebés. Numa situação provisória, a amiga Rosa Marques irá cuidar das crianças.
 
Ana Raquel nasceu na Madeira, mas foi criada por uma família adoptiva na Amora, Seixal. "Os meus pais faleceram. Não tenho a quem recorrer e não sei o que hei-de fazer".
 
Esquentador já funciona
 
A família Ferreira, de Casal Vicente, na Amadora, recebeu ontem mais uma prenda de um leitor do CM, que se disponi-bilizou para arranjar, gratuitamente, o esquentador. O aparelho ainda não está a 100% porque lhe falta uma peça, mas já permite um uso moderado, o que alegra as crianças da casa, com 8, 12 e 14 anos.
 
 

Sem comentários:

Mais lidas da semana