Luís Reis Ribeiro - Dinheiro Vivo
Em 2010, era pobre
quem ganhava menos de 434 euros por mês. Em 2011, o limite baixou para 420,5
euros. Foi a primeira vez que tal aconteceu
As regras do
Eurostat estão a ajudar a disfarçar o agravamento da pobreza em Portugal e
noutros sete países da União Europeia.
De acordo com o
gabinete de estatísticas europeu, o rendimento mediano a partir do qual uma
pessoa deixa de ser considerada pobre caiu de 5.207 euros anuais em 2010 para
5.046 euros em 2011 para o caso de um indivíduo solteiro sem filhos.
Esta quebra no
rendimento de referência, que serve para separar os pobres do resto da
população, é a primeira que acontece na série do Eurostat que remonta a 1995.
Ou seja, em 2010,
quem ganhasse menos de 434 euros entrava no perímetro da pobreza, mas em 2011,
o teto oficial definido pelas autoridades baixou para 420,5 euros mensais. Com
uma menor exigência no limite de pobreza, mais pessoas ficarão de fora da
definição oficial do fenómeno.
Para além de
Portugal, outros países registaram esta diminuição no rendimento de referência,
entre eles Grécia e Espanha.
O Dinheiro Vivo
está a tentar contactar o Eurostat sobre esta alteração.
Apesar da menor
exigência na definição de pobre, o Eurostat registou uma subida ligeira da
pobreza em Portugal, a taxa oficial de pobreza conseguiu aumentar ligeiramente
entre 2010 e 2011, de 17,9% da população para 18%. Há três anos que não havia
um aumento no indicador.
Esta estatística
corresponde apenas ao universo de pessoas cujo rendimento monetário fica abaixo
de 60% da mediana da distribuição.
Quer isto dizer que
existem agora (em 2011) cerca de 1.919.000 pobres em Portugal, mais 16 mil do
que em 2010.
1 comentário:
Eu sei que este "post" é antigo, mas anda aqui pela Internet a carece de um esclarecimento.
O Eurostat não faz magia nem adopta regras a seu belo prazer. A estatística a que a notícia faz referência é um indicador standard acordado a nível mundial. Mesmo que não fosse, as definições adoptadas pelo Eurostat são acordadas com os institutos de estatística dos 28 Estados-Membros da União Europeia após serem intensamente discutidos durante muitas reuniões onde estão representados todos os países. As estatísticas oficiais são produzidas de forma independente e não para agradar a uns ou a outros.
Relativamente ao indicador, trata-se de uma medida de pobreza relativa, que depende do nível de riqueza mediano do país. Para além deste indicador, o Eurostat também publica um indicador de riqueza absoluta que é calculado com base no custo de um cabaz de bens considerados essenciais. Ambos os indicadores são necessários. O Eurostat não estava a disfarçar o agravamento da pobreza. Foi é o jornalista que utilizou o indicador errado. Para se analisar a evolução da pobreza num periodo curto de tempo deve-se usar a pobreza absoluta. Para que serve então a riqueza relativa? Para fazer a análise para periodos mais longos, como 30 anos. Se usarmos a pobreza absoluta para periodos tão longos vamos facilmente concluir que a pobreza diminuiu muito quando na verdade é a riqueza geral da sociedade que está a aumentar. Afinal até os mais pobres de hoje seriam ricos alguns séculos atrás. É então nestes casos que se utilizam os indicadores de riqueza relativa.
Enviar um comentário