quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Portugal: FILHOS DE QUEM?

 


Fernando Dacosta – Jornal i, opinião
 
Ao dar o título “A Menina É Filha de Quem?” ao seu último romance (agora galardoado pelo Pen Club), Rita Ferro ironizava com uma das nossas características mais possidónias: o pretensiosismo social, ou seja, a snobeira da burguesia indígena.
 
Romances, comédias, enredos, folhetins estão cheios de tão provincianíssima avidez; pertencer à classe bem tornou-se objectivo de fatias crescentes de portugueses, a alcançar sem olhar a meios nem ardis. Meios e ardis que, a bem dizer, se resumem à cama, na respeitável variante do casamento, cerimónia adorada por todas as instituições.
 
Ao ver-se enevoada pela República e pela penúria, a velha aristocracia voltou-se para os novos-ricos e para os dirigentes políticos com as suas proles de militantes, apoiantes, cantantes, insaciáveis no abichar de tachos e arranjinhos.
 
À pala da democracia, tal superstrutura (o chamado centrão) tudo domina, tudo trafica há mais de 30 anos. Os lugares de privilégio pertencem-lhe em exclusivo: vejam-se os apelidos (sonantes) dos escolhidos para as posições de conforto ainda existentes, escolhidos não por competências mas por lóbis – de famílias, de partidos, de associações discretas, de clubes secretos, de apadrinhamentos oblíquos e iníquos.
 
Não são já precisas princesas reais, bastam vedetas róseas; não são mais necessários soberanos coroados, chegam padrinhos engalanados.
 
Nas suas memórias, Raul Brandão dizia que a república portuguesa era a melhor imitação da monarquia existente na Europa – por isso não havia necessidade de as alterar, de as referendar (às duas), mereciam-se uma à outra.
 
Escreve à quinta-feira
 

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