Daniel Oliveira –
Expresso, opinião, em Blogues
Este fim de semana,
Miguel Relvas apareceu na escola da JSD - um estabelecimento escolar que
deveria ser inspecionado, já que dali pode surgir mais um futuro
primeiro-ministro - e estava mais satisfeito do que nunca. Enquanto os
restantes ministro envelhecem, Relvas parece cada vez mais jovem. Ele
transborda vitalidade e alegria.
Ainda antes de Fernando
Seara se apresentar como candidato à Câmara Municipal de Lisboa, já Relvas
anunciava que contava com o seu voto. Começar com um patrocínio deste calibre
não augura nada de bom para Seara, que já contaria com uma campanha muito
difícil. Mas, ainda assim, Relvas tornou o seu apoio público. Devemos concluir
que acha que o seu apoio vale, para fora do PSD, alguma coisa. Que ignora que a
generalidade dos portugueses não o respeita.
A aparente
inconsciência de Relvas sobre a forma como o País o vê faz-nos pensar que vive
alheado da realidade. E que é essa jovial inconsciência a fonte da sua
vitalidade. Acho que é um engano. Relvas é um político de outra natureza. Não é
que a opinião que os outros têm dele lhe seja indiferente. Se fosse, não tinha
feito tudo, menos estudar, para ter um canudo. Só que a opinião que lhe
interessa não é a nossa.
Miguel Relvas é um
fraco demagogo. O seu estilo populista passa mal. Mas, nos corredores, é um
político hábil. As privatizações, o seu verdadeiro desígnio, lá se vão fazendo.
Na realidade, devemos chamar-lhes doações. A TAP renderá vinte milhões, que mal
dão para um pequeno troço de autoestrada. Metade da RTP, gerida totalmente por
privados e financiada pelas taxas pagas pelos cidadãos, deverá render menos que
isso. Mas conseguirá fazê-las. Na televisão e rádios públicas e até em alguma
comunicação privada está a conseguir fazer uma limpeza nunca vista. Quem se
mete com Relvas leva.
A forma descarada
como tudo isto se faz diz-nos que Relvas não se preocupa especialmente com a
sua imagem pública. Um político tão hábil não pode estar assim tão divorciado
da realidade. Também não me parece que o mova a riqueza pessoal. Nesta altura,
faria, com a boa agenda que tem no PSD, melhores negócios estando fora do
governo.
Miguel Relvas é um
arrivista. É essa a sua história. É isso que explica quase todas as decisões
que tomou no passado e toma no presente. A sua ascensão social não depende
exclusivamente ou especialmente da sua conta bancária. E muito menos da sua
popularidade. Depende da sua aceitação no meio a que sonha pertencer. Um meio
que, em Portugal, não é especialmente exigente. Nem do ponto vista cultural - e
Relvas cumpre os mínimos, próximos do zero, que a nossa elite económica exige
aos recém-chegados -, nem do ponto de vista ético. Apenas exige que se tenha
uma licenciatura para que não se tenha de usar o título de "senhor",
quem noutros lugares é um elogio e por cá é um insulto. E, acima de tudo, que
se tenha poder. Não respeita pilha-galinhas e sucateiros. Mas respeita quem lhe
dê acesso direto à mama estatal. E Relvas tem a chave do cofre e ligação direta
aos grandes empresários deste País.
Pedro Passos Coelho
é um deslumbrado. Deslumbra-se com a alta roda do poder europeu. Com o brilho
dos círculos restritos do poder. Com as ideias da moda e os académicos que as
vendem a retalho. Relvas, que é mais dotado de senso comum do que os fanáticos
que lhe fazem companhia no governo, sabe onde realmente está o poder que conta.
É no meio dele que vai buscar a sua energia. Não a disfarça com leituras
apressadas de sebentas ideológicas para iniciados. Nem essas fez. Quer ser um
entre os que realmente mandam neste País. E vai ser.
Todos os políticos
têm de ser um pouco vaidosos. Ninguém aguenta a visibilidade e o escrutínio
público desta função se não o for. Há uns que querem ser lembrados pelo seu
povo. A outros basta saber que um dia foram importantes. Homens como Relvas
preferem ser respeitados pelos poderosos. Viverem no meio deles. Não são os
mais perigosos. Predestinados como Vítor Gaspar assustam-me muito mais. Mas, de
rédea solta, saem bem caros a um País.
Sem comentários:
Enviar um comentário