Após ganharem
votação na Baixa Saxônia, social-democratas e verdes recuperam esperança na
campanha pela chancelaria federal. Com resultado, oposição conquista maioria na
câmara alta do Parlamento alemão.
Ninguém na Alemanha
se recorda de um resultado eleitoral tão apertado como este. Até tarde da noite
deste domingo (20/01), ainda não estava claro se a coalizão entre União
Democrata Cristã (CDU) e Partido Liberal (FDP) permaneceria no governo da Baixa
Saxônia ou seria substituída por uma coligação entre o Partido Social Democrata
(SPD) e Partido Verde. A corrida cabeça por cabeça no estado do norte do país
foi um prelúdio excitante para o ano de eleição parlamentar, em que a chanceler
federal Angela Merkel (CDU) busca seu terceiro mandato.
Pelo resultado
final, a CDU obteve 36% dos votos e 54 assentos na assembleia; o SPD, 32,6% dos
votos e 49 assentos; o Partido Verde, 13,7% dos votos e 20 assentos; e o FDP,
9,9% dos votos e 14 assentos. Embora tenha conquistado a maioria dos votos, a
CDU perdeu pela coalisão. Considerando o número de cadeiras parlamentares, a
coligação SPD e Partido Verde obteve 69, enquanto a coligação CDU e FDP ficou
com 68.
Para o rival
social-democrata de Merkel, Peer Steinbrück, a eleição na Baixa Saxônia
proporcionou uma lufada de ânimo em sua meta de substituir a chanceler. Os
social-democratas ganharam votos, ainda que modestamente. "Isso significa
que uma mudança de governo e de poder é possível este ano, também com vistas às
perspectivas para setembro", disse Steinbrück. Ele admitiu que sua série
de gafes não ajudou seu partido durante a campanha eleitoral na Baixa Saxônia.
Ultimamente, houve especulações sobre uma troca de candidatos a chanceler
federal. Agora, os social-democratas serão poupados desse debate desgastante.
Oposição com
maioria no Bundesrat
A oposição
conseguiu, com a tomada do governo da Baixa Saxônia, conquistar também a
maioria no Bundesrat, a câmara alta do Parlamento alemão. Nesta maioria, estão
incluídos os Estados governados pela coligação entre social-democratas e Verdes
e Brandemburgo, onde o SPD governa coligado com o partido A Esquerda.
As esperanças do
candidato Steinbrück para as eleições em setembro recaem sobretudo sobre seus
possíveis aliados, os verdes, que continuam em boa fase e conseguiram, com
cerca de 14% dos votos, seu melhor resultado até hoje na Baixa Saxônia.
A chanceler
federal, Angela Merkel, já contava com uma derrota do seu candidato, David
McAllister, na Baixa Saxônia. Semanas antes da eleição, muitas pesquisas
previram uma vitória segura de SPD e Partido Verde, baseadas sobretudo na
fraqueza dos liberais do FDP, que, conforme as sondagens, não conseguiria
alcançar os 5% necessários para continuar no legislativo local.
Os partidários dos
democrata-cristãos tentaram salvar a coalizão de governo com uma estratégia
arriscada. Milhares de eleitores da CDU votaram diretamente nos respectivos
candidatos do partido em seu primeiro voto, mas deram o chamado segundo voto,
dedicado à legenda, aos liberais. Em pesquisas de opinião, 80% dos eleitores do
FDP reconheceram que, na verdade, o seu partido preferido é a CDU.
Enquanto o
secretário-geral da CDU, Hermann Grohe, justificou esse comportamento como uma
legítima divisão de votos, o líder do SPD, Sigmar Gabriel, zombou, afirmando
que o FDP só se sustenta "através de transfusão de sangue".
Votos
"emprestados"
O FDP conseguiu
surpreender com votos "emprestados", obtendo quase 10%. O resultado
não foi suficiente para salvar o governo local, mas savou a cabeça do líder
nacional do FDP, Philipp Rösler, atual ministro da Economia, para quem um
resultado ruim em seu estado natal poderia custar o cargo. Rösler afirmou que
aquele era um "grande dia para os liberais". Mesmo assim, não Rösler
e sim o veterano ex-ministro da Economia Rainer Brüderle será o candidato dos
liberais para a eleição parlamentar. Muitos acreditam que ele seja o nome mais
indicado para liderar o partido na campanha eleitoral.
A CDU perdeu votos
com os muitos "segundos votos" dados ao liberais, não conseguindo
chegar à marca dos 40%. Aparentemente, o partido esperava ser capaz de
compensar essa perda, pelo menos em parte, com a ajuda do sistema eleitoral
alemão, que dá assentos adicionais para partidos que elegem muitos candidatos
diretos, através dos primeiros votos, algo que não ocorreu. Por isso, é
questionável que os eleitores da CDU arrisquem fazer tal divisão tática de
votos também na eleição parlamentar nacional, quando os liberais podem
novamente estar ameaçados de não conseguir os 5% necessários para continuarem
representados no Parlamento.
Piratas têm futuro
incerto
O partido A
Esquerda, que na última eleição geral, em 2009, comemorou um resultado
sensacional, com 12%, manteve na Baixa Saxônia sua atual tendência de queda na
preferência do eleitorado. Depois de Renânia do Norte-Vestfália e
Schleswig-Holstein, o partido novamente terá que deixar o legislativo de um
estado no oeste alemão. A legenda, formada em 2005 por iniciativa de Oskar
Lafontaine, unindo forças de esquerda de leste e oeste do país, corre o risco
de perder sua posição duramente conquistada nos estados da antiga Alemanha
Ocidental. A Esquerda só está representada agora no legislativo de quatro
estados ocidentais alemães. No entanto, analistas esperam que o partido consiga
permanecer no Parlamento alemão, baseado na força que ainda tem nos estados a
leste da federação.
O Partido Pirata,
queridinho da mídia e que causou sensação ainda no final do ano passado, teve
seu pior resultado até agora em uma eleição estadual e não conseguiu alcançar a
marca dos 5% necessários para fazer parte da assembleia estadual. O partido tem
provocado manchetes negativas ultimamente, com suas discussões internas. No
âmbito nacional, eles estão na marca dos 3%, segundo as últimas sondagens. Seu
futuro parece incerto.
Autor: Bernd Gräßle
(md) - Revisão: Francis França
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