Guilherme da
Fonseca-Statter [*]
O total dos
capitais financeiros escondidos nos refúgios fiscais já tem sido estimado – num
cálculo prudente e por várias entidades – em qualquer coisa como 20 a 30
milhões de milhões de dólares. O PIB de um país como Portugal é de
aproximadamente 250 mil milhões de dólares. De todo aquele capital financeiro,
muito é "capital fictício" (também criado ardilosamente pelos
executivos dos bancos privados por esse mundo fora...), mas não deixa de
representar poder de compra e eventuais títulos de propriedade de coisas mais
palpáveis do que o dinheiro...
Ou seja, o dinheiro todo que está escondido nos tais refúgios fiscais (desde a
City of London, às diversas ilhas tropicais, passando por Hong-Kong e outros
locais menos exóticos, como o Luxemburgo ou a Suíça...) é mais ou menos
equivalente a 80 a 120 vezes o PIB de Portugal.
Ora acontece que todo aquele capital financeiro precisa de ser aplicado... Os
seus proprietários e respectivos gestores não gostam de ver todo aquele
dinheiro parado...
Por outro lado as grandes e muito grandes empresas continuam a declarar lucros
(algumas um pouco menos do que antes, mas lucros...) e portanto a acumular
excedentes. Esses excedentes, nas mãos dos respectivos gestores e executivos
são em parte para aplicar em investimentos e projectos que "já vêm de
trás..."; ou seja "estavam previstos e ou planeados a prazo"...
Por outras palavras, muitas das grandes e muito grandes empresas não precisam
para nada de "dinheiro adicional". Quando muito precisam que os
bancos – alguns bancos – as "ajudem" na gestão de carteiras de
títulos, processos de aglomeração empresarial e de fluxos financeiros.
No que diz respeito às colossais fortunas (muitas delas confiadas a fundos de
investimento) que estão escondidas nos tais refúgios fiscais, essas sempre
continuam e continuarão à procura de "aplicação" minimamente
rentável. Mas, como continuam a escassear as oportunidades para
"aplicar" esse dinheiro em investimentos produtivos (na chamada
economia real...), então, o mais natural é que pensem, "do mal, o menos...
Vamos lá emprestar algum desse dinheiro a países como Portugal". Se ainda
por cima houver umas entidades com o aval de um país com excedentes comerciais
(a Alemanha, o BCE e o FEEF...) então "vamos a isso"...
Nessas circunstâncias, aumentando a oferta de dinheiro para emprestar, o mais
natural é que o seu preço (os juros...) desça. E entretanto, no meio dessa onda
de âmbito global, e como é natural, os espertos que nos (des)governam
aproveitam logo para dizer qualquer coisa como "é porque nós somos bem
comportados que eles nos emprestam dinheiro a juros mais reduzidos"... Presunção
e água benta...
25/Janeiro/2013
Ver também:
O original encontra-se em http://umoutroparadigma.blogspot.pt/
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
. http://resistir.info/portugal/statter_25jan13.html
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