José Ribeiro –
Jornal de Angola, opinião, em A Palavra ao Diretor
Os analistas
vaticinam um futuro próspero para África num momento em que a crise mundial
fustiga os países mais desenvolvidos onde alastram bolsas de pobreza, numa
realidade que ninguém imaginava há quatro anos, quando o sistema financeiro
norte-americano entrou em colapso, arrastando consigo a Zona Euro e as grandes
potências mundiais. Peritos em ciências sociais dizem mesmo que o continente se
perfila como um refúgio seguro dos investidores e tábua de salvação para
milhões de quadros qualificados que mergulharam no desemprego de longa duração
nos seus países.
África tem quase tudo para ser feliz. Matérias-primas estratégicas, a população
mais jovem do mundo, terras aráveis de alta produção, climas propícios à
produção agrícola e pecuária, que garantem a segurança alimentar, mares ricos
em espécies valiosas de pescado. Falta investigação e faltam escolas de excelência
para formar os jovens. Os africanos têm imenso, mas para atingirem o paraíso,
precisam desse golpe de asa, que é a investigação e desenvolvimento, a formação
técnica e profissional, as escolas superiores de excelência.
Angola já compreendeu essa deficiência no sistema que há-de dar aos angolanos a
felicidade, a abundância e o bem-estar. O Executivo, nos últimos dez anos, fez
uma aposta decisiva em todos os graus de ensino e levou escolas superiores a
todas as províncias. A fase da quantidade chegou ao fim. Vamos agora apostar na
qualidade. A mensagem do Presidente José Eduardo dos Santos, quando recebeu
cumprimentos de ano novo, nesse aspecto foi muito clara. O Orçamento Geral do
Estado contempla verbas reforçadas para desenvolver o ensino em todos os níveis
e particularmente o universitário.
O Presidente da República associou o desenvolvimento económico à existência de
mão-de-obra qualificada e quadros de excelência. De resto, esse é o problema de
Angola e de África. Uma vez resolvido, o Éden regressa ao continente, depois de
ter sido abandonado em Nakuru, há tantos milénios, na época das grandes
migrações para Norte e que conduziu os africanos às sete partidas do mundo.
Temos potencialidades e condições naturais para que África seja o berço de ouro
da Humanidade. Mas precisamos cada vez mais de elites sem complexos que
interajam com o eurocentrismo dominante e as hegemonias mundiais e ajudem a
afastar as ameaças que se repetem sobre a Humanidade.
Este ano África foi particularmente fustigada com as guerras de “baixa
intensidade” que no terreno provocam milhões de mortos e feridos, mais outros
tantos refugiados e deslocados. Alguém quer impedir que África seja o paraíso
renascido do Vale de Nakuru. Ou o refúgio seguro de investidores, que têm no
continente todas as matérias-primas estratégicas em grande abundância, na justa
medida que foram exauridas pelas potências colonizadoras. África está a ser
novamente agredida. Vimos isso na Costa do Marfim, com tropas especiais
francesas e da ONU a imporem a lei do mais forte, fazendo tábua rasa dos órgãos
constitucionais do país. No maior cinismo, os agressores mostraram fotos do
Presidente Gbagbo e sua esposa a serem torturados e humilhados. E os vencedores
levaram as vítimas ao Tribunal Penal Internacional.
Na Guiné-Bissau assistimos a mais um golpe de estado, desta vez menos sangrento
que os anteriores. Mas no desenrolar dos acontecimentos começámos a compreender
as razões que levaram à guerra de baixa intensidade na Costa do Marfim. Os
golpistas são apoiados por aquele país. Na Líbia, a OTAN assassinou o
Presidente Khadafi e as potências ocidentais, em especial a França, destruíram
o país, transformando-o num reservatório de petróleo barato para as suas
ambições.
O que se passa no Mali é inquietante. Os autores do golpe de estado são hoje
apoiados pelas potências ocidentais e pelos mesmos que apoiam os golpistas da
Guiné-Bissau. O país está a ser pura e simplesmente destruído, com o imenso
Norte nas mãos de rebeldes, em nome de uma fé religiosa que apenas serve para
esconder as verdadeiras intenções: continuar a dividir o continente para cada
um debicar o seu pedaço.
Na República Centro Africana os “rebeldes” ameaçam marchar sobre a capital e
destituir o governo. Ocuparam regiões ricas em diamantes e outros minerais
estratégicos. Os que os instigam e armam já estão a facturar. A República
Democrática do Congo vive o mesmo problema. A região do Kivu, riquíssima em
diamantes e outros recursos mineiros estratégicos, está a saque. A ONU sabe
quem está por trás das agressões, mas nada faz e os seus “capacetes azuis”
ficam a assistir ao saque, numa atitude de clara cumplicidade, por omissão.
O que se passa no Sudão é preocupante, pelo passado que levou ao desmembramento
do país, mas sobretudo pelo presente, que ameaça transformar a região num
imenso território de salteadores. O mesmo acontece nas rotas marítimas
continentais, onde piratas mal disfarçados fazem tudo para estrangular as
comunicações marítimas, fundamentais para o crescimento sustentado de África.
As ameaças que recaem sobre o continente são para levar muito a sério. O ano
que acaba, foi mau. Espero que o Ano Novo seja muito melhor para os africanos.
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