terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Portugal: O MEMORANDO DA “TROIKA” FOI DEITADO AO LIXO




Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião

O plano de empobrecimento da população portuguesa, assinado com a troika a 17 de maio de 2011, foi vendido como uma "inevitabilidade". O poder que nos governa aceitou esse pressuposto, teve a promessa de receber 78 mil milhões de euros e assinou um compromisso: aumentar os impostos para ir pagando a dívida e diminuir despesas para equilibrar contas, até 2014.

Em 35 páginas de memorando a troika listou, com rigor, os cortes que queria. Em 2012: menos 500 milhões na Administração Central, 195 na educação, 100 na ADSE e noutros sistemas, 550 na saúde, 445 em pensões, 175 no poder local, 150 no subsídio de desemprego, 110 em serviços e fundos autónomos, 515 no Sector Empresarial do Estado, 500 em investimento e menos 1% a 2% de pessoal no Estado.

Daria quase quatro mil milhões. Isto foi feito? Não sabemos...

E para 2013? Menos 500 milhões na Administração Central, 175 nas escolas, 100 na ADSE, 445 nas pensões, 350 em apoios sociais, 475 na saúde, 150 no subsídio de desemprego, 175 com as autarquias locais, 175 em serviços e fundos autónomos, 515 com o Sector Empresarial do Estado, 350 em despesas de capital, 500 em investimentos e mais um corte de 1% a 2% no pessoal.

Daria, outra vez, quase quatro mil milhões de euros.

Foi isto que o memorando nos impôs. Nada mais, a não ser uma vaga intenção, não quantificada, de em 2014 se conseguir reduzir mais a despesa primária.

Com a crise a agravar, o plano foi entretanto "ajustado" em setembro, mas apenas em prazos. Alguém inventou, então, a necessidade de cortar, permanentemente, outros quatro mil milhões.

Para isso já não chega ao Governo uma lista de cortes, sector a sector. Agora sai um, outra vez, "inevitável" plano de despedimento de 100 ou 150 mil funcionários do Estado. Está "vendido" em 77 páginas de um relatório ideológico do FMI.

Ao mesmo tempo, graças a umas misteriosas "alterações cambiais e nuns fundos europeus", Portugal receberá mais quatro mil milhões da troika... Parece que é para pagar os despedimentos!

Não sei se há aqui alguma superstição com o número quatro mil milhões, mas não me admirava que em vez de matemática esta gente saiba antes numerologia e adivinhação. É que, ao olhar para este historial, a conclusão a tirar é a de que estamos a ser enganados: o contrato assinado em 2011, o famoso memorando, que determinava, ponto a ponto, o que tínhamos de fazer para nos emprestarem dinheiro, foi, simplesmente, rasgado e alterado sem o sabermos. A isto chama-se fraude.

Sem comentários:

Mais lidas da semana