segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Portugal: FMI DIZ QUE DESEMPREGO VEIO PARA FICAR




Margarida Bon de Sousa – Jornal i

Pela terceira vez numa semana, o FMI publica relatórios sobre o país. Desta vez, o prazo em análise é maior e vai muito para além da troika

O que faz correr o FMI? A última semana foi prolífera em termos de produção de textos daquela instituição sobre Portugal. Nada menos do que três, sendo que o primeiro abriu um musculado debate interno ao defender os cortes a eito nas prestações sociais, em linha com a refundação do Estado que o governo de Pedro Passos Coelho quer fazer.

O segundo insere-se na sexta avaliação regular da troika. Desta vez, o FMI defendeu a redução de três para duas das taxas de IVA (6%, 13% e 23%), num processo em que se sugere a racionalização das taxas reduzidas e intermédia deste imposto, abrindo espaço para uma redução da taxa normal actualmente fixada em 23%.

Finalmente o terceiro, publicado na sexta-feira ao final da tarde, coloca a ênfase na tónica da urgência do crescimento, fazendo projecções de médio e longo prazo, e salientando que o maior ou menor crescimento da economia portuguesa dependerá essencialmente do impacto das reformas estruturais em curso.

O documento afasta, no entanto, algumas hipóteses: crescimentos acima dos 2,6%, na perspectiva mais optimista, a manutenção de uma Europa a duas velocidades, com Portugal no grupo de países menos desenvolvidos, e a continuação de um desemprego estrutural elevado, a rondar ou mesmo a superar os dois dígitos.

Este último relatório foi publicado num “Selected Issues Paper” do FMI (Country Report 13/19 ), autorizado pelo Departamento Europeu do Fundo, mas salienta que os pontos de vista não reproduzem necessariamente a opinião da direcção do Fundo. E responsabiliza a equipa que o produziu: Manuela Goretti, Huidan Lin, Stephane Roudet, Marcos Souto, Ivanna Vladkova Hollar, Andrea Lemgruber, Mauricio Soto e Alvaro Piris. Esta publicação coincidiu com a divulgação da sexta revisão regular do programa de resgate pela troika.

CRESCIMENTO DE 2% 

A equipa do FMI salienta que as próximas duas décadas vão depender, essencialmente, do impacto das reformas estruturais no PIB. E traça quatro cenários até 2030. O primeiro parte do princípio que haverá um crescimento médio deste indicador da ordem dos 2% enquanto os factores de produção crescerão a um ritmo menor, de cerca de 1%. O suficiente para criar emprego, mas mantendo ainda o desemprego estrutural nos 10 a 11%. Este cenário prevê um crescimento médio anual de 1,5% entre 2014 e 2017.

CRESCIMENTO DE 2,6% 

A segunda hipótese, a mais optimista, aponta para um crescimento médio anual de 2,75% e um aumento dos custos da totalidade dos factores de produção de 1,5%. Nestas condições, o desemprego estrutural ficaria aquém dos 10% mas a produtividade em Portugal manter-se-ia mesmo assim em cerca de 60% do nível dos países com melhor indicador na UE (Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França, Holanda, Suécia e Reino Unido). Ou seja, mesmo num cenário de maximização do impacto das reformas estruturais em curso, estas não seriam suficientes para colocar a nossa economia entre as mais produtivas da UE.

CRESCIMENTO DE 1,2% 

A terceira hipótese estudada pelos técnicos do FMI admite um crescimento de 1,2% ao ano e um crescimento dos factores de produção de 0,5%. Neste caso, as reformas não teriam os resultados esperados mas a economia ter-se-ia redireccionado para as exportações. O processo de divergência com a UE continuaria, contudo, a acentuar-se.

Finalmente, o último cenário aponta para um crescimento médio anual de 0,6% e um crescimento dos factores de produção de 0%, o que significaria que as reformas em curso não teriam qualquer impacto.

COMPETITIVIDADE E CRESCIMENTO 

Um sector transaccionável mais competitivo será essencial para colocar Portugal mais perto das boas práticas internacionais de crescimento. Mas é importante que as reformas estruturais nos sectores não transaccionáveis produzam incentivos para a inovação e cortes nos custos de produção. Os técnicos do FMI salientam também que o sector público precisa de contribuir mais para facilitar as dinâmicas de crescimento e de troca na economia. A redução da burocracia é igualmente prioritária.

EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO 

Embora tenham havido significativos progressos nestas duas áreas, a força laboral portuguesa ainda permanece na cauda da OCDE nestes dois itens. A emigração dos trabalhadores mais qualificados – jovens licenciados – pode provocar um diferencial ainda maior relativamente à força laboral dos restantes países da UE. O fosso nesta área é ainda mais importante do que as deficiências nos mercados laboral e de bens e serviços. Com o previsível aumento da emigração, este problema estrutural poderá ainda agravar-se ao longo dos próximos anos.

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