IL
SOLE-24 ORE, MILÃO – Presseurop – imagem Tom
Janssen
Os eleitores
rejeitaram Mario Monti e a tutela de Angela Merkel, sabotando assim a
estratégia da chanceler de "congelamento" da crise do euro até às
eleições alemãs de setembro. Mas, para evitar que o consenso relativamente à
Europa se desintegre totalmente, o processo de integração europeia tem de ser
retomado com urgência.
Angela Merkel tem
feito de tudo para desviar o perigo de novos surtos de instabilidade na Europa
da sua eleição de setembro. Em Itália, jogou forte em Monti, sem, no entanto,
ir além de repetidas declarações de estima, com medo de repetir o efeito de
bumerangue que teve, no ano passado, o
seu apoio explícito a Nicolas Sarkozy, em França.
Depois disso,
tentou compor a situação com François Hollande. E para salvaguardar a
tranquilidade dos mercados, foi mesmo ao ponto de "despenalizar" o desrespeito
de Paris pelos compromissos de redução do défice, formalizando por carta da
Comissão Europeia a nova linha de abrandamento da execução das normas,
interiorizando os efeitos produzidos em Portugal, Grécia e Espanha.
A estratégia da
chanceler não funcionou. A resposta italiana nas urnas reabriu dramaticamente a
chaga da instabilidade, dentro e fora de fronteiras. Como era previsível, os
mercados voltaram
ao ataque. A Europa treme e sonha em colocar a Itália sob tutela, para
travar os danos, na eterna ameaça de retorno ao campo dos países sob alta
vigilância, onde já habitam Grécia e companhia.
Grumos vêm à
superfície
Na realidade, a
crise de nervos eleitoral de Itália ultrapassa em muito a dimensão do
descontentamento nacional e coloca a Europa, sempre esquiva, perante um
conjunto de verdades incómodas. Coloca-lhe diante do nariz os grumos
voluntariamente deixados na sopa e que começam a vir à superfície.
O que pode colocar
o euro novamente à prova. Não tanto devido à nova explosão da questão italiana,
mas porque a Itália, a terceira maior economia do clube do euro, tem
interferência em todos os problemas da moeda única que até agora tentaram
consertar à pressa, ou melhor, meteram apressadamente para baixo do tapete.
A votação de
domingo e segunda-feira diz muito sobre a saturação geral em relação às
políticas de austeridade e aos impostos, num país prostrado pela recessão e o
desemprego. Expressa sobretudo a revolta contra os mandarins de um sistema que,
tendo decidido entrar no círculo da moeda única, não fizeram as escolhas
necessárias para lá se manterem. Não se modernizou. Não foram introduzidas
reformas. Não se liberalizou com vista a tornar a economia mais competitiva e
em sintonia com os seus parceiros. Este sistema criou apenas a ilusão aos
italianos de que podiam continuar a desenrascar-se como antes, perpetuando
clientelismos, dos mais pequenos aos mais chorudos, sem nunca pagar o preço.
Rigor das reformas
à alemã
Mas os italianos
não são os únicos na Europa que não mediram as consequências da escolha da
moeda única. Daí o dilema de "mais ou menos Europa", "ficar ou
sair do euro". O dilema não é apenas italiano: mas é um tabu, muito mais
difundido do que se pensa, entre os membros do clube do euro e os que aspiram a
entrar nele.
A questão agrava-se
continuamente desde há quatro anos, num contexto de crise, e o clube não parece
ter outra resposta que não o dogmatismo do rigor e das reformas forçadas à
alemã, sem o amortecimento do crescimento e menos ainda da solidariedade
intraeuropeia. Isto para não falar da recusa em recorrer à dinâmica democrática
normal, em nome de uma opção tecnocrática supostamente mais eficaz.
Entretanto,
agrava-se a divisão Norte-Sul e a Europa e respetiva indústria continuam a
perder pontos no mercado global. Os sacrifícios não agradam a ninguém. Muito
menos àqueles que, por toda a parte, observam que "a Europa tem dinheiro
para salvar os bancos, mas não para relançar o crescimento e o emprego".
Os mercados, por seu turno, precisam de garantias sobre o futuro e a
integridade do euro para recuperarem a calma. Basta a que lhes é oferecida pelo
presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi? E até quando, agora que a
Itália pode ter aberto a caixa de Pandora, expondo à vista de todos os
excessivos problemas não resolvidos em torno do euro e da UE?
Momento da verdade
adiado
Enquanto o consenso
popular relativamente à Europa se desintegra por toda a parte, a moeda única
precisa paradoxalmente de acelerar a sua integração para resistir aos problemas
internos, promovendo a ratificação da tripla união – bancária, política e
fiscal. Precisa de decidir, de uma vez por todas, se realmente aceita um destino
partilhado a todos os níveis e seguindo o modelo alemão, agora dominante e
invasivo, determinada a levá-lo até ao fim.
As eleições alemãs
deste ano e as eleições europeias de 2014 congelaram temporariamente o debate e
as negociações, adiando por alguns meses o momento da verdade e as escolhas
entre as inúmeras contradições de que é feita a Europa. Mas as inquietações
permanecem e crescem até, um pouco por toda a parte. Inclusivamente na França
de François Hollande.
Um abrandamento do
rigor por parte de Angela Merkel bastará para acalmar os mercados e aguentar
até setembro, sem grandes problemas? A Itália fez soar o alarme, um alarme
estridente. É perigoso ignorá-lo. Para a Europa e para todos.
VISTO DA ALEMANHA
Mario Monti, vítima
de Angela Merkel
Será que Angela
Merkel também perdeu as eleições
italianas?
Na imprensa alemã,
a constatação do “caos político na Itália” associa-se ao fracasso político da
austeridade defendida pela chanceler.
O Süddeutsche Zeitung realça,
portanto, que o realismo frio com
que Berlim insiste nas reformas e marca a UE é visto como uma exigência hostil.
Monti e Bersani – bem como Berlim e Bruxelas – não conseguiram transmitir aos
italianos que é necessário um remédio drástico para ficarem curados.
Mais vale portanto
recusar seguir Merkel na sua política económica,recomenda o jornalista Eric Bonse
no Cicero. Nicolas Sarkozy em França, Mark Rutte na Holanda e agora
Mario Monti demonstraram que “aprender com Angie significa... aprender a
perder!”.
Resta saber por que
motivo Merkel arrecada com todas as culpas. Esta deixa rastos de terra
queimada. Que ninguém diga que não tem a ver com a sua política...
É, no entanto, o
que explica o Frankfurter Allgemeine Zeitung. O diário conservador denuncia os
“partidos políticos descontrolados que continuam desta forma a roubar” a
Itália:
Este paradigma da
destabilização da nação e da União Europeia só foi possível com o método de
escrutínio revoltante dos políticos manhosos – sob o Governo de Berlusconi –,
que o adaptaram às suas necessidades. [...] O número 357, valor histórico
destas eleições, representa a soma da idade dos quatro candidatos e do
Presidente. Para os milhões de jovens italianos que, neste paraíso de deputados
corruptos, não encontram trabalho, formação, universidades com as devidas
condições, nem reformas, nada mudará após estas eleições.
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