Filomeno Manaças –
Jornal de Angola, opinião
1. A capital etíope
acolhe a partir de amanhã aquela que poderá ser a cimeira de Chefes de Estado e
de Governo que vai traçar as grandes acções que vão definir o rumo do
continente nos próximos tempos. Ao adoptar o lema do “renascimento do
panafricanismo” para pautar o espírito desta cimeira, a União Africana mais não
fez senão vincar a ideia de que pretende sair da inércia política que marcou de
certa forma a sua actuação diante de algumas situações de instabilidade e de
conflito militar que envolveram alguns dos países membros.
Resgatar o panafricanismo é imprescindível para que a União Africana possa
relançar os fundamentos da sua existência, para que possa firmar os seus
objectivos e dar ao continente a oportunidade de sair do ciclo das
confrontações que apenas aprofundam as situações de pobreza extrema e
subdesenvolvimento.
O panafricanismo permitiu a uma plêiade de grandes líderes do continente forjar
uma corrente de solidariedade inquebrantável, alicerçou a luta pelas
independências nacionais e tornou mais forte a convicção sobre a necessidade de
África conquistar a sua soberania política e apostar no desenvolvimento
económico como forma de cimentar as suas bases.
Conquistadas as independências nacionais, o panafricanismo reveste-se hoje de
novos aspectos, de uma nova visão política que é essencial defender para que o
continente deixe de ser o palco de disputas que torpedeiam os mais profundos
anseios dos seus povos: a estabilidade política, a segurança, o progresso
económico e social, a democracia e a defesa dos direitos humanos. A nova visão
sobre o panafricanismo está já a lançar as suas sementes à terra e isso é um
ganho para a presidente da Comissão da União Africana, a sul-africana Nkosazana
Dlamini-Zuma, para todos os países que apoiaram a sua candidatura e para todo o
continente africano sem excepção.
A promoção do diálogo para a resolução de conflitos e o desdobramento de forças
militares de vários países para conter a rebelião na República Centro-Africana
e na República Democrática do Congo, além do apoio às autoridades malianas para
recuperarem o controlo do norte do país ocupado por radicais islâmicos,
traduzem também os esforços da União Africana em fazer uma nova abordagem das
situações de tensão política que estão a ressurgir no continente, as quais não
podem obviamente ser encaradas com displicência.
O aval concedido à intervenção militar francesa no Mali para impedir a tomada
de Bamako pelos radicais islâmicos, além de configurar uma situação de excepção
e exemplificativa da cooperação multilateral que deve existir no combate ao
terrorismo, que na zona do Sahel está a ganhar uma dimensão que preocupa a
comunidade internacional, é um elemento de relevância política incontornável
que reforça e projecta o papel vital da União Africana enquanto organização com
legitimidade para avaliar e caucionar quais as acções mais apropriadas para
fazer face aos diferendos que surgem no continente. Mas é também, a decisão, um
forte motivo de reflexão sobre a necessidade dos blocos políticos, económicos e
militares regionais africanos estarem dotados de estruturas capazes de
intervirem com prontidão e eficácia para dissuadirem e/ou eliminarem focos de
instabilidade, o que exige, necessariamente, a constituição de exércitos
nacionais com uma boa capacidade operacional, em que os aspectos de apoio
financeiro, logístico, de equipamento e técnica devem ser permanentemente
assegurados.
África não pode sonhar em desenvolvimento social e económico se não investir na
sua própria estabilidade política, o que, para além de outros pressupostos,
passa por cuidar de modo apropriado da defesa e segurança.
2. Menos mal é o que se pode dizer do empate a zero bolas conseguido pela
selecção nacional diante do Marrocos, no seu primeiro jogo realizado no
Campeonato Africano das Nações que decorre na África do Sul e ontem deu o
pontapé de saída. Poderia ter sido melhor se um golo coroasse a excelente
prestação do combinado nacional na segunda parte do jogo, em que mostrou
atitude e remeteu a equipa marroquina à defensiva. Vamos torcer para que nos
próximos jogos os Palancas Negras possam confirmar as nossas expectativas, de
passagem à fase seguinte da competição.
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