Martinho Júnior,
Luanda
O AFRICOM foi
gerado como um Sub Comando unificado do EUCOM a 1 de Outubro de 2007 e só
ganhou estatuto de Comando a partir de 30 de Setembro de 2008, mantendo
sintomaticamente a sua estrutura-chave operacional em Stuttgard, na Alemanha,
com as “facilidades” dispersas no continente africano, de acordo com os
interesses evolutivos que a hegemonia vem promovendo, explorando expedientes de
“inteligência” civil e militar “techint” e “humint”…
O AFRICOM é uma
resposta à relativa perda de influência norte americana face aos interesses
emergentes que começaram a disputar sectores considerados de importância “vital”,
quer em relação ao petróleo e ao gás, quer em relação aos minerais considerados
“estratégicos”, pelo que se pode considerar dum instrumento geo estratégico e
geo político norte americano a favor da sua hegemonia.
Para todos os
efeitos, África continua a ser considerada apenas no mapa geo estratégico como
fornecedor de matérias primas e por isso mesmo os processos a que recorre a
hegemonia são de âmbito neo colonial: há investimentos que chegam de fora e se
emparceiram localmente no sector primário (exploração de matérias primas), nas
indispensáveis estruturas e infra estruturas que suportam esses investimentos,
ou que lhes estão acopladas, nos serviços afins e em pouco mais.
Desse modo as
multinacionais do petróleo, do gás e dos minérios são importantes para o
exercício dessa hegemonia, tal como para identificação do campo de manobra e o
AFRICOM aporta e reforça a esse “sistema” a capacidade de inteligência, de
influência, de manipulação e de ingerência, refinando os expedientes e
integrando os interesses dos europeus e da NATO, sobretudo aqueles interesses
que decorrem de parceiros com experiência colonial e continuidade neo colonial
(caso vigente da “FrançAfrique”), assim como interesses provenientes das
alianças arábicas (Qatar e Arábia Saudita como elementos “decisivos”).
Por essa razão o
AFRICOM, embora estimulasse a recolha de opinião sobre a instalação do seu
Comando em vários países africanos agitando a sensibilidade dos políticos, dos
militares e dos serviços de inteligência africanos, com mais de quatro anos de
plena actividade não tem pressa em sair de Stuttgard, socorrendo-se do CENTCOM
instalado em Doha (Qatar)!
A Operação “Turquoise”
levada a cabo no Ruanda em 1994 marcou o fim da “resistência” francesa ao “diktat”
de novo tipo norte americano que acabava de nascer, mesmo que ele tenha sido
produzido com o concurso da ONU e é a partir da Presidência de Nicolas Sarkozy
que os relacionamentos franceses em África e no Médio Oriente se tornaram “alinhados”,
nos “dossiers” principais do AFRICOM e CENTCOM, ou completamente “integrados”.
Sarkozy integrou a
França nos esforços mais agressivos no quadro da Primavera Árabe aliando-se aos
elementos mais radicais financiados pelas monarquias arábicas na Líbia e na
Síria e Hollande ensaia no Mali a contradição entre a ementa neo colonial
ocidental e a ementa neo colonial salafista e árabe, sob os olhos “soft power”
do AFRICOM, ou seja, da administração “democrata” de Barack Hussein Obama!
A Operção Turquoise
recorde-se, foi implementada com o recurso a 2.500 militares franceses e a
outros 500 provenientes de cada um dos países africanos como o Senegal, a Guiné
Bissau, o Chade, a Mauritânia, o Egipto, o Congo (Brazzaville) e o Níger, de
forma a propiciar uma “zona de segurança” aos refugiados, sobretudo hutus
ligados ao regime de Juvénal Habyarimana.
Com Sarkozy, como
os interesses no petróleo, no gás e nos minerais estratégicos dos franceses
estão interligados a outros interesses europeus, norte americanos e arábicos,
emparceirados por seu turno com os tão divididos quão confundidos interesses de
grupos das elites africanas, os franceses “esqueceram” as contradições
secundárias com os anglo-saxónicos e não tiveram mais dúvidas senão integrar
uma geo-estratégia e uma geo-política comum, reforçando o impacto e o campo de
acção neo colonial projectada nas Primaveras Árabes e na Síria!
Com François
Hollande a Operação “Serval” em curso no Mali deriva nesse padrão de
referências e pode dar azo a que o estilhaçar de Azawad crie condições para uma
espiral de situações insufladas pela Irmandade Muçulmana conjugada aos
salafistas e sob os impulsos de Riahd e Doha (estimulados por Washington)!
O AFRICOM
aproveita-se da disputa neo colonial perfilhada nos dois “padrões”, tensões que
se distendem não só no Sahel e Norte de África (com a Argélia na mira), mas
também a Sul do Sahel, onde houver radicais islâmicos implantados, ou em vias
de implantação, aproveitando a fluência migratória para sul, que chega a
Angola!
Nas grandes
operações em curso desde 2011 em África, os alinhamentos e as integrações
passaram-se a fazer por patamares:
- No vértice está o
AFRICOM, reforçado com todas as capacidades de inteligência em consonância com
o guarda-chuva propiciado pelos Estados Unidos;
- No plano
intermédio está a NATO e os Europeus, sobretudo as antigas potências coloniais
que operam as espinhas dorsais operativas (militares e de inteligência) – a
tese;
- Ainda no plano
intermédio estão os aliados arábicos como a Arábia Saudita e o Qatar,
promotores dos Irmãos Muçulmanos nas Primaveras Árabes e dos grupos radicais
que proliferam da Somália à Mauritânia, passando pela Líbia, Mali e Nigéria – a
antítese;
- Na base do “esforço
conjugado” está a “arraia-miúda”, trabalhada pelos sucessivos “partnership” e
pela proficuidade dos exercícios, das ligações diplomáticas, das actividades
governamentais “civis” e das influências das multinacionais, ou seja, os países
africanos que, com o engodo na “democracia representativa” tão do agrado de
suas “novas” elites, estão a ser estimulados a escolher entre o neo
colonialismo “ocidental” e o que é derivado das monarquias arábicas – a frágil
síntese forjada na dialéctica da contradição!
Para dar mais
substância ao papel dominante do AFRICOM nas panóplias africanas, ele cruza ao
seu nível e correspondendo aos estímulos e programas do Pentágono, as análises
e informações quer com outros sectores do Pentágono (EUCOM e CENTCOM por
exemplo), quer com expedientes distintos de aliados como Israel, Arábia Saudita
e outros, entre eles o Qatar!
Quer sobre a Líbia,
quer sobre o Mali os africanos não hesitaram senão em alinhar com as Resoluções
do Conselho de Segurança, até por que os emergentes, incluindo o emergente
africano que constitui a África do Sul, em nome das “democracias
representativas” não colocaram qualquer tipo de obstáculos à intervenção a partir
do céu e do espaço, que terminaram na Líbia no assassinato de Kadafi, na Síria
está projectado acabar com o assassinato de Hassad e no Sahel, se não houver
casamento que comece entre a TOTAL e o Qatar Petroleum na bacia de Taoudeni,
pode fazer proliferar e radicalizar as tensões!
De facto a China
tem sua própria geo estratégia e geo política de relacionamentos que não põe em
causa a militarização do continente segundo os padrões “inteligentes” estimulados
pelo AFRICOM; em alguns casos não é de admirar até alguns acondicionamentos
como os que a China promoveu no Sudão e no Sudão do Sul, com os olhos postos no
que lhe é essencial: a exploração do petróleo!
Vetos no Conselho
de Segurança por parte dos emergentes como a Rússia e a China são para casos
que ocorram no Médio Oriente ou na Ásia Central; para África estimulada pelas
tensões ao serviço do “soft power” norte americano-israelita não há vetos no
Conselho de Segurança e por isso é tão fácil a progressão dos interesses neo
coloniais ocidentais ou arábicos em vastas regiões, com as incidências a partir
das intervenções militares conformes à Líbia e agora ao Mali!
África continua sem
reagir: quando os elefantes lutam, quem sofre é o capim!
Gravura: Mapa de 2010
referente aos exercícios militares norte americanos e por si promovidos no
continente africano.
A consultar:
- 2012 POSTURE
STATEMENT: Statement of General Carter Ham Before House Armed Services
Committee – http://www.africom.mil/NEWSROOM/Article/8832/2012-posture-statement-statement-of-general-carter
- Promoting
interagency unity of effort between AFRICOM and US Embassy teams (ECT’s) in
Africa – http://www.dtic.mil/cgi-bin/GetTRDoc?AD=ADA563838
- America’s
conquest of Africa – http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=26886
- A Líbia, a África
e a Nova Ordem Mundial – http://resistir.info/libia/carta_aberta_ago11.html
- Opération
Turquoise – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Op%C3%A9ration_Turquoise
- Defining
FrançAfrique – http://survie.org/francafrique/article/defining-francafrique-by-francois
- Un gouvernement
au service des entreprises françaises en Afrique – http://survie.org/billets-d-afrique/2012/218-novembre-2012/article/un-gouvernement-au-service-des
- NATO: AFRICOM's
partner in penetrating Africa – http://www.thirdworldtraveler.com/NATO/NATO_AFRICOM_Africa.html
- La penetración
delos Estados Unidos en el África Subsahariana – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=29423
- Negro Canadá – http://www.rebelion.org/docs/149755.pdf
- Sarkozy
ressuscita o pré-carré com “novas tendências” – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/sarkozy-ressuscita-o-pre-carre-com.html
- La nación
africana occidental se convierte en el octavo país, en los últimos cuatro años,
en el que Occidente mata musulmanes – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=162320&titular=el-bombardeo-de-mali-destaca-todas-las-lecciones-del-intervencionismo-occidental-
- Opération Serval
– Wikipedia – http://fr.wikipedia.org/wiki/Op%C3%A9ration_Serval
- El papel de
Israel en la représsion mundial – http://www.rebelion.org/docs/162551.pdf
- O fardo da
hegemonia – http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2012/10/05/o-fardo-da-hegemonia/
- Um planeta à
beira do precipício – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/01/um-planeta-beira-do-precipicio.html
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