segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O RENASCIMENTO DO PANAFRICANISMO




Filomeno Manaças – Jornal de Angola, opinião

1. A capital etíope acolhe a partir de amanhã aquela que poderá ser a cimeira de Chefes de Estado e de Governo que vai traçar as grandes acções que vão definir o rumo do continente nos próximos tempos. Ao adoptar o lema do “renascimento do panafricanismo” para pautar o espírito desta cimeira, a União Africana mais não fez senão vincar a ideia de que pretende sair da inércia política que marcou de certa forma a sua actuação diante de algumas situações de instabilidade e de conflito militar que envolveram alguns dos países membros.

Resgatar o panafricanismo é imprescindível para que a União Africana possa relançar os fundamentos da sua existência, para que possa firmar os seus objectivos e dar ao continente a oportunidade de sair do ciclo das confrontações que apenas aprofundam as situações de pobreza extrema e subdesenvolvimento.

O panafricanismo permitiu a uma plêiade de grandes líderes do continente forjar uma corrente de solidariedade inquebrantável, alicerçou a luta pelas independências nacionais e tornou mais forte a convicção sobre a necessidade de África conquistar a sua soberania política e apostar no desenvolvimento económico como forma de cimentar as suas bases.

Conquistadas as independências nacionais, o panafricanismo reveste-se hoje de novos aspectos, de uma nova visão política que é essencial defender para que o continente deixe de ser o palco de disputas que torpedeiam os mais profundos anseios dos seus povos: a estabilidade política, a segurança, o progresso económico e social, a democracia e a defesa dos direitos humanos. A nova visão sobre o panafricanismo está já a lançar as suas sementes à terra e isso é um ganho para a presidente da Comissão da União Africana, a sul-africana Nkosazana Dlamini-Zuma, para todos os países que apoiaram a sua candidatura e para todo o continente africano sem excepção.

A promoção do diálogo para a resolução de conflitos e o desdobramento de forças militares de vários países para conter a rebelião na República Centro-Africana e na República Democrática do Congo, além do apoio às autoridades malianas para recuperarem o controlo do norte do país ocupado por radicais islâmicos, traduzem também os esforços da União Africana em fazer uma nova abordagem das situações de tensão política que estão a ressurgir no continente, as quais não podem obviamente ser encaradas com displicência.

O aval concedido à intervenção militar francesa no Mali para impedir a tomada de Bamako pelos radicais islâmicos, além de configurar uma situação de excepção e exemplificativa da cooperação multilateral que deve existir no combate ao terrorismo, que na zona do Sahel está a ganhar uma dimensão que preocupa a comunidade internacional, é um elemento de relevância política incontornável que reforça e projecta o papel vital da União Africana enquanto organização com legitimidade para avaliar e caucionar quais as acções mais apropriadas para fazer face aos diferendos que surgem no continente. Mas é também, a decisão, um forte motivo de reflexão sobre a necessidade dos blocos políticos, económicos e militares regionais africanos estarem dotados de estruturas capazes de intervirem com prontidão e eficácia para dissuadirem e/ou eliminarem focos de instabilidade, o que exige, necessariamente, a constituição de exércitos nacionais com uma boa capacidade operacional, em que os aspectos de apoio financeiro, logístico, de equipamento e técnica devem ser permanentemente assegurados.

África não pode sonhar em desenvolvimento social e económico se não investir na sua própria estabilidade política, o que, para além de outros pressupostos, passa por cuidar de modo apropriado da defesa e segurança.

2. Menos mal é o que se pode dizer do empate a zero bolas conseguido pela selecção nacional diante do Marrocos, no seu primeiro jogo realizado no Campeonato Africano das Nações que decorre na África do Sul e ontem deu o pontapé de saída. Poderia ter sido melhor se um golo coroasse a excelente prestação do combinado nacional na segunda parte do jogo, em que mostrou atitude e remeteu a equipa marroquina à defensiva. Vamos torcer para que nos próximos jogos os Palancas Negras possam confirmar as nossas expectativas, de passagem à fase seguinte da competição.

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