quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

A LIBERDADE EM SUBSTÂNCIA!




Martinho Júnior, Luanda

Praticamente na mesma altura em que Barack Hussein Obama fez o discurso que marcou o início do seu IIº Mandato à frente da Presidência dos Estados Unidos, Raul de Castro, fez uma intervenção durante a Iª Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), em Santiago do Chile.

O contraste entre os dois discursos é evidente e pode ser resumidamente no seguinte: enquanto Obama sustentou o seu argumento apelando a um patriotismo redundante e simpático aos interesses duma aristocracia financeira mundial que poderá quando muito corresponder a 1% da humanidade, Raul de Castro identificou-se se não com os outros 99% da humanidade com as centenas de milhões de habitantes das nações latino americanas e do Caribe representadas por suas lideranças na CELAC!

A distância entre um e outro é o abismo que vai do vazio, da mentira e do embuste, para o que é substantivo, palpável e eticamente irrepreensível.

Raul de Castro transmite ao mesmo tempo sabedoria, humildade, vontade de vencer todos os obstáculos que têm sido colocados ao longo da história, identidade para com os povos, abertura para com a integração e a solidariedade, numa prova de amor transparente, lúcido, honesto e mobilizador.

Alicerça esse argumento na história de libertação da América Latina com um percurso de méis de 200 anos desde o içar das bandeiras, 200 anos pejados de opressão, de sacrifícios, de tensões e de conflitos que agora são o húmus que fortalece o caminho em direcção finalmente à Pátria Grande sonhada pelos povos da América Latina e do Caribe.

Mais que nunca nesse caminho pode-se avaliar o que divide, como divide e em nome de quem e do quê, como avaliar-se a afirmação do que integra, do que une, do que é solidário e do que é respeitador para com a Mãe Terra; por essa razão é admissível a expressão substantiva da liberdade de que a CELAC procura ser um dos exemplos institucionais a par da UNASUR, da ALBA e do MERCOSUR!

Para as instituições que como a CELAC pugnam pela unidade, integração e solidariedade, criando um outro ambiente de liberdade, é inseparável o social do político, tal como do social e do ambiente!

O caminhar da CELAC não pode esquecer a mancha de subdesenvolvimento que ainda persiste e os resgates que essa situação implica.

É a Revolução Cubana que melhor estudou (de forma dialéctica) esse subdesenvolvimento e é por essa razão que Cuba tantos esforços tem feito em prol do combate ao analfabetismo e à doença, por via do que aprofundou nos campos da educação e da saúde, ao ponto de se tornar um factor decisivo para a investigação científica em relação âs humanísticas e ao ambiente.

A situação crítica que persiste no Haiti é um repto para todos e cada um dos componentes do CELAC também pela implicação das assimetrias e dos desequilíbrios existentes.

Haiti precisa revitalizar o seu tecido humano, reconstruir-se em democracia e em paz!

No Haiti o inter-relacionamento com o governo haitiano é a principal chave, havendo abertura para a contribuição de outros Latino Americanos, numa escala maior como o Brasil ou a Venezuela, huma escala menor, correspondendo às suas potencialidades, como a Nicarágua!

A questão da droga, produção, tráfico e centros receptores dispostos para o consumo, (que não foi sequer evocada pelo Presidente dos Estados Unidos no seu discurso inaugural do IIº Mandato) mereceu uma atenção especial por parte de Raul de Castro: isso é de facto uma questão que mexe com os conceitos de liberdade, de integração e de solidariedade em toda a América Latina!

Haverá alguma vez possibilidade de liberdade sadia, de integração construtiva e de solidariedade efectiva com povos cuja juventude esteja contaminada pelo tráfico e o uso da droga?

Haverá alguma possibilidade de paz com a droga?

O México foi o centro da atenção de Raul de Castro em relação às questões que se prendem com a droga e a soberania.

Não lembrou Raul de Castro os percursos da droga que se desprendem da América Latina, do Caribe e do Afeganistão, entre outros, em direcção aos Estados Unidos e à Europa, percursos que passam também por África!

Não falou de quanto o comércio de ópio cresceu desde que os Estados Unidos colocaram forças no Afeganistão!

Raul de Castro preocupou-se acima de tudo com o repto e os sacrifícios que a droga obriga à América Latina e ao Caribe, também por tabela a Cuba, mas não deixando de ser mobilizador permaneceu numa posição humilde e cautelosa, a ponto de não se referir ao papel tão importante que Havana está a desempenhar nas conversações de paz que senta à mesma mesa o governo e as FARC da Colômbia, precisamente um dos países mais vulneráveis à produção e tráfico de droga na América Latina!

Até nas suas omissões Raul de Castro foi substantivo: no que não disse sobre os processos de educação e saúde que Cuba tão generosamente vai partilhando com a América Latina e o Caribe, bem como com muitos países subdesenvolvidos no mundo e é fonte de inspiração para em cadeia, todos se fortalecerem e fortalecerem os projectos comuns!
A liberdade para Raul de Castro é a consciência das necessidades e por isso a política surge e se inventa dentro do que é social!

A paz para Raul é substantiva, enquanto em Obama, o prémio Nobel da Paz, se limita na verdade ao carácter do actual “soft power” um dos “pilares mestres” da sua hegemonia que dá muitos lucros para os 1% e, em “democracia representativa” não admite sequer que a concorrência surja nos outros 99%!

A posição da Revolução Cubana, agora amplamente reconhecida por toda a América Latina e Caribe, em prol da paz, da democracia cidadã e participativa e em prol do equilíbrio e do respeito para com a Mãe Terra, é o verdadeiro atentado à hegemonia norte americana por que a põe em causa na sua essência, mas agora Cuba já não está só como esteve ao longo da década de 90 do século passado e tornou-se não só um exemplo de resistência saudável e esclarecida: é uma verdadeira vanguarda disposta à integração e à solidariedade, ali onde reside de facto a liberdade!...

…Da parte do império a “liberdade” só lhe dá para as tensões, os conflitos, as ingerências, as manipulações, as influências perniciosas e motivadas por interesses egoístas, as guerras…

Tudo isto é também uma questão de metabolismo: que contraste entre o vazio e a substância!

Gravura: O símbolo da CELAC.

A consultar:
- A Celac surgiu sobre a herança de duzentos anos de luta pela independência e é baseada numa profunda comunidade de objetivos – http://www.granma.cu/portugues/nossa-america/29ener-raul-Celac.html
- 10 de Janeiro de 2013: uma vitória dos povos da Améroca Latina – http://resistir.info/brasil/ivan_12jan13.html
- Cuba assume presidência temporária do bloco de integração CELAC – http://pt.cubadebate.cu/noticias/2013/01/28/cuba-assume-presidencia-temporaria-de-bloco-de-integracao-celac/
- Lula diz que Estados Unidos perderam guerra para Cuba e pede o fim do bloqueio –
- Para Cuba e para mim é uma grande honra assumir hoje a presidência pró tempore da CELAC – http://www.granma.cu/portugues/nossa-america/29ener-raul-Celac-2.html
- Reconocidas personalidades latinoamericanas celebran la presidência de Cuba en la CELAC – http://www.cubadebate.cu/noticias/2013/01/29/reconocidas-personalidades-latinoamericanas-celebran-la-presidencia-de-cuba-en-la-celac/
- ALBA por dar mayor fortaleza a la estructura y profundizar la integración, dijo Chávez – http://www.lavozdelsandinismo.com/alba/2012-02-04/alba-por-dar-mayor-fortaleza-a-la-estructura-y-profundizar-la-integracion-dijo-chavez/
- Encontro regional de Cartagena consolidou isolamento dos Estados Unidos, dizem especialistas – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/encontro-regional-em-cartagena.html
- Teoremas de la resistencia a los tiempos que corren – http://www.rebelion.org/docs/4578.pdf

Sem comentários:

Mais lidas da semana