Pedro Tadeu – Diário
de Notícias, opinião
O plano de
empobrecimento da população portuguesa, assinado com a troika a 17 de maio de
2011, foi vendido como uma "inevitabilidade". O poder que nos governa
aceitou esse pressuposto, teve a promessa de receber 78 mil milhões de euros e
assinou um compromisso: aumentar os impostos para ir pagando a dívida e
diminuir despesas para equilibrar contas, até 2014.
Em 35 páginas de
memorando a troika listou, com rigor, os cortes que queria. Em 2012: menos 500
milhões na Administração Central, 195 na educação, 100 na ADSE e noutros
sistemas, 550 na saúde, 445 em pensões, 175 no poder local, 150 no subsídio de
desemprego, 110 em serviços e fundos autónomos, 515 no Sector Empresarial do
Estado, 500 em investimento e menos 1% a 2% de pessoal no Estado.
Daria quase quatro
mil milhões. Isto foi feito? Não sabemos...
E para 2013? Menos
500 milhões na Administração Central, 175 nas escolas, 100 na ADSE, 445 nas
pensões, 350 em apoios sociais, 475 na saúde, 150 no subsídio de desemprego,
175 com as autarquias locais, 175 em serviços e fundos autónomos, 515 com o
Sector Empresarial do Estado, 350 em despesas de capital, 500 em investimentos
e mais um corte de 1% a 2% no pessoal.
Daria, outra vez,
quase quatro mil milhões de euros.
Foi isto que o
memorando nos impôs. Nada mais, a não ser uma vaga intenção, não quantificada,
de em 2014 se conseguir reduzir mais a despesa primária.
Com a crise a
agravar, o plano foi entretanto "ajustado" em setembro, mas apenas em
prazos. Alguém inventou, então, a necessidade de cortar, permanentemente,
outros quatro mil milhões.
Para isso já não
chega ao Governo uma lista de cortes, sector a sector. Agora sai um, outra vez,
"inevitável" plano de despedimento de 100 ou 150 mil funcionários do
Estado. Está "vendido" em 77 páginas de um relatório ideológico do
FMI.
Ao mesmo tempo,
graças a umas misteriosas "alterações cambiais e nuns fundos
europeus", Portugal receberá mais quatro mil milhões da troika... Parece
que é para pagar os despedimentos!
Não sei se há aqui
alguma superstição com o número quatro mil milhões, mas não me admirava que em
vez de matemática esta gente saiba antes numerologia e adivinhação. É que, ao
olhar para este historial, a conclusão a tirar é a de que estamos a ser
enganados: o contrato assinado em 2011, o famoso memorando, que determinava,
ponto a ponto, o que tínhamos de fazer para nos emprestarem dinheiro, foi,
simplesmente, rasgado e alterado sem o sabermos. A isto chama-se fraude.
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