Público - Lusa
O deputado do PS
pela emigração, Paulo Pisco, exortou hoje o Governo a abordar as autoridades da
Suíça para resolver os casos de exploração de trabalhadores portugueses no
país, que vêm crescendo.
No final de uma
visita à Suíça, em que se reuniu com representantes de sindicatos e outros
membros da comunidade, o deputado socialista disse à Lusa que há
“intermediários” a tirar partido do aumento da imigração portuguesa para a
Suíça, retendo parte do salário dos contratados. “Muitos recebem infinitamente
abaixo daquilo que as convenções de trabalho na Suíça obrigam”, disse à Lusa o
deputado.
Enquanto o salário estipulado nas convenções varia entre 25 a 35 francos suíços
por hora, nalguns casos o vencimento real dos trabalhadores é de “menos de 10
euros” (12,3 francos) e até “menos de cinco euros” (6,1 francos). “É uma
situação de exploração laboral clara, que provoca um `dumping´ salarial e cria
problemas de natureza social. É uma infracção a todas as regras e leis do
Estado suíço e não é aceitável que este tipo de situações ocorra”, adiantou
Paulo Pisco.
Nalguns casos, são empresas de portugueses a “atravessar dificuldades”, que
contratam conterrâneos e acabam por explorá-los, noutros os responsáveis são
“intermediários com patrões suíços ou que eles próprios tem negócios”, de
acordo com as denúncias que têm chegado aos sindicatos. A construção é o sector
onde se verificam mais destes casos, mas também há relatos noutros serviços,
como a restauração, segundo o deputado socialista.
Pisco exorta o Governo a abordar as autoridades suíças para que sejam criadas
“comissões mistas com inspecções do trabalho, colaboração entre autoridades
policiais, para que este tipo de redes de exploração de portugueses pudesse vir
a ser desmantelado”. Além de serem negativos para as pessoas afectadas, estes
casos prejudicam também “a imagem da comunidade” e “embaraçosa para Portugal”,
envolvendo violação das leis por portugueses.
“O Consulado não tem capacidade de resposta”
Um ano depois de ter constatado “in loco” os “indícios” da situação, “não há
uma resposta por parte das autoridades portuguesas, a nível consular”. “O
Consulado não tem capacidade de resposta, não tem funcionários suficientes
(...) não sai do seu edifício, não tem uma preocupação de natureza social para
que este tipo de problemas possa ser resolvido. É importante que as autoridades
mudem um bocado de atitude”, afirma Pisco.
Segundo o deputado socialista, a criação recente de grupos mistos permitiu
solucionar questões semelhantes na Espanha e Holanda. Em Nauchatel, Genebra ou
Zurique, “todos os portugueses falam” da exploração de trabalhadores, uma
“situação excessivamente presente”.
Segundo o deputado socialista, o mais recente fluxo migratório para a Suíça
inclui parte substancial de diplomados, como arquitectos ou engenheiros, que
muitas vezes acabam a trabalhar na “restauração, limpeza ou agricultura”.
No último dia da visita à Suíça, Paulo Pisco manteve encontro com a Associação
Portuguesa ARCA, de Regensdorf, e com o padre José Carlos, da Missão Católica
de Zurique.
Além da situação laboral dos portugueses, discutiu as questões do ensino e o
envolvimento cívico da comunidade na Suíça, país que em breve irá ter eleições
nalguns cantões.
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