Henrique Monteiro –
Expresso, opinião, em Blogues
Alguém percebeu o
que se passou na RTP? Eu não! Não percebi por que razão se demitiu um diretor
(profissional com mérito), nem por que razão uma administração se mostra tão
zelosa da deontologia jornalística (ando cá há muitos anos e sei que há e houve
administradores sensíveis ao tema, mas não m lembro de um que demitisse um
diretor por razões deontológicas).
Aparentemente, tudo
se passou porque a PSP pediu uns 'brutos' (imagens não editadas) de uma
manifestação violenta. Habitualmente, a PSP pede 'brutos'. Habitualmente pede
aos jornalistas que conhece. Habitualmente, as coisas ficam na redação - às
vezes são cedidas, outras não. A deontologia não impõe uma única atitude. Apenas
impõe que a decisão cabe, em primeiro lugar, aos jornalistas que tomaram as
imagens e, em segundo lugar, à direção editorial. De qualquer modo, nenhuma
administração tem a ver com isso.
Também
aparentemente, o escândalo deve-se ao facto de elementos da PSP terem entrado nas
instalações sem conhecimento da administração. Se isso é motivo de censura a um
diretor, que se censurem todos, eu incluído. Nunca me passou pela cabeça pedir
autorização à administração para deixar entrar quem quer que fosse na redação.
Penso que a nenhum diretor isso ocorre.
Vejamos: a lei
impõe uma separação rigorosa no plano deontológico e informativo entre direções
editoriais e administrações. Claro que estas podem demitir os diretores, mas
nunca podem interferir no seu trabalho jornalístico.
Perante isto, o que
se passou é incompreensível. Como é incompreensível que ninguém questione estes
princípios.
E eu, que por norma
não sou desconfiado, receio que tudo isto não seja mais do que uma preparação
para o que aí vem. E se o Expresso de sábado passado e o 'Público' de hoje têm
razão, o que aí vem não é bonito: a cedência de 49% da RTP a um grupo que é
alavancado financeiramente por uns angolanos que tem a sede numa offshore do
Panamá, tendo o presidente da RTP ido a Angola também para tratar deste tema.
É que há outra
coisa na lei que é clara como a água: a propriedade da Comunicação Social tem
de ser conhecida em toda a sua extensão. Ora a empresa em causa não é. Ninguém
sabe quais são os seus interesses, embora se desconfie fortemente. Já cá tem
uns jornais, como o Sol e muitos participações (incluindo dois por cento nesta
empresa e 15% na Cofina, detentora do Correio da Manhã e da Sábado, além de
estar ligada, porque em Angola tudo está ligado, presumivelmente a outra
empresa que assinou um contrato de promessa de compra da Controlinveste, que
tem o DN, o JN e a TSF). Estão a ver no que isto dá?
Aqui sim, pode
estar o verdadeiro escândalo do que virá a ser a RTP.
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