Deutsche Welle
Em Moçambique vai
acontecer o maior investimento de sempre naquele país. Trata-se da construção
de dez fábricas de gás natural liquefeito, um megaprojeto apenas superado por
outro semelhante no Qatar.
O investimento a
ser feito pelas companhias de energia norte-americana, Anadarko Petroleum, e a
italiana, ENI, está avaliado em 50 mil milhões de dólares. A DW África
entrevistou o economista moçambicano Hélder Chambisse sobre o impacto desse
grande investimento para Moçambique:
DW África: Quais
são os impactos deste investimento?
Hélder Chambisse
(HC): Têm um efeito astronómico, naturalmente. Não me recordo de ter
havido um investimento singular, de somente duas empresas, de tamanha
envergadura. O impacto é naturalmente positivo, não só pelo efeito que irá criar
em termos de vinda de investidores estrangeiros para o país, mas também pela
injeção de recursos financeiros para Moçambique, a criação de infraestruturas
necessárias para a exploração do gás e a criação de emprego, embora
não de forma direta. Certamente que virá mão de obra qualificada que Moçambique
ainda não tem, mas o efeito multiplicador que um investimento desta
envergadura cria para o país é fenomenal. Dá agora para irmos formar mão de
obra porque ela pode encontrar emprego aqui. De uma maneira geral, o
investimento vai mudar o país completamente.
DW África: Mas será
que desta vez a população vai mesmo beneficiar? É que não foi esse o caso de
grandes investimentos no passado. Será diferente desta vez?
HC: Acho que é
um processo. A Mozal (fundição de alumínio) foi o primeiro e depois a
Sasol (petrolífera sul-africana). Comutando e comparando com outros lugares da
África Austral e África, eventualmente Moçambique não terá beneficiado tanto,
principalmente na criação de emprego, na promoção de pequenas e médias empresas
moçambicanas à volta dos megaprojetos, e na geração de recursos
financeiros para o Estado através da coleta de impostos. Mas é um processo e
isso inclui aprendizagem.
O Governo e todas
as estruturas envolvidas, incluindo o setor privado, e isso é
fundamental, têm de ganhar consciência e experiência e encontrar
uma forma de beneficiar destes investimentos. Com os investimentos de Tete,
principalmente, em Nacala, e Beira, por uma necessidade de escoamento do carvão
de Tete, creio que um efeito positivo está evidente. Acredito que neste
caso é diferente, que haverá maior efeito positivo para o Estado, para o
setor privado e para o país em geral.
DW África: E a seu
ver,há o perigo deste investimento de 50 mil milhões de dólares levar a uma apreciação
do metical?
HC: Sim, e
isso já está a acontecer. O metical está forte, em 2012 a depreciação foi
negligível. Neste momento, a apreciação do metical ainda não corresponde a uma
capacidade de geração de divisas pela via da exportação de produtos tradicionais.
O país continua um importador líquido. Mas digamos que é um desafio que temos
agora, para além dos outros, de manter o metical, ou manter as condições para
promover as exportações e manter a competitividade da economia nacional
num cenário completamente diferente. Mas é um desafio que vale a pena ter.
DW África: E
voltando ao nosso tema incial, qual acha que será o efeito imediato para a
economia moçambicana?
HC: O que
estamos a testemunhar neste momento em Tete, Nacala e Beira é a criação de mais
empresas moçambicanas. Então, o que prevejo, é que no caso do gás no norte, é a
ligação que se cria à volta dos grandes projetos. O número de
empresas moçambicanas que se irá criar à volta desses megaprojetos será
muito maior, se comparado com o que está a acontecer em Tete e Nacala até
agora.
Autora: Cristina
Krippahl - Edição: Nádia Issufo / António Rocha
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