José Lemos Esteves –
Expresso, opinião
1. Quando era
miúdo, costuma assistir na televisão a um desenho animado conhecido como o
"Gasparzinho". Era um fantasma simpático, que com medo dos seus
irmãos, que o atormentavam permanentemente, raramente se via. Tirando a parte
da simpatia, o Ministro das Finanças de Passos Coelho parece ser o Gasparzinho:
raramente se vê, parece cada vez mais um fantasma - mas é ele próprio que
atormenta os portugueses. Creio que Vítor Gaspar padece de um complexo de
superioridade: ele é um estrangeirado, que acredita piamente que sabe
mais, que vê mais longe do que qualquer outro português. Vítor Gaspar, num
cargo com uma dimensão política apreciável, é apenas um burocrata, um técnico
que executa as decisões do FMI e de Bruxelas. Para Vítor Gaspar, ser Ministro
das Finanças é ser um grande chefe de repartição das Finanças. Engana-se: daí o
falhanço político do Governo Passos Coelho. As medidas não são explicadas - ou
são explicadas com um tom professoral, com um distanciamento psicológico, como
um "sermão" que cria uma repulsa natural e espontânea dos portugueses
às medidas do Governo.
2. Perante este
vazio provocado por Vítor Gaspar, tem-se afimardo um outro "Vítor":
Vítor Bento. Recordo que, antes da divulgação da composição governamental, eu
aqui no POLITICOESFERA, indiquei o nome de Vítor Bento como o nome mais forte
para assumir a pasta das Finanças. Parece que este recusou o convite de Passos
Coelho, alegando razões pessoais. Mas na cabeça de Vítor Bento, ele é o
Ministro das Finanças oficioso: só assim se justifica que sempre que o Governo
anuncia uma nova medida ou uma pseudo-reforma, Vítor Bento lá aparece para
explicar e convencer os portugueses do seu mérito. Vítor Gaspar permanece em
silêncio - ou fala com um discurso encriptado que, para o português médio, é um
dialecto incompreensível. Vítor Bento é, pois, o nadador-salvador do Governo:
sempre que há contestação às medidas de Gaspar, lá aparece Vítor Bento a
explicar e a refutar as interpretações desfavoráveis para o executivo. Enfim,
temos um Ministro das Finanças oficial - Vítor Gaspar - e um Ministro das
Finanças oficioso - Vítor Bento.
3. Tudo isto,
leva-me a uma interrogação: será que Vítor Gaspar conseguirá manter-se até ao
final da legislatura? Ou, por outra, Gaspar irá conseguir manter-se em funções
até ao final deste ano? Na minha opinião, Vítor Gaspar ainda é Ministro das
Finanças devido à teimosia - obsessão! - de Passos Coelho em não mexer no
Governo. Se a execução orçamental falhar, Vítor Gaspar acumulará o pior de dois
mundos: é um técnico, um burocrata que não atinge os objectivos mínimos e
politicamente é um desastre. Vítor Bento tem de se decidir: quer ou não ser
Ministro das Finanças? Ou prefere continuar a brincar aos Ministros, comportando-se
nas suas intervenções na comunicação social como um?
Sem comentários:
Enviar um comentário