segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A “INTELIGÊNCIA” RESOLVE – II




Martinho Júnior, Luanda

O AFRICOM foi gerado como um Sub Comando unificado do EUCOM a 1 de Outubro de 2007 e só ganhou estatuto de Comando a partir de 30 de Setembro de 2008, mantendo sintomaticamente a sua estrutura-chave operacional em Stuttgard, na Alemanha, com as “facilidades” dispersas no continente africano, de acordo com os interesses evolutivos que a hegemonia vem promovendo, explorando expedientes de “inteligência” civil e militar “techint” e “humint”…

O AFRICOM é uma resposta à relativa perda de influência norte americana face aos interesses emergentes que começaram a disputar sectores considerados de importância “vital”, quer em relação ao petróleo e ao gás, quer em relação aos minerais considerados “estratégicos”, pelo que se pode considerar dum instrumento geo estratégico e geo político norte americano a favor da sua hegemonia.

Para todos os efeitos, África continua a ser considerada apenas no mapa geo estratégico como fornecedor de matérias primas e por isso mesmo os processos a que recorre a hegemonia são de âmbito neo colonial: há investimentos que chegam de fora e se emparceiram localmente no sector primário (exploração de matérias primas), nas indispensáveis estruturas e infra estruturas que suportam esses investimentos, ou que lhes estão acopladas, nos serviços afins e em pouco mais.

Desse modo as multinacionais do petróleo, do gás e dos minérios são importantes para o exercício dessa hegemonia, tal como para identificação do campo de manobra e o AFRICOM aporta e reforça a esse “sistema” a capacidade de inteligência, de influência, de manipulação e de ingerência, refinando os expedientes e integrando os interesses dos europeus e da NATO, sobretudo aqueles interesses que decorrem de parceiros com experiência colonial e continuidade neo colonial (caso vigente da “FrançAfrique”), assim como interesses provenientes das alianças arábicas (Qatar e Arábia Saudita como elementos “decisivos”).

Por essa razão o AFRICOM, embora estimulasse a recolha de opinião sobre a instalação do seu Comando em vários países africanos agitando a sensibilidade dos políticos, dos militares e dos serviços de inteligência africanos, com mais de quatro anos de plena actividade não tem pressa em sair de Stuttgard, socorrendo-se do CENTCOM instalado em Doha (Qatar)!

A Operação “Turquoise” levada a cabo no Ruanda em 1994 marcou o fim da “resistência” francesa ao “diktat” de novo tipo norte americano que acabava de nascer, mesmo que ele tenha sido produzido com o concurso da ONU e é a partir da Presidência de Nicolas Sarkozy que os relacionamentos franceses em África e no Médio Oriente se tornaram “alinhados”, nos “dossiers” principais do AFRICOM e CENTCOM, ou completamente “integrados”.

Sarkozy integrou a França nos esforços mais agressivos no quadro da Primavera Árabe aliando-se aos elementos mais radicais financiados pelas monarquias arábicas na Líbia e na Síria e Hollande ensaia no Mali a contradição entre a ementa neo colonial ocidental e a ementa neo colonial salafista e árabe, sob os olhos “soft power” do AFRICOM, ou seja, da administração “democrata” de Barack Hussein Obama!

A Operção Turquoise recorde-se, foi implementada com o recurso a 2.500 militares franceses e a outros 500 provenientes de cada um dos países africanos como o Senegal, a Guiné Bissau, o Chade, a Mauritânia, o Egipto, o Congo (Brazzaville) e o Níger, de forma a propiciar uma “zona de segurança” aos refugiados, sobretudo hutus ligados ao regime de Juvénal Habyarimana.

Com Sarkozy, como os interesses no petróleo, no gás e nos minerais estratégicos dos franceses estão interligados a outros interesses europeus, norte americanos e arábicos, emparceirados por seu turno com os tão divididos quão confundidos interesses de grupos das elites africanas, os franceses “esqueceram” as contradições secundárias com os anglo-saxónicos e não tiveram mais dúvidas senão integrar uma geo-estratégia e uma geo-política comum, reforçando o impacto e o campo de acção neo colonial projectada nas Primaveras Árabes e na Síria!

Com François Hollande a Operação “Serval” em curso no Mali deriva nesse padrão de referências e pode dar azo a que o estilhaçar de Azawad crie condições para uma espiral de situações insufladas pela Irmandade Muçulmana conjugada aos salafistas e sob os impulsos de Riahd e Doha (estimulados por Washington)!

O AFRICOM aproveita-se da disputa neo colonial perfilhada nos dois “padrões”, tensões que se distendem não só no Sahel e Norte de África (com a Argélia na mira), mas também a Sul do Sahel, onde houver radicais islâmicos implantados, ou em vias de implantação, aproveitando a fluência migratória para sul, que chega a Angola!

Nas grandes operações em curso desde 2011 em África, os alinhamentos e as integrações passaram-se a fazer por patamares:

- No vértice está o AFRICOM, reforçado com todas as capacidades de inteligência em consonância com o guarda-chuva propiciado pelos Estados Unidos;

- No plano intermédio está a NATO e os Europeus, sobretudo as antigas potências coloniais que operam as espinhas dorsais operativas (militares e de inteligência) – a tese;

- Ainda no plano intermédio estão os aliados arábicos como a Arábia Saudita e o Qatar, promotores dos Irmãos Muçulmanos nas Primaveras Árabes e dos grupos radicais que proliferam da Somália à Mauritânia, passando pela Líbia, Mali e Nigéria – a antítese;

- Na base do “esforço conjugado” está a “arraia-miúda”, trabalhada pelos sucessivos “partnership” e pela proficuidade dos exercícios, das ligações diplomáticas, das actividades governamentais “civis” e das influências das multinacionais, ou seja, os países africanos que, com o engodo na “democracia representativa” tão do agrado de suas “novas” elites, estão a ser estimulados a escolher entre o neo colonialismo “ocidental” e o que é derivado das monarquias arábicas – a frágil síntese forjada na dialéctica da contradição!

Para dar mais substância ao papel dominante do AFRICOM nas panóplias africanas, ele cruza ao seu nível e correspondendo aos estímulos e programas do Pentágono, as análises e informações quer com outros sectores do Pentágono (EUCOM e CENTCOM por exemplo), quer com expedientes distintos de aliados como Israel, Arábia Saudita e outros, entre eles o Qatar!

Quer sobre a Líbia, quer sobre o Mali os africanos não hesitaram senão em alinhar com as Resoluções do Conselho de Segurança, até por que os emergentes, incluindo o emergente africano que constitui a África do Sul, em nome das “democracias representativas” não colocaram qualquer tipo de obstáculos à intervenção a partir do céu e do espaço, que terminaram na Líbia no assassinato de Kadafi, na Síria está projectado acabar com o assassinato de Hassad e no Sahel, se não houver casamento que comece entre a TOTAL e o Qatar Petroleum na bacia de Taoudeni, pode fazer proliferar e radicalizar as tensões!

De facto a China tem sua própria geo estratégia e geo política de relacionamentos que não põe em causa a militarização do continente segundo os padrões “inteligentes” estimulados pelo AFRICOM; em alguns casos não é de admirar até alguns acondicionamentos como os que a China promoveu no Sudão e no Sudão do Sul, com os olhos postos no que lhe é essencial: a exploração do petróleo!

Vetos no Conselho de Segurança por parte dos emergentes como a Rússia e a China são para casos que ocorram no Médio Oriente ou na Ásia Central; para África estimulada pelas tensões ao serviço do “soft power” norte americano-israelita não há vetos no Conselho de Segurança e por isso é tão fácil a progressão dos interesses neo coloniais ocidentais ou arábicos em vastas regiões, com as incidências a partir das intervenções militares conformes à Líbia e agora ao Mali!

África continua sem reagir: quando os elefantes lutam, quem sofre é o capim!

Gravura: Mapa de 2010 referente aos exercícios militares norte americanos e por si promovidos no continente africano.

A consultar:
- 2012 POSTURE STATEMENT: Statement of General Carter Ham Before House Armed Services Committee – http://www.africom.mil/NEWSROOM/Article/8832/2012-posture-statement-statement-of-general-carter
- Promoting interagency unity of effort between AFRICOM and US Embassy teams (ECT’s) in Africa – http://www.dtic.mil/cgi-bin/GetTRDoc?AD=ADA563838
- A Líbia, a África e a Nova Ordem Mundial – http://resistir.info/libia/carta_aberta_ago11.html
- Opération Turquoise – Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Op%C3%A9ration_Turquoise
- Un gouvernement au service des entreprises françaises en Afrique – http://survie.org/billets-d-afrique/2012/218-novembre-2012/article/un-gouvernement-au-service-des
- NATO: AFRICOM's partner in penetrating Africa – http://www.thirdworldtraveler.com/NATO/NATO_AFRICOM_Africa.html
- La penetración delos Estados Unidos en el África Subsahariana – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=29423
- Sarkozy ressuscita o pré-carré com “novas tendências” – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/sarkozy-ressuscita-o-pre-carre-com.html
- La nación africana occidental se convierte en el octavo país, en los últimos cuatro años, en el que Occidente mata musulmanes – http://www.rebelion.org/noticia.php?id=162320&titular=el-bombardeo-de-mali-destaca-todas-las-lecciones-del-intervencionismo-occidental-
- Opération Serval – Wikipedia – http://fr.wikipedia.org/wiki/Op%C3%A9ration_Serval
- El papel de Israel en la représsion mundial – http://www.rebelion.org/docs/162551.pdf

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