terça-feira, 11 de dezembro de 2012

RTP. Nuno Santos diz que poder político usa-o como "exemplo" para controlar jornalistas

 

Jornal i - Lusa, foto João Relvas/Lusa
 
Nuno Santos manifestou-se hoje "consciente" de que está a "servir de exemplo" para que "o poder político mostre à classe jornalística como se deve 'comportar'", afirmando não subsistirem dúvidas de que foi alvo de "saneamento político" da RTP.
 
"Tenho consciência que estou a servir de exemplo, como outros serviram no passado, para que o poder político mostre à classe jornalística como se deve 'comportar'”, afirmou o ex-diretor de Informação (DI) da RTP, numa conferência de imprensa em que explicou a sua posição relativamente ao processo disciplinar que lhe foi movido pelo Conselho de Administração da RTP, que pode levar ao seu despedimento.
 
Quanto à natureza "política" de um "saneamento" de que se diz alvo, Nuno Santos afirmou que "se dúvidas subsistissem que esse saneamento existiu, elas foram dissipadas com a decisão ilegal e ilegítima do Conselho de Administração da RTP [relativamente ao processo disciplinar decidido contra si pela equipa liderada por Alberto da Ponte] que teve a cobertura e intervenção do poder político, e isso deve merecer uma reflexão profunda a todos nós, jornalistas, e à sociedade portuguesa, em geral".
 
Instado a sustentar esta afirmação, Nuno Santos remeteu para eventuais declarações a prestar proximamente na Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC), que indicou na semana passada a intenção de iniciar um inquérito específico ao incidente da demissão do ex-diretor da RTP.
 
"Como disse no meu primeiro comunicado, tempos conturbados aguardam a RTP com a anunciada aquisição de parte do seu capital com o figurino que tem sido divulgado. (...) O clima de medo instalado faz com que muitos estejam em silêncio. Que ninguém se iluda. Depois de mim outros serão atingidos", afirmou.
 
O jornalista indicou que não recebeu ainda a nota de culpa relativa ao seu processo disciplinar, mas enumerou uma série de razões que terão estado por detrás da decisão da equipa de gestão da RTP.
 
"O conselho de administração da RTP entendeu que a circunstância de ter referido que fui sujeito a um julgamento sumário, consubstancia a prática de grave infração disciplinar", indicou Nuno Santos, indicando ainda que administração "entendeu também" que a explicitação que fez das razões que conduziram ao seu pedido de demissão - "muito específico e legalmente preservado cargo" - de diretor de informação da RTP seria uma "prática de grave infração disciplinar e de violação do dever de respeito".
 
"O Conselho de Administração da RTP entendeu que consubstanciam a prática de grave infração disciplinar algumas declarações que prestei sobre a ordem de serviço 14, a qual obriga a que a aquisição de conteúdos seja autorizada com setenta e duas horas de antecedência", acrescentou Nuno Santos.
 
Finalmente, entre o elenco das razões para a abertura do processo disciplinar, Nuno Santos acrescentou que "o Conselho de Administração repescou, ainda, a questão dos 'brutos' [imagens não editadas] que já dera por encerrada por saber que não tinha nem podia ter ressonância disciplinar".
 
Ora, neste domínio, sustenta, "é cristalino" que a administração da empresa "não tem competência disciplinar em matéria deontológica dos jornalistas, devendo qualquer intervenção nesta área ser vista como abusiva - por violadora - de uma instância própria de uma classe profissional".
 
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