Ramos-Horta
representa a ONU na Guiné-Bissau
José Ramos-Horta,
prémio Nobel da paz e ex-presidente de Timor-Leste, foi nomeado segunda-feira
(31.12.12) pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, para liderar o UNIOGBIS,
criado para consolidar a paz na Guiné-Bissau.
Ramos-Horta, que
iniciará funções no Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da
Paz na Guiné-Bissau (UNIOGBIS) no início de fevereiro, sucede ao diplomata
ruandês Joseph Mutaboba, que termina o seu mandato a 31 de janeiro. O governo
de transição guineense havia exigido a substituição de Mutaboba, acusando-o de
favorecer as autoridades depostas pelo golpe militar de 12 de abril de 2012.
Presidente de
Timor-Leste entre 2007 e 2012 e anteriormente ministro dos Negócios
Estrangeiros, Ramos-Horta dispõe de experiência diplomática e de influência
internacional, algo que poderá ser relevante para voltar a colocar a
Guiné-Bissau na agenda política mundial. Foi condenado ao exílio forçado nos
Estados Unidos na sequência da invasão indonésia do seu país e durante 24 anos
defendeu a causa timorense na Organização das Nações Unidas (ONU) e nas
capitais mundiais. Em 1996, o seu esforço valeu-lhe o Prémio Nobel da Paz, que
partilhou com o bispo de Díli D. Ximenes Belo.
“Um bom augúrio para a Guiné-Bissau”
Corsino Tolentino,
diplomata e membro da Academia das Ciências e Humanidades, considera a nomeação
de José Ramos-Horta “um bom augúrio para a Guiné-Bissau”. Defende ainda que
tendo em conta a sua experiência e conhecimento, é “legítimo” esperar do antigo
presidente timorense “uma comunicação mais eficaz e credível entre os diversos
atores políticos na Guiné-Bissau”.
Questionado sobre o
facto de Ramos-Horta pertencer a um país da Comunidade dos Países de Língua
Oficial Portuguesa (CPLP) poder vir a agudizar as difíceis relações entre a
CPLP e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), o
investigador diz que essa tensão “está a entrar numa fase nova” e relembra que
esteve recentemente no país uma missão conjunta da CPLP, CEDEAO, União Africana
(UA), ONU e União Europeia (UE). Por outro lado, acrescenta, “essa tensão pode
acabar por conduzir a uma saída diplomática construtiva e aí é que Ramos-Horta
vai ter de demonstrar a sua capacidade diplomática para resolver esse conflito
entre a CPLP e a CEDEAO.”
Comentando o facto
de o governo de transição da Guiné-Bissau ter já mostrado a sua simpatia em
relação à CEDEAO, o diplomata lembra que “a própria CEDEAO está sedenta de
encontrar uma saída airosa de uma situação que, em princípio, ela própria
condena.”
Corsino Tolentino
não vê a nomeação de Ramos-Horta como uma demonstração de força contra a
CEDEAO, “mas a favor dos princípios consagrados na ética e no direito
internacional, isto é, a promoção da democracia, do voto como forma de resolver
os problemas políticos.” O diplomata considera, que “a ONU está a agir bem e
que a própria CEDEAO vai acabar por encontrar uma saída condigna” para a crise,
que reduza os danos provocados pelo golpe de Estado de 12 de abril.
Organizações da
sociedade civil satisfeitas
A nomeação de José
Ramos-Horta para o cargo de representante do secretário-geral da ONU na
Guiné-Bissau também já foi elogiada pelas organizações representativas da sociedade
civil do país.
Tendo em conta o
“percurso política e diplomático” de Ramos-Horta, a escolha foi “feliz e
acertada”, declararam à agência de notícias Lusa o presidente da Liga Guineense
dos Direitos Humanos, Luís Vaz Martins, e o vice-presidente do Movimento da
Sociedade Civil para Paz e Democracia, Mamadu Quetá.
Para estes dois responsáveis, o antigo presidente de Timor-Leste deverá agora
promover o diálogo entre as diferentes forças vivas da Guiné-Bissau e ajudar na
reforma do setor de defesa e segurança, entre outras prioridades.
Processo exige
missão de longo prazo
Em entrevista à DW
África em Abril de 2012, pouco depois do golpe de Estado na Guiné-Bissau, o
antigo presidente timorense já se tinha mostrado aberto à ideia de mediar a
crise que o país vive. “Estou disposto para uma missão também a longo prazo
porque o processo da Guiné-Bissau exige um compromisso por parte da ONU de
muitos anos. Não podem ser missões de apenas seis meses ou um ano. Tem que se
pensar a médio e a longo prazo”, declarou nessa altura.
O ex-chefe de
Estado defendia também que a experiência timorense de reconciliação nacional pode
ajudar no processo guineense, nomeadamente na profissionalização dos militares.
“As Forças Armadas na Guiné-Bissau são constituídas por seres humanos, com
todos seus defeitos e as suas virtudes. Vamos ver quais são as suas virtudes e
os seus defeitos e vamos tentar fazer prevalecer as virtudes contra os
defeitos”, disse.
Segundo o
ex-presidente timorense, a comunidade internacional não fez muito pela
Guiné-Bissau. “A Comissão Europeia, por exemplo, ao longo de anos, teve uma
presença forte na Guiné-Bissau”, onde financiou grandes projetos, recorda.
Depois da independência do país, o maior parceiro internacional da Guiné-Bissau
foi a Suécia, que entretanto “abandonou a Guiné-Bissau há mais de uma década”,
acrescenta. “Portugal foi um dos poucos países que sempre se manteve leal à
Guiné-Bissau, mas também o público e os governantes portugueses se cansam”,
diz.
Autoras: Nádia Issufo/Helena
Ferro de Gouveia/Lusa - Edição: Madalena Sampaio/António Rocha
*Titulo PG
1 comentário:
5 de Janeiro 2013
Epitáfio
Não sei o que quer dizer, alguém que me explique, mas Timor está a correr a passos largos para o seu próprio Epitáfio.
Trata-se de um país sem homem no leme, à deriva, que não sabe para onde quer ir, voga ao sabor das correntes.
Os gastadores de dinheiro querem acabar com o Fundo Petrolífero na Costa Sul a criar Elefantes Brancos, que não servirão nada nem ninguém e muito menos criarão riqueza.
O País tão pequenino precisa de arranjar as estradas, construir um Porto alternativo a Dili, terminar a eletrificação e fazer o mais difícil, pôr este povo a trabalhar.
Durante 500 anos, um povo vindo lá de longe tentou conquistar este povo, mas pouco ou nada conseguiu, esta gente continua a pensar os outros que trabalhem para eles, é mais fácil.
Beijinhos da Querida Lucrécia
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