Em uma carta
pública ao governo, três dos maiores municípios do norte da Inglaterra –
Liverpool, Newscatle e Sheffield – advertiram que o corte adicional de 2% que o
governo anunciou em dezembro e que se soma aos 28% de cortes orçamentários em
curso está devolvendo o país a um mundo “dickensiano”. Os novos cortes vão
provocar distúrbios sociais e aumentar a delinquência, diz a carta.
Marcelo Justo –
Carta Maior
Londres - Com a
economia à beira da terceira recessão em três anos, o primeiro ministro David
Cameron chamou os britânicos em sua mensagem de fim de ano a manter o otimismo
e insistiu que a austeridade é o “caminho correto”. Uma pesquisa publicada
pouco antes de suas palavras mostra que 43% da população pensa que a situação
vai piorar em 2013; só 20% acham que as coisas vão melhorar. Uma mensagem
similar foi a dos municípios de Liverpool, Newcastle e Sheffield que advertiram
o governo em uma carta pública de que os novos cortes vão provocar distúrbios
sociais e a crescente delinquência no norte do país, a região esquecida do
Reino Unido.
O primeiro ministro britânico reconheceu que 2012 havia sido um ano “duro”, mas assinalou que o programa de austeridade (140 bilhões de dólares de cortes entre 2010 e 2015) era o único modo de lidar com o desafio global que representam economias emergentes como China, Índia e Indonésia. “Em um mundo tão competitivo, não poderemos triunfar se estivermos sufocados pela dívida”, disse Cameron. O primeiro ministro assegurou que essa dívida foi reduzida em cerca de 25 bilhões de dólares e que quase 500 mil pessoas a mais, em relação ao início do ano, estão empregadas. “Podemos olhar o futuro com otimismo e realismo. Realismo porque sabemos que não podemos solucionar problemas de décadas da noite para o dia. Otimismo porque estamos fazendo um progresso tangível”, disse Cameron.
Convencer os britânicos a adotar esse humor exigirá algo mais que uma boa onda “new age”. O consumo doméstico caiu fortemente nos dois anos e meio do governo da coalizão conservadora-liberal democrata pelo medo gerado pelo seu programa de austeridade e pela enorme dívida pessoal dos britânicos (calculada em quase dois bilhões de dólares).
Neste sentido, a pesquisa publicada pelo jornal The Observer deixa claro que os britânicos têm hoje muito mais “realismo” do que “otimismo”, algo que não vai ajudar a tirar a economia do pântano pela via do consumo. Com uma contração econômica de 0,1% em 2012, o pessimismo é mais marcado entre os maiores de 55 anos do que entre os jovens, mas o panorama geral da pesquisa é sombrio.
A percepção é mais sombria no norte do que no sul do país. Em uma carta pública ao governo, três dos maiores municípios do norte da Inglaterra – Liverpool, Newscatle e Sheffield – advertiram que o corte adicional de 2% que o governo anunciou em dezembro e que se soma aos 28% de cortes orçamentários em curso está devolvendo o país a um mundo “dickensiano”.
“A delinquência está aumentando, as tensões sociais e comunitárias, os problemas nas ruas vão terminar em uma dissolução social se não mudarmos de rumo”, assinalaram os diretores dos três conselhos municipais (na Inglaterra não há governo provincial). O norte, mais pobre e dependente do emprego governamental, foi duramente golpeado pelo programa de cortes.
Em meio a tantas atribulações, a coalizão no governo teve uma boa notícia. Ainda que as pesquisas sigam mostrando o trabalhismo com 10 pontos de vantagem nas intenções de voto, em um aspecto chave – a economia – os britânicos seguem confiando mais nos conservadores. Esse passe de mágica deve-se a que, nas eleições de 2010, os conservadores conseguiram convencer a maioria de que a crise econômica vivida pelo Reino Unido tinha como causa a irresponsabilidade fiscal dos trabalhistas e não o estouro financeiro e o massivo resgate governamental dos bancos.
Esta percepção contou com o incalculável auxílio de alguns meios de comunicação dominados por uma visão neoliberal. Dada a recessão em que a economia mergulhou este ano e o fato de que as metas de equilíbrio fiscal projetadas para 2015 foram estendidas até 2018 porque a austeridade está piorando as coisas, o mistério é quanto tempo mais vai durar a magia.
Tradução: Katarina Peixoto
O primeiro ministro britânico reconheceu que 2012 havia sido um ano “duro”, mas assinalou que o programa de austeridade (140 bilhões de dólares de cortes entre 2010 e 2015) era o único modo de lidar com o desafio global que representam economias emergentes como China, Índia e Indonésia. “Em um mundo tão competitivo, não poderemos triunfar se estivermos sufocados pela dívida”, disse Cameron. O primeiro ministro assegurou que essa dívida foi reduzida em cerca de 25 bilhões de dólares e que quase 500 mil pessoas a mais, em relação ao início do ano, estão empregadas. “Podemos olhar o futuro com otimismo e realismo. Realismo porque sabemos que não podemos solucionar problemas de décadas da noite para o dia. Otimismo porque estamos fazendo um progresso tangível”, disse Cameron.
Convencer os britânicos a adotar esse humor exigirá algo mais que uma boa onda “new age”. O consumo doméstico caiu fortemente nos dois anos e meio do governo da coalizão conservadora-liberal democrata pelo medo gerado pelo seu programa de austeridade e pela enorme dívida pessoal dos britânicos (calculada em quase dois bilhões de dólares).
Neste sentido, a pesquisa publicada pelo jornal The Observer deixa claro que os britânicos têm hoje muito mais “realismo” do que “otimismo”, algo que não vai ajudar a tirar a economia do pântano pela via do consumo. Com uma contração econômica de 0,1% em 2012, o pessimismo é mais marcado entre os maiores de 55 anos do que entre os jovens, mas o panorama geral da pesquisa é sombrio.
A percepção é mais sombria no norte do que no sul do país. Em uma carta pública ao governo, três dos maiores municípios do norte da Inglaterra – Liverpool, Newscatle e Sheffield – advertiram que o corte adicional de 2% que o governo anunciou em dezembro e que se soma aos 28% de cortes orçamentários em curso está devolvendo o país a um mundo “dickensiano”.
“A delinquência está aumentando, as tensões sociais e comunitárias, os problemas nas ruas vão terminar em uma dissolução social se não mudarmos de rumo”, assinalaram os diretores dos três conselhos municipais (na Inglaterra não há governo provincial). O norte, mais pobre e dependente do emprego governamental, foi duramente golpeado pelo programa de cortes.
Em meio a tantas atribulações, a coalizão no governo teve uma boa notícia. Ainda que as pesquisas sigam mostrando o trabalhismo com 10 pontos de vantagem nas intenções de voto, em um aspecto chave – a economia – os britânicos seguem confiando mais nos conservadores. Esse passe de mágica deve-se a que, nas eleições de 2010, os conservadores conseguiram convencer a maioria de que a crise econômica vivida pelo Reino Unido tinha como causa a irresponsabilidade fiscal dos trabalhistas e não o estouro financeiro e o massivo resgate governamental dos bancos.
Esta percepção contou com o incalculável auxílio de alguns meios de comunicação dominados por uma visão neoliberal. Dada a recessão em que a economia mergulhou este ano e o fato de que as metas de equilíbrio fiscal projetadas para 2015 foram estendidas até 2018 porque a austeridade está piorando as coisas, o mistério é quanto tempo mais vai durar a magia.
Tradução: Katarina Peixoto
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