sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

AS NOVAS AMEAÇAS EM ÁFRICA




José Ribeiro – Jornal de Angola, opinião, em A Palavra ao Diretor

Os analistas vaticinam um futuro próspero para África num momento em que a crise mundial fustiga os países mais desenvolvidos onde alastram bolsas de pobreza, numa realidade que ninguém imaginava há quatro anos, quando o sistema financeiro norte-americano entrou em colapso, arrastando consigo a Zona Euro e as grandes potências mundiais. Peritos em ciências sociais dizem mesmo que o continente se perfila como um refúgio seguro dos investidores e tábua de salvação para milhões de quadros qualificados que mergulharam no desemprego de longa duração nos seus países.

África tem quase tudo para ser feliz. Matérias-primas estratégicas, a população mais jovem do mundo, terras aráveis de alta produção, climas propícios à produção agrícola e pecuária, que garantem a segurança alimentar, mares ricos em espécies valiosas de pescado. Falta investigação e faltam escolas de excelência para formar os jovens. Os africanos têm imenso, mas para atingirem o paraíso, precisam desse golpe de asa, que é a investigação e desenvolvimento, a formação técnica e profissional, as escolas superiores de excelência.

Angola já compreendeu essa deficiência no sistema que há-de dar aos angolanos a felicidade, a abundância e o bem-estar. O Executivo, nos últimos dez anos, fez uma aposta decisiva em todos os graus de ensino e levou escolas superiores a todas as províncias. A fase da quantidade chegou ao fim. Vamos agora apostar na qualidade. A mensagem do Presidente José Eduardo dos Santos, quando recebeu cumprimentos de ano novo, nesse aspecto foi muito clara. O Orçamento Geral do Estado contempla verbas reforçadas para desenvolver o ensino em todos os níveis e particularmente o universitário.

O Presidente da República associou o desenvolvimento económico à existência de mão-de-obra qualificada e quadros de excelência. De resto, esse é o problema de Angola e de África. Uma vez resolvido, o Éden regressa ao continente, depois de ter sido abandonado em Nakuru, há tantos milénios, na época das grandes migrações para Norte e que conduziu os africanos às sete partidas do mundo. Temos potencialidades e condições naturais para que África seja o berço de ouro da Humanidade. Mas precisamos cada vez mais de elites sem complexos que interajam com o eurocentrismo dominante e as hegemonias mundiais e ajudem a afastar as ameaças que se repetem sobre a Humanidade.

Este ano África foi particularmente fustigada com as guerras de “baixa intensidade” que no terreno provocam milhões de mortos e feridos, mais outros tantos refugiados e deslocados. Alguém quer impedir que África seja o paraíso renascido do Vale de Nakuru. Ou o refúgio seguro de investidores, que têm no continente todas as matérias-primas estratégicas em grande abundância, na justa medida que foram exauridas pelas potências colonizadoras. África está a ser novamente agredida. Vimos isso na Costa do Marfim, com tropas especiais francesas e da ONU a imporem a lei do mais forte, fazendo tábua rasa dos órgãos constitucionais do país. No maior cinismo, os agressores mostraram fotos do Presidente Gbagbo e sua esposa a serem torturados e humilhados. E os vencedores levaram as vítimas ao Tribunal Penal Internacional.

Na Guiné-Bissau assistimos a mais um golpe de estado, desta vez menos sangrento que os anteriores. Mas no desenrolar dos acontecimentos começámos a compreender as razões que levaram à guerra de baixa intensidade na Costa do Marfim. Os golpistas são apoiados por aquele país. Na Líbia, a OTAN assassinou o Presidente Khadafi e as potências ocidentais, em especial a França, destruíram o país, transformando-o num reservatório de petróleo barato para as suas ambições.

O que se passa no Mali é inquietante. Os autores do golpe de estado são hoje apoiados pelas potências ocidentais e pelos mesmos que apoiam os golpistas da Guiné-Bissau. O país está a ser pura e simplesmente destruído, com o imenso Norte nas mãos de rebeldes, em nome de uma fé religiosa que apenas serve para esconder as verdadeiras intenções: continuar a dividir o continente para cada um debicar o seu pedaço.

Na República Centro Africana os “rebeldes” ameaçam marchar sobre a capital e destituir o governo. Ocuparam regiões ricas em diamantes e outros minerais estratégicos. Os que os instigam e armam já estão a facturar. A República Democrática do Congo vive o mesmo problema. A região do Kivu, riquíssima em diamantes e outros recursos mineiros estratégicos, está a saque. A ONU sabe quem está por trás das agressões, mas nada faz e os seus “capacetes azuis” ficam a assistir ao saque, numa atitude de clara cumplicidade, por omissão.

O que se passa no Sudão é preocupante, pelo passado que levou ao desmembramento do país, mas sobretudo pelo presente, que ameaça transformar a região num imenso território de salteadores. O mesmo acontece nas rotas marítimas continentais, onde piratas mal disfarçados fazem tudo para estrangular as comunicações marítimas, fundamentais para o crescimento sustentado de África.

As ameaças que recaem sobre o continente são para levar muito a sério. O ano que acaba, foi mau. Espero que o Ano Novo seja muito melhor para os africanos. 

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