sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Portugal: UM ESCÂNDALO CHAMADO RTP

 


Henrique Monteiro – Expresso, opinião, em Blogues
 
Alguém percebeu o que se passou na RTP? Eu não! Não percebi por que razão se demitiu um diretor (profissional com mérito), nem por que razão uma administração se mostra tão zelosa da deontologia jornalística (ando cá há muitos anos e sei que há e houve administradores sensíveis ao tema, mas não m lembro de um que demitisse um diretor por razões deontológicas).
 
Aparentemente, tudo se passou porque a PSP pediu uns 'brutos' (imagens não editadas) de uma manifestação violenta. Habitualmente, a PSP pede 'brutos'. Habitualmente pede aos jornalistas que conhece. Habitualmente, as coisas ficam na redação - às vezes são cedidas, outras não. A deontologia não impõe uma única atitude. Apenas impõe que a decisão cabe, em primeiro lugar, aos jornalistas que tomaram as imagens e, em segundo lugar, à direção editorial. De qualquer modo, nenhuma administração tem a ver com isso.
 
Também aparentemente, o escândalo deve-se ao facto de elementos da PSP terem entrado nas instalações sem conhecimento da administração. Se isso é motivo de censura a um diretor, que se censurem todos, eu incluído. Nunca me passou pela cabeça pedir autorização à administração para deixar entrar quem quer que fosse na redação. Penso que a nenhum diretor isso ocorre.
 
Vejamos: a lei impõe uma separação rigorosa no plano deontológico e informativo entre direções editoriais e administrações. Claro que estas podem demitir os diretores, mas nunca podem interferir no seu trabalho jornalístico.
 
Perante isto, o que se passou é incompreensível. Como é incompreensível que ninguém questione estes princípios.
 
E eu, que por norma não sou desconfiado, receio que tudo isto não seja mais do que uma preparação para o que aí vem. E se o Expresso de sábado passado e o 'Público' de hoje têm razão, o que aí vem não é bonito: a cedência de 49% da RTP a um grupo que é alavancado financeiramente por uns angolanos que tem a sede numa offshore do Panamá, tendo o presidente da RTP ido a Angola também para tratar deste tema.
 
É que há outra coisa na lei que é clara como a água: a propriedade da Comunicação Social tem de ser conhecida em toda a sua extensão. Ora a empresa em causa não é. Ninguém sabe quais são os seus interesses, embora se desconfie fortemente. Já cá tem uns jornais, como o Sol e muitos participações (incluindo dois por cento nesta empresa e 15% na Cofina, detentora do Correio da Manhã e da Sábado, além de estar ligada, porque em Angola tudo está ligado, presumivelmente a outra empresa que assinou um contrato de promessa de compra da Controlinveste, que tem o DN, o JN e a TSF). Estão a ver no que isto dá?
 
Aqui sim, pode estar o verdadeiro escândalo do que virá a ser a RTP.
 

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