segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O DECLINIO EUROPEU




Paulo Baldaia – Diário de Notícias, opinião

A aritmética, de que não gostámos na escola mesmo quando nos explicam que ela é importante para a vida, está aí para mostrar como a Europa está em declínio. Faço minhas as palavras do secretário-geral do PS: "Uma Europa que tem sido incapaz de lidar com a crise, uma Europa que anda sempre a correr atrás do prejuízo, uma Europa que no momento em que é necessário investir e criar condições para animar a economia, [...] faz cortes num orçamento em que deveria investir" vai no mau caminho.

A aritmética dá-nos conta de um corte de 95 mil milhões de euros (mais de metade do PIB anual de Portugal) num orçamento que vale somente 1% da riqueza europeia. A lógica apontava para o caminho inverso. O caminho federalista, de que tantos políticos gostam de falar, também aponta para um caminho inverso.

Calar esta afronta ao ideal europeu é desistir de um modelo de sociedade que tem provas dadas. Bastou uma crise financeira e económica profunda para claudicarmos naquilo que nos diferenciava positivamente de outras partes do mundo. Os políticos europeus desistiram da solidariedade. Em dificuldade, cedemos aos egoísmos nacionais e assim abrimos a porta à lógica do cada um por si, mesmo quando em causa estiver o vizinho do lado ou, nos casos mais graves, algum familiar.

A Europa, considerada no seu conjunto ou vendo apenas a Alemanha e a França, ainda é uma potência económica, mas é cada vez menos uma potência política. Nesta matéria estamos desgovernados. Ninguém tem razões para nos temer. Qualquer um sabe que para vencer basta dividir-nos. É só olhar para este Conselho Europeu e perceber que nos tornamos especialistas em fazer marcha atrás.

A Europa para onde entrámos há 27 anos quase já não existe. Eu, nessa altura, era apenas estudante e Helmut Kohl governava a Alemanha e François Mitterrand a França. Eu nem sequer existia quando Jean Monnet, Robert Schuman e Konrad Adenauer resolveram trabalhar para a Europa dar os primeiros passos. Eu recebi muito da geração dos meus pais e desiludo-me por deixar, em termos políticos, pouco mais que nada à geração das minhas filhas.

Não podemos calar a revolta pela falta de ambição dos políticos europeus, mas não podemos deixar-nos confundir pela luta política interna e dizer que o Governo conseguiu um mau resultado no último Conselho Europeu. Aí, António José Seguro deu um tiro no pé. Sendo evidente que as expectativas jogaram a favor de Passos Coelho, o líder do PS devia ter-se ficado pela crítica aos líderes europeus (onde se inclui Passos Coelho) pelo orçamento que fizeram. Para nós sobrou o mal menor e, neste contexto, o resultado é bom. Pode não agradar à oposição, mas é bom.

Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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