Adérito
Caldeira - Verdade (mz)
O enredo repete-se
ciclicamente em quase todas épocas chuvosas, o que muda é apenas o local da
Estrada Nacional, que liga a capital do país ao centro e norte, onde a água
arrasta pontes antigas e sem manutenção e estradas de má qualidade.
Amoro é uma pequena
povoação, situada a pouco mais de duas dezenas de quilómetros do distrito de
Nicoadala, na província central da Zambézia, que nem direito a placa tem na
estrada nacional número 1 (EN1), mas onde Moçambique foi dividido desde o
último domingo.
Não foi o líder da
Renamo, nem é mais um posto de controlo da polícia e de militares foi a força
de um pequeno riacho, que até o aluno mais atento às aulas de geografia nunca
vai ouvir falar, chamado de Namingorizine que arrastou a estrutura de drenagem
e ainda levou a estrada consigo na passada Sexta-feira (8). Com a intensa chuva
que cai na região e o asfalto a ceder o tráfego rodoviário começou por estar
condicionado apenas para os veículos pesados, na noite da Sexta-feira.
Entretanto,
enquanto as equipas da Administração Nacional de Estradas (ANE) preparavam-se
para colocar uma ponte metálica, no final do Domingo (10) a força da água
arrastou o que sobrava ante o olhar impotente dos engenheiros. A fila que era
de meia centena de camiões e autocarros, em cada uma das margens, começou a
aumentar com a aglomeração de veículos ligeiros.
Enquanto os
engenheiros da ANE encomendaram equipamento para montar uma ponte metálica de
nove metros a água não deu tréguas e a divisão entre o Sul e o Norte de
Moçambique era quase de 20 metros às 12 horas desta Quarta-feira (12), quando a
equipa do jornal @ Verdade chegou ao local.
Empreendedores
Imbuídos pelo
espírito de empreendedorismo, repetido até a exaustão pelo nosso Chefe de
Estado, os poucos habitantes de Amoro não tem mãos a medir para dar vazão às
necessidades dos cidadãos sitiados que compram desde água, comida e até por uma
sombra, seja para esconder do sol tórrido ou da chuva forte que continua a cair
à espaços.
Após horas a fio na
fila e olhando para a impotência de quem tem por missão velar pela
transitabilidade das estradas moçambicanas um cidadão sul africano decidiu
“cruzar” de uma margem para a outra descendo pela enconsta norte da Estrada,
usando algumas das estruturas que haviam chegado para construção da ponte
metálica para passar pelo riacho e voltando a Estrada galgando a encosta Sul.
Com o seu four by
four e ainda ajudado pelo guincho da sua viatura o estrangeiro abriu uma nova
ligação entre o Norte e o Sul. Aproveitando o corta mato, que também é um corta
riacho, os moçambicanos mais ousados e com carros four by four começaram a
cruzar de uma margem para outra porém rapidamente o terreno lamacento ficou
degradado, particularmente devido aos sulcos abertos pelas viaturas sem tracção
às quatro rodas.
Um outro
estrangeiro, de descendência asiática, comerciante e transportado numa carrinha
frigorífica com produtos perecíveis decidiu investir em pedaços de madeira
usado na construção de habitações precárias na região para coloca-las sobre o
terreno lamacento e dessa forma poder seguir viagem.
Porém a sua viatura
atolou. Nessa altura o espírito empreendedor dos cidadãos de Amoro voltou a ser
decisivo com um grupo de jovens a disponibilizar-se para empurrar essa e outras
viaturas que daí em diante precisavam de ser “txovados” para passar.
Desengane-se o leitor que imagina que estes “empurrões” tenham sido gratuítos.
Dependendo da dificuldade os jovens cobravam por viatura a partir dos 200
meticais e houve mesmo quem pagou 1000 meticais pela travessia. Uma portagem
bem mais cara que na ponte, que está em Caia, e que tem o nome do nosso
Presidente.
Alguns condutores
mais experiêntes comentaram com a nossa reportagem que em outras situações
similares, em que a estrada fica danificada e existem alguns equipamentos de
obras no local, quando o empreiteiro é estrangeiro este prontifica-se a ajudar
na criação e manutenção da via alternativa.
Mas desta vez o
empreiteiro ficou de braços cruzados, sentado a espera de equipamento para a
montagem de uma ponte metálica maior que, segundo informações não oficiais vem
da Beira mas o camião ficou bloqueado pois na região a chuva também está a
fazer estragos nas vias de acesso.
Onde andam os
Governantes?
Durante o meio dia
de Quarta-feira (12) que a nossa reportagem esteve no local do corte na EN1
nenhum membro do Governo central, provincial ou mesmo distrital esteve
presente. Apenas um polícia de trânsito e um pequeno efectivo de soldados das
FADM permaneciam na região de Amoro.
Para além dos
condutores das viaturas que não podem transitar há centenas de passageiros
cujos autocarros estão parados, muitas mulheres com crianças ao colo desesperam
no local. Outros cruzam a margem a pé e no lado contrário procuram transporte
para seguirem viagem até aos seus destinos.
Até ao fecho desta
edição o tráfego rodoviário continuava interrompido e não há informação oficial
sobre quando será retomado.
Recorde-se que
ainda este ano a EN1 já esteve cortada ao trânsito rodoviário na cidade do
Xai-xai, na província de Gaza, também com problemas em pontes cuja manutenção
preventiva não acontece em tempo seco.
Refira-se que desde
que a situação de cheias começou, neste ano 105 pessoas já perderam a vida em
Moçambique e outras milhares tem sido afectada directa ou indirectamente.
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