Martinho Júnior, Luanda
1 – Cinquenta anos após o fim da guerra da Argélia inspirando a libertação de África do colonialismo e do “apartheid”, cinquenta anos depois do “Pan Africanismo” ter atingido o auge com Kwame N’Krumah (http://pt.wikipedia.org/wiki/Kwame_Nkrumah), África jaz como um despojo à mercê das potências ocidentais ávidas de recursos naturais e mentoras duma globalização de características marcadamente neo liberais, com as quais procuram construir “novas” premissas neo coloniais e redesenhar o mapa do continente à mercê de sua vontade, em pleno século XXI.
Há muito África não assistia ao agenciamento descarado, divisionismo, tribalismo e saque com as evidências de hoje, estimuladas pelas ingerências e manipulações das potências ocidentais e dos seus respectivos governos de turno.
A imposição dos padrões das “democracias representativas” ocidentais ao continente, facilita a aplicação dos interesses, desde logo pelas justificações que acarreta para o uso dos conteúdos e métodos das ingerências, das manipulações e da força, quase sempre desproporcionada em relação ao “inimigo” e sempre mascarada no jogo das mentiras que se fazem passar como verdades nos media, instrumentalizados pela concentração do poder económico, financeiro e político (lembro o “Rapidinhas do Martinho – 59 – França – Pequena radiografia do poder global” – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/11/rapidinhas-do-martinho-59.html).
A França, com Sarkozy à frente, está a estimular ingerências que se identificam com os velhos tempos do “pré carré”, explorando o relativo êxito das potências cujas multinacionais se aproveitam do neo liberalismo e da hegemonia unilateral, desde o caso de instabilidade crónica do Sudão, ao da instabilidade que se criou por via da força na Líbia e agora o que vai eclodindo na África do Oeste, aproveitando o actual cenário do Mali e a expansão do arco de crise.
Os ocidentais que compõem o quadro da NATO e os seus parceiros, procuram a todo o transe arredar outros interesses das regiões onde provocam impactos, em especial quando esses interesses têm políticas de relacionamento muito mais justas que as suas, pois elas colocam-nos em desvantagem.
Os relacionamentos da China em África são um dos alvos estratégicos indirectos das ingerências, conforme a fragmentação do Sudão e da Líbia e na “Françafrique” a “coexistência” não é harmoniosa, por que os interesses e os métodos não são coincidentes e são no mínimo concorrentes.
2 – Na Líbia os aliados tiveram, segundo os estudos feitos sobre a campanha de inteligência e militar, a “sorte” do seu lado (“La guerre de Libye aurait pu mal tourner pour les Alliés » - http://www.voltairenet.org/La-guerre-de-Libye-aurait-pu-mal; http://www.voltairenet.org/IMG/pdf/Accidental_Heroes.pdf):
«En définitive, l’opération a été conçue en sous-estimant la capacité de résistance libyenne et —malgré l’intitulé Protecteur unifié— dans une certaine cacophonie entre alliés. Elle aurait pu mal tourner si la Jamahiriya s’était montrée offensive.
Bien que de nombreuses données restent encore confidentielles, ce rapport confirme plusieurs points importants, dont :
• Le président Sarkozy a ordonné aux forces françaises d’attaquer avant le moment prévu par les alliés.
• Les Français et les Britanniques ont partagé leurs renseignements, mais les ont cachés aux autres membres de l’Opération (sauf les USA bien sûr).
• Des Forces spéciales étaient déployées au sol dès le 23 février pour évacuer les ressortissants des États qui allaient constituer la coalition (alors que la Résolution 1973 n’a été adoptée que le 17 mars).
• Ce sont les forces US qui ont détruit aux 3/4 le système de défense aérienne libyen.
• Les hélicoptères ont été engagés avec prudence, uniquement lorsque le terrain avait été préparé par des bombardements. Les états-majors ne pouvaient de toute manière pas les utiliser en attaque dans un territoire aussi vaste.
• La Royal Navy a testé avec succès l’usage d’hélicoptères Apache depuis un porte-hélicoptères.
• Les Forces spéciales franco-britanniques ont notamment servies à encadrer les rebelles qui n’avaient aucune formation militaire. Insuffisamment nombreuses pour cette tâche, elle ont été aidées par les Forces spéciales égyptiennes et dans une moindre mesure jordaniennes.
• En mai, la Tunisie a accepté d’héberger et de faciliter la création d’un centre de renseignement à Djerba.
• Les rebelles ont été armés avec un matériel OTAN par la France avec l’aide du Qatar».
3 – Sarkozy está a explorar as repercussões do êxito dos aliados da NATO e de seus parceiros árabes na Líbia, tendo em vista os imensos interesses que estão em jogo no Sahara / Sahel e na África do Oeste, constate-se por exemplo a página sobre a África do Oeste do “Jeune Afrique” (http://afrique-ouest.jeuneafrique.com/president-entretien-alain-juppe-senegal.html) que ilustram as frenéticas actividades de Alain Juppé antes das próximas eleições presidenciais em França.
O urânio, o petróleo e os mais diversos minerais existem e estão muitos deles à mercê das multinacionais tuteladas pelas potências ocidentais nos países do interior e sem acesso ao mar.
Grande parte dessas riquezas encontram-se na imensidão do Sahara / Sahel que corta a transversal do continente entre Porto Sudão e a capital da Mauritânia (conforme ilustra o mapa).
À volta de África, no Atlântico, no Mediterrâneo e no Índico, a França possui um corolário de bases e de meios que, conjugando com outros parceiros no quadro da NATO e utilizando relacionamentos bilaterais privilegiados, cerca África e predispõe-se não só ao controlo das costas marítimas, mas também visam potenciar a capacidade de intervenção onde quer que seja no interior profundo do continente, incluindo no vasto Sahara / Sahel.
A contínua fragilização dos estados que possuem as heranças fronteiriças que advêm da Conferência de Berlim, em função também das políticas neo liberais que viciam as suas elites, tal como em função de alguns dos rescaldos do contencioso líbio, fazem a inteligência francesa “sentir-se em casa”, como “nos velhos tempos”, até por que no essencial nada mudou e os “bombeiros de serviço” (na África do Oeste são-no neste momento Alassane Ouattara e Blaise Campaoré), estão a portar-se de acordo com as expectativas, as últimas das quais transmitidas por Alain Juppé ao colégio dos Presidentes africanos presentes em Dakar, por altura da tomada de posse de Macky Sall, novo Presidente do Senegal, (“Comment les Chefsd’+etat de la CEDEAO reagisse à la crise” – http://www.jeuneafrique.com/Article/ARTJAWEB20120403183849/mali-ghana-gambie-blaise-compaoremali-comment-les-chefs-d-tat-de-la-cedeao-reagissent-a-la-crise.html).
A “Françafrique” foi restaurada com Sarkozy (“50 years later, Françafrique is alive and well” – http://www.english.rfi.fr/africa/20100216-50-years-later-francafrique-alive-and-well):
“Keeping friends in power.
On the African side, Françafrique is seen by many leaders as life insurance.
It is the guarantee of financial support to failing economies through official development assistance (APD), the intercession of Paris with the IMF and the World Bank, and monetary support through the CFA franc backed by the French Treasury and the euro.
This perpetuates regimes that may be undemocratic but are loyal to France.
Has the arrival of Nicolas Sarkozy changed matters?
No, wrote Cameroonian historian Achille Mbembé in the Douala daily Le Messager.
The cartel satraps - of [Gabon’s] Omar Bongo, [Cameroon’s] Paul Biya, [Congo’s] Sassou Nguesso to [Chad’s] Idriss Déby, [Togo’s Gnassingbé] Eyadema and others - welcomed what is clearly the choice of continuity in the management of Françafrique - this system of reciprocal corruption which, since the end of colonial occupation, ties France to its African henchmen.
Since then, Ali Bongo has succeeded his father and the Senegalese Karim Wade appears to be preparing to succeed his father in the 2012 presidential election.
In fact, to many African heads of state, Françafrique remains an irreplaceable instrument for holding on to power: a guarantee against democratic change, a sign of presidency for life, indeed, a promise of inheriting power.
The strength of these regimes is in leading France to believe that they are her only steadfast allies, in contrast to their opponents, whether politicians or rebels.
France’s weakness is believing that this is true, for convenience sake rather than out of naivety.
We’re not going to fall out with those who do us great service, says Elysée secretary general Claude Guéant.
That’s a far cry from Barack Obama’s speech in Accra last August.
Africa does not need strongmen, but strong institutions, he said.
Françafrique is a utilitarian view of Africa. But it means that France runs a very real risk of being out of step with African youth”.
4 – Por via de seus agentes africanos no âmbito da “Françafrique”, Sarkozy age em relação aos acontecimentos no Mali, interessado também que os tuaregues tenham um lar, a maneira mais expedita de os poder fixar e poder também melhor manipular (“Qui sont les rebellesdu MNLA?” – http://www.jeuneafrique.com/Article/JA2663p010-012.xml0/mali-rebellion-att-rebellion-touareguenord-mali-qui-sont-les-rebelles-du-mnla.html).
De facto, enquanto eles se consolidam em Azawad, menos pressão a França vai sentir na área de exploração de urânio da Areva a norte do Níger e, se essa pressão crescer, agora a França sabe onde agir com suas capacidades de inteligência e militar, inclusive usando o argumento do resgate de reféns mantidos escondidos por grupos de características extremistas, mesmo que eles nada tenham com o MNLA.
A França entretanto está por detrás das iniciativas do ECOWAS e CEDEAO (em especial com os Presidentes Alassane Ouattara, da Costa do Marfim e Blaise Campaoré, do Burkina Faso), assim como em suporte da União Africana (onde pondera Jean Ping) em relação ao “monitoramento” da actual situação no Mali, levando em conta os dados históricos e antropológicos essenciais: a asa sudoeste do Mali (1/3 do território nacional), onde de Bamako a Mopti, em pleno delta interior do Níger, se sedentarizaram as comunidades e a asa nordeste do Mali (2/3 do território maliano), onde os nómadas dominam.
Depois da desagregação da URSS e daataracção da Europa do Leste, vinte anos depois da última “balcanização” provocada pela intervenção da NATO na fragilizada Jugoslávia, na sequência da “balcanização” do Médio Oriente (em curso), a “balcanização” da África do Norte entra em velocidade de cruzeiro.
Fragilizar as periferias da União Europeia é o plano da NATO cada vez mais evidente, com todos os sentidos postos nas riquezas naturais.
A “Françafrique” em pleno proveito neo liberal, está pronta a embarcar na aventura no Norte de África, que visa sem dúvida, entre os muitos objectivos da “agenda”, redesenhar o mapa do continente!
Consultas a realizar:
- Coisas que a globalização tece – 04 – A muito subtil “Françafrique” – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/01/coisas-que-globalizacao-tece-04.html
- Rapidinhas do Martinho – 68 – Uma contínua ingerência neo colonial – Opération Corymbe! – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/01/rapidinhas-do-martinho-68.html
- Sarkozy à beira do abismo – I – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/03/sarkozy-beira-do-abismo-i.html
Mapa:
Mancha transversal do Sahara / Sahel entre Porto Sudão e a capital da Mauritânia, Nouakchott; é nessa transversalidade que as comunidades nómadas, incluindo os tuaregues, se tornaram de há muito dominantes. Em relação ao Mali, é visível o seu espaço na asa nordeste do território.
3 comentários:
Les raisons françaises de la déstabilisation du Mali , par Calixte Baniafouna
Des intérêts français, la découverte du pétrole au Mali en est le déclencheur des hostilités. Bamako, 12 mai 2002, aussitôt élu président de la République avec 64,35% des voix au deuxième tour, Amadou Toumani Touré (ATT pour les intimes) fait un rêve, celui de faire du Mali un pays producteur du pétrole. Mais le rêve ne dit pas que l’or noir est un or du diable, qui insère son producteur au rang de la malédiction où d’autres anciennes colonies françaises comme le Congo Brazzaville, le Gabon... sont depuis, tenus en laisse par Paris. Le Mali peut toujours jouer le jeu de la démocratie en organisant des élections crédibles et en assurant des alternances dans la paix tant qu’une goutte de pétrole ne coule pas encore du bassin de Taoudéni dans le nord du pays. Taoudéni ? C’est à la fois une cuvette dont le dépôt centre atteint plus de 5000 m d’épaisseur et une superficie d’environ 1.500.000 km², soit le plus vaste bassin sédimentaire on-shore d’Afrique occidentale, qui s’étend hors du Mali au Niger, en Mauritanie, au Burkina Faso et en Algérie. Cette précision est d’une importante capitale à noter pour la suite de l’analyse...
http://french.irib.ir/africa/articles/item/79794-les-raisons-fran%C3%A7aises-de-la-d%C3%A9stabilisation-du-mali--par-calixte-baniafouna
La Françafrique vue par Sarkozy
7 avril 2012 Rubrique: Nord-Mali,Politique
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Le Quotidien d’Oran - Depuis que le grand humaniste BHL a décidé de s’occuper de ce qui se passe du côté de la Libye, pour rendre service à ses frères de religion, la région du Sahel n’en finit plus de vivre au rythme du ballet des armes. La chute de Kadhafi a précipité avec elle l’équilibre, déjà vacillant, d’une partie du monde appauvrie par le colonialisme français. Kadhafi assassiné par Al Jazeera, ses armes ont été distribuées aux nombreuses factions armées qui zonent dans le désert. Une véritable braderie sous le regard de Paris qui espérait, en encourageant le chaos, revenir par la grande porte en Afrique. La France, dont le passé colonial cher à certains nostalgiques ne s’est jamais autant bien porté que lors du quinquennat d’un ersatz de Napoléon, a bombardé la Libye et tué des centaines de civils pour faire payer au Colonel son affront. Au Tchad et à Paris même.
Cette France dont les troupes sont déjà au Sahel, multipliant les bavures et pourchassant des demandeurs de rançon que sa politique même à fini par armer. Ce qui se passe actuellement au Mali, avec un coup d’Etat qui sent les années soixante-dix et la Françafrique de papa, est la conséquence directe de l’appel aux armes lancé par le vrai sioniste et faux intellectuel, Bernard-Henri Lévy. Les touaregs, après en avoir eu marre des promesses de Bamako, ont décidé, de retour de Tripoli, de prendre leur destin par la crosse d’une kalachnikov mais ils ont vite été doublés par la mouvance salafiste du Mouvement de libération de l’Azawad qui s’est trouvé être l’un des plus grands bénéficiaires de l’arsenal libyen. Avec une puissance de feu impressionnante, les Mujoa et autres «Ansar Dine»ont pris le Nord d’un Mali à la dérive. Tout ça aux frontières algériennes qui se retrouvent en premières lignes face à des islamistes surarmés et qui ont déjà, par deux fois, frappé à l’intérieur des terres algériennes. La France, qui veut légitimer sa présence militaire dans la région, a déjà sonné à la porte de l’UE pour chercher un parapluie bruxellois. Une «mission de sécurité» au Niger devrait ainsi être mise sur pied avec pour mission officielle la formation des forces de sécurité locales et améliorer les moyens de lutte contre le terrorisme et le crime organisé mais au-delà c’est le sort des 12 otages européens, dont 6 français qui préoccupent le plus l’Europe. Cette intrusion militaire, toute européenne qu’elle est, semble plutôt favorable à Paris dont la présence, qui a été considérablement renforcée à partir de 2010 dans de nombreux pays de la région comme le Niger, la Mauritanie ou encore le Mali, a été fortement critiquée par l’Algérie particulièrement. Une Algérie qui finalement se retrouve dangereusement au centre d’une région sous l’emprise d’un salafisme rampant qui a pris le pouvoir soit par les urnes, soit par les armes mais avec la bénédiction des grandes puissances. Une Algérie qui se dirige doucement mais sûrement pour donner son oui à un «Africa corps» longtemps exigé par Washington.
Le Quotidien d’Oran, Algérie, édition du 7 avril 2012 (par Moncef Wafi)
http://www.maliweb.net/news/politique/2012/04/07/article,59098.html
THE SPECTER OF AL QAEDA IN AFRICA: A Cover for Western Reconquest of the Continent
The "Al Qaeda Brand", a Lucrative “Investment”....
by Finian Cunningham
A British foreign policy think tank has this week released a study claiming that the terror group Al Qaeda is regrouping in Africa creating “an arc of instability” from the Western Sahel to the Eastern Horn.
The Royal United Services Institute, based in Whitehall, London, and closely aligned to official British foreign policy, cites “disturbing new trends” across the continent that “Osama bin Laden’s terror network” is seeking influence in Somalia, North Africa and the Western Sahara-Sahel.
“If correct [sic], this assessment would raise the worrying prospect of an arc of regional instability encompassing the whole Sahara-Sahel strip and extending through to East Africa, which the now weakened Al Qaeda-core could well exploit to regroup, reorganise and reinvigorate its terrorist campaign against the West,” the report said.
...
http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=30151
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