Martinho Júnior,
Luanda
O “soft power” que
dá pelo nome de AFRICOM, seria impossível se não houvesse uma panóplia de
capacidades que compõem os imensos recursos da hegemonia norte americana que o
sustentam operacionalmente.
É nessa panóplia
que ele se integra e cumpre a posição “refinada e virtuosa” em relação aos
interesses dessa hegemonia!
Por isso é por via
do AFRICOM que se vão experimentando, da forma mais versátil possível, as
capacidades que se distendem desde o espaço, até aos quesitos específicos de
cada missão e operação nos mais diversos meios e ambientes físicos e humanos de
África e da sua envolvência marítima.
Nesse aspecto a
hegemonia conseguiu sobre os seus aliados um importante domínio no espaço, na
cibernética e na mobilidade estratégica e táctica.
O AFRICOM
alimenta-se, de forma articulada com várias outras fontes e componentes, no
quadro das estruturas do Pentágono, entre elas o STRACOM (Comando Estratégico)
e o CYBERCOM (Comando Cibernético) pelo que as suas missões e operações obedecem
a um figurino desenhado a outros níveis, para que ele cumpra “no terreno”!
O STRATOM foi
criado em 1992 e entre as suas missões destacam-se a operacionalidade, controlo
e uso dos satélites militares e as capacidades inteligentes da informação de
combate, o que obriga a integrar meios de inteligência, de observação e de
reconhecimento a partir do espaço, a vários níveis de aproximação e manobra.
É um instrumento
militar “multi-usos” que se desprende a partir do espaço, até aos focos
precisos onde se cumprem as missões, contribuindo para as delinear, planificar
e acompanhar!
No caso da actual
operação Serval da França no Mali, o STRATCOM pode contribuir para o reforço do
conhecimento em tempo real de tudo o que mexe na vastíssima região do Sahel com
uma multiplicidade de sensores disponíveis e a altitudes variáveis!
Efectivamente a
França terá algumas dificuldades de cobertura e movimento, tendo em conta as
obrigações duma ampla cobertura consubstanciada nos múltiplos dispositivos
sensíveis que possui espalhados na região (não necessariamente dispositivos
militares), como por exemplo as minas de urânio no Níger, a observação de
portos como os de Dacar e Abidjan, o acompanhamento dos interesses da TOTAL na
Líbia…
Os parceiros
africanos da França estão de tal modo fragilizados nesse aspecto que são apenas
co-responsáveis de algumas questões técnicas e operacionais ao nível táctico,
principalmente aqueles em uso nas crises… “carne para canhão” e “força de
ocupação”!...
O Mali, o Tchade e
o Níger são as três principais forças de estados africanos presentes até ao
momento no âmbito da operação Serval… os exércitos dos estados avassalados, na
base da pirâmide operacional…
Presos nas suas
teias defensivas, os franceses precisam duma cobertura que seja um autêntico “guarda-chuva”
para o seu sistema e para a sua implantação de cariz neo colonial no Sahel, no
Norte e no Ocidente de África!
O CYBERCOM é outro
dos Comandos que alimenta e reforça com conhecimento em tempo real as operações
“no terreno” e conferem outras potencialidades às “correias de transmissão”
como as que a França está a utilizar no Mali e no Sahel (desde o Tchade ao
Senegal)!
Este Comando está
capacitado para dominar o caudal de informações proveniente das fontes mais
variadas que passem pelos satélites militares e civis, com vista a estabelecer
sinergias que entre outras coisas são aplicadas nos mais diversos teatros
operacionais dentro e fora dos Estados Unidos.
Foi criado em 2010
e está a ser neste momento reformulado: possui um orçamento que terá
quintuplicado e organizar-se-á de acordo com três direcções principais.
As três direcções
principais agora previstas cobrem:
1 – Os quesitos
nacionais norte americanos (protecção das principais redes informáticas civis);
consolidação do poder económico e financeiro intervencionista;
2 – Os quesitos de
combate (operações e apoios aos aliados e parceiros); um sistema que se
distende muito para além dos vínculos internos do Pentágono; um instrumento
ofensivo;
3 – Os quesitos da
defesa dos sistemas integrados ao serviço do próprio Pentágono; um instrumento
defensivo.
Quer os empenhos de
inteligência e operativos arábicos, como os da França, beneficiarão da 2ª
Direcção, de acordo como é óbvio de ementas próprias que correspondem ao papel
da sua manipulação pela hegemonia, que inclui a manipulação das tensões entre
os dois fulcros, que repercutem nos estados da região!
A Tunísia, a Líbia
e o Egipto encaram a operação Serval como contrariando os interesses da
Irmandade Muçulmana que passou a dirigir seus respectivos espaços nacionais e,
alinhamento com os financiadores arábicos das “Primaveras árabes”, conformados
à hegemonia!
Em termos geo
políticos a Irmandade Muçulmana alinhada à Arábia Saudita e ao Qatar procura
expandir-se para já a norte do Sahel, face à influência da França a sul, por
via do “cordão sanitário” na linha Tchade-Níger-Mali-Senegal, pelo que as
disputas, na sequência da operação Serval, inclinam-se para um país que procura
seguir um caminho próprio em defesa da sua soberania: a Argélia!
A guerra
psicológica entre as duas pretensões neo coloniais que se abatem maduras sobre
África, resguardadas debaixo do guarda-chuva da hegemonia norte americana, já
começou!
Se com Sarkozy a
França alinhou por inteiro com as monarquias arábicas, com Hollande a crispação
no Sahel e no oeste africano é evidente, o que não passa despercebido aos
anglo-saxónicos e ao pendor da hegemonia norte americana que só se está a
envolver no caso africano de forma cautelosa… “quanto baste”!…
O AFRICOM mesmo
assim possui seus próprios equipamentos de reconhecimento táctico sobre o
terreno, de acordo com a sua missão que neste momento está assim sintetizada:
“Africa Command
protects and defends the national security interests of the United States by
strengthening the defense capabilities of African states and regional
organizations and, when directed, conducts military operations, in order to
deter and defeat transnational threats and to provide a security environment
conducive to good governance and development”.
Com efeito sobre o
Sahel assiste-se já à disseminação de bases de drones na Mauritânia, no Burkina
Faso, no Uganda, no Sudão do Sul, na Etiópia, no Quénia e no Djibouti, ou seja:
instalar-se-á um suporte táctico que reforçará a capacidade dos satélites
militares e com eles funciona de forma integrada, correspondendo aos quesitos “no
terreno” desde a costa do Índico Norte na Somália, a leste, até à costa do
Atlântico Central, no Senegal!
Os dispositivos em
Djibouti e na Mauritânia serão por isso os mais reforçados: há obrigações no
Índico Norte e no Atlântico Central que estão dependentes deles!
Outros dispositivos
poder-se-ão seguir no Mediterrâneo Oriental, no Egipto, na Líbia e na Tunísia.
É evidente que a
França terá menor capacidade geo estratégica no uso desse tipo de engenhos e
por isso mesmo, tal como aconteceu já com a experiência comum no Djibouti, “está
pronta” a corresponder em todo o Sahel como um fiel “gendarme neo colonial” que
beneficiará da multiplicidades de observatórios disseminados no espaço, à altitude
dos satélites e à altitude dos drones!
A outra lacuna
francesa é o movimento de unidades importantes via aérea (batalhões e
companhias especiais), utilizando aviões de transporte militar de grande
capacidade: se na operação Turquoise (em 1994) a França utilizou aviões dos
países do leste fretados, agora (em 2013) com a operação Serval, utiliza os
maiores aviões norte americanos e de proveniência do leste, de matrícula russa
inclusive!
A França está
também a beneficiar do reabastecimento em pleno voo de seus aviões de ataque ao
solo que descolam de bases fora do território do Mali.
O Pentágono “está
na maior”, pois no fundo é a sua “inteligência” que tudo resolve em benefício
do que importa à aristocracia financeira mundial, enquanto Leon Panetta vai
fazendo a propaganda entre “aliados” (visitou recentemente Portugal e a
Espanha, provavelmente com os sentidos em Cabo Verde, na Guiné Bissau e nas
Canárias, países situados no Atlântico central que poderão abrigar mais bases
de “drones”).
Com efeito,
enquanto manipula geo estrategicamente o braço arábico que agora é obrigado a
mais se concentrar na Síria, com os sentidos no Irão, manipula em simultâneo o
braço aliado que, com a França na “charneira” tende a “tocar a rebate” no oeste
de África!
A Argélia poderá
ser o grande alvo a seguir: a terceira batalha na sequência da conexão das
explosões Líbia-Mali!
A Europa, se está
interessada em levar a crise a leste, na direcção do Irão (e por isso a França
e a Grã Bretanha “alinham” com os “terroristas úteis amigos” na Síria), dá
sinais de não estar nada interessada, sob o ponto de vista geo estratégico, em
ter uma crise na sequência do encadeado das “Primaveras Árabes” na Argélia, no
Sul do Mediterrâneo, até por que a Argélia tem sua própria trilha histórica na
sequência da luta pela independência contra o colonialismo francês e uma via
distinta para o exercício da sua soberania.
O movimento de
libertação na Argélia conseguiu forjar um modelo de patriotismo que pouco ou nada
tem a ver com o patriotismo forjado a leste, na Tunísia e na Líbia pelo menos….
O movimento de libertação foi efectivamente feito pelos povos e pelas
vanguardas de libertação, não por mercenários e oportunistas…
Por outro lado o
movimento de libertação desencadeou-se para fazer frente a uma potência
colonial, a França, a mesma França que procura reger um processo neo colonial
na África do Oeste de feição ocidental…
A União Africana
deveria melhor apreciar a sensibilidade argelina face aos riscos do momento e
reforçar as suas aptidões geo políticas e geo estratégicas sobretudo em relação
ao Sahel, ao invés dum alinhamento com a França!
Face ao terrorismo
a Argélia não negoceia, ataca-o onde ele se manifestar e isso resulta da
solidez das opções histórico-ideológicas e dos seus reflexos sócio-políticos.
Instrumentalizando
os úteis estados aliados neo coloniais e seus parceiros africanos, como
instrumentalizando os úteis terroristas com financiamento e identificação
arábica (os feitos amigos como os da Líbia e da Síria, como os feitos inimigos
como os do Sahel), o “soft power” possui os quesitos ideais de domínio a partir
do espaço e da aplicação dos imensos recursos técnicos das novas tecnologias!
Com tantas riquezas
naturais disponíveis, com tão imensos recursos financeiros e com tão poucas
(quão poderosas) multinacionais prontas a abocanhar as presas, muito
simplesmente a “inteligência” norte americana resolve, de forma expedita e
muito mais barata na era Obama do que na era Bush… resolve em qualquer dos casos
a favor do neo colonialismo!
Gravura: Símbolo
AFRICOM dominante sobre o fundo do mapa de África (um novo módulo para usar e
abusar de África)!
A consultar:
- 2012 posture
statement – AFRICOM – http://www.africom.mil/NEWSROOM/Article/8832/2012-posture-statement-statement-of-general-carter
- A Importância
Geoestratégica do AFRICOM para os EUA em África – http://pt.altermedia.info/internacional/a-importancia-geoestrategica-do-africom-para-os-eua-em-africa_724.html
- A guerra no Mali –
http://resistir.info/africa/mali_15jan13.html
- Al Qaeda in the
islamic Maghreb – http://www.globalresearch.ca/al-qaeda-in-the-islamic-maghreb-whos-whos-who-is-behind-the-terrorists/5319754
- Condamnation de
la guerre au Mali et dénonciation du complot néocolonial de l’Occident – http://www.voltairenet.org/article177366.html
- Assinado
orçamento de defesa para 2013 – http://tudoparaminhacuba.wordpress.com/2013/01/05/eua-assinado-orcamento-de-defesa-para-2013-eua-china-taiwan-japao-orcamento/
- France Requests
U.S. Enablers for Forces in Mali – http://www.defense.gov/News/NewsArticle.aspx?ID=119032
- La reconquête de
l’Afrique – http://www.voltairenet.org/article177305.html
- Panetta answers
Mali questions in Europe – http://www.defense.gov/News/NewsArticle.aspx?ID=119011
- - United States
Strategic Command – http://en.wikipedia.org/wiki/United_States_Strategic_Command
- United States
Cyber Command – http://en.wikipedia.org/wiki/United_States_Cyber_Command
- An anatomy os US
Cyber Command – http://www.infosecisland.com/blogview/20937-An-Anatomy-of-US-Cyber-Command.html
- El Pentágono
prevé quintuplicar el número de especialistas de su Cybercomando – http://www.cubadebate.cu/noticias/2013/01/30/el-pentagono-preve-quintuplicar-el-numero-de-especialistas-de-su-cibercomando/
- Rapidinhas do
Martino – 59 – França: pequena radiografia do poder global – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/11/rapidinhas-do-martinho-59.html
- Rapidinhas do
Martinho – 68 – Uma contínua ingerência neo colonial – Opération Corymbe! – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/01/rapidinhas-do-martinho-68.html
- Os erros de
apreciação estratégica pagam-se caro – I – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/kadafi-os-erros-de-apreciacao.html
- Os erros de
apreciação estratégica pagam-se caro – II – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/kadafi-os-erros-de-apreciacao_25.html
- Os erros de
apreciação estratégica pagam-se caro – III – http://paginaglobal.blogspot.com/2011/10/kadafi-os-erros-de-apreciacao_28.html
- Coisas que a
globalização tece – Uma muito subtil “Françafrique” – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/01/coisas-que-globalizacao-tece-04.html
- Sarkozy ressuscita o
pré-carré – http://paginaglobal.blogspot.com/2012/04/sarkozy-ressuscita-o-pre-carre-com.html
*Relacionados em MARTINHO JÚNIOR
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