Paulo Baldaia – Diário
de Notícias, opinião
A aritmética, de
que não gostámos na escola mesmo quando nos explicam que ela é importante para
a vida, está aí para mostrar como a Europa está em declínio. Faço minhas as
palavras do secretário-geral do PS: "Uma Europa que tem sido incapaz de
lidar com a crise, uma Europa que anda sempre a correr atrás do prejuízo, uma
Europa que no momento em que é necessário investir e criar condições para
animar a economia, [...] faz cortes num orçamento em que deveria investir"
vai no mau caminho.
A aritmética dá-nos
conta de um corte de 95 mil milhões de euros (mais de metade do PIB anual de
Portugal) num orçamento que vale somente 1% da riqueza europeia. A lógica
apontava para o caminho inverso. O caminho federalista, de que tantos políticos
gostam de falar, também aponta para um caminho inverso.
Calar esta afronta
ao ideal europeu é desistir de um modelo de sociedade que tem provas dadas.
Bastou uma crise financeira e económica profunda para claudicarmos naquilo que
nos diferenciava positivamente de outras partes do mundo. Os políticos europeus
desistiram da solidariedade. Em dificuldade, cedemos aos egoísmos nacionais e
assim abrimos a porta à lógica do cada um por si, mesmo quando em causa estiver
o vizinho do lado ou, nos casos mais graves, algum familiar.
A Europa,
considerada no seu conjunto ou vendo apenas a Alemanha e a França, ainda é uma
potência económica, mas é cada vez menos uma potência política. Nesta matéria
estamos desgovernados. Ninguém tem razões para nos temer. Qualquer um sabe que
para vencer basta dividir-nos. É só olhar para este Conselho Europeu e perceber
que nos tornamos especialistas em fazer marcha atrás.
A Europa para onde
entrámos há 27 anos quase já não existe. Eu, nessa altura, era apenas estudante
e Helmut Kohl governava a Alemanha e François Mitterrand a França. Eu nem
sequer existia quando Jean Monnet, Robert Schuman e Konrad Adenauer resolveram
trabalhar para a Europa dar os primeiros passos. Eu recebi muito da geração dos
meus pais e desiludo-me por deixar, em termos políticos, pouco mais que nada à
geração das minhas filhas.
Não podemos calar a
revolta pela falta de ambição dos políticos europeus, mas não podemos
deixar-nos confundir pela luta política interna e dizer que o Governo conseguiu
um mau resultado no último Conselho Europeu. Aí, António José Seguro deu um
tiro no pé. Sendo evidente que as expectativas jogaram a favor de Passos
Coelho, o líder do PS devia ter-se ficado pela crítica aos líderes europeus
(onde se inclui Passos Coelho) pelo orçamento que fizeram. Para nós sobrou o
mal menor e, neste contexto, o resultado é bom. Pode não agradar à oposição,
mas é bom.
Por decisão
pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
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