Alfredo Valladão
– RFI
“A classe política
da Itália nunca foi bem considerada pelos italianos. A sabedoria popular dizia
que nas boas famílias o primogênito ia para os negócios, o segundo seria padre
e o terceiro ia ser político em Roma, já que ninguém sabia o que fazer com ele.
A Itália já viu passar tantos líderes e tantos regimes – reis, imperadores,
papas, ditadores e até presidentes do Conselho legitimamente eleitos – que
aprendeu a se virar sem os políticos. Uma das características das empresas, dos
comerciantes, dos profissionais liberais, dos trabalhadores e até das máfias é
não dar a mínima para os governos que se sucedem na capital. A Itália funciona
sem e muitas vezes contra a política.
Mas desta vez até
essa proverbial capacidade a ignorar a politicagem romana não basta mais. A
Itália está no fundo do poço e desesperada. O país está falido e parado,
submetido a uma cura de austeridade que pode matar o paciente antes de curá-lo. Raramente a nação precisou tanto de um bom governo. Só que o resultado das
eleições parlamentares acaba de demonstrar, mais uma vez, que os italianos, não
tem a mínima confiança nos partidos e figurões da política nacional. Se alguém
ganhou esse pleito foi o voto de protesto e até de escracho. As grandes
coalizões tradicionais de centro-esquerda e centro-direita estão pau a pau com
o partido do cômico Beppe Grillo, cujoo único programa explícito era varrer
todos os políticos da vida pública. Pior ainda, o antigo presidente do
Conselho, Silvio Berlusconi, completamente desmoralizado no mundo inteiro e
mais conhecido pelas suas orgias sexuais, que ele próprio chamava de
“bunga-bunga”, conseguiu uma votação surpreendente a ponto de aparecer como o
maior partido do Senado, com capacidade de bloquear o funcionamento do Poder
Legislativo.”
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