Trouw, Le Monde, El
País, Die Welt – Presseurop
Graças a uma
fórmula rebuscada, o acordo sobre o orçamento para 2014-2020, concluído em 8 de
fevereiro, permite que os Vinte e Sete salvem a face. Mas os cortes aprovados
poderão vir a ser difíceis de aplicar, salienta a imprensa europeia.
Depois de uma cimeira
adiada, de uma noite de debates e de múltiplas discussões em que os
interesses nacionais tiveram primazia sobre quaisquer outras
considerações, os 27 chefes de Estado e de governo tiveram ainda de chegar a acordo sobre o orçamento
da União Europeia para o período 2014-2020.
Este Conselho
Europeu resumiu-se a "regateios e a uma caça aos bons negócios",
escreve o Trouw. Este diário holandês recorda que as pressões no sentido
de se chegar a um consenso eram significativas, mas que os dirigentes receavam
as explicações que teriam de dar às respetivas opiniões públicas:
Queriam encontrar
uma solução comum, uma vez que está em jogo a credibilidade da União. Além
disso, este orçamento a longo prazo é uma condição para se poder investir em
projetos de infraestruturas e de investigação. E toda a gente tem medo de que
não haja uma nova oportunidade antes de 2014. Entretanto, vai haver eleições em
Itália, no Reino Unido [escrutínio local] e na Alemanha. Os dirigentes não
querem ser forçados a reconhecer, nos seus próprios países, que cederam
demasiado nas negociatas.
Assim, para
"pôr termo à querela orçamental, os europeus decidiram proceder a uma
distinção subtil entre despesas previstas e despesas efetivamente pagas", explica Le Monde:
Os europeus
distinguem, como nunca fizeram, entre as dotações para autorizações, reduzidas
para €960 mil milhões, e as dotações para pagamentos que ascendem a 908,4 mil
milhões. Desta vez, essa diferença […] assume proporções inéditas. E, pela
primeira vez na história da construção europeia, umas e outras registam um
recuo relativamente ao período 2007-2013.
O resultado da
cimeira poderia bem ser a "vitória do Reino Unido e dos contribuintes
líquidos para o orçamento comunitário", escreve El País. Este
diário de Madrid qualifica o compromisso apresentado pelo presidente do
Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, de "jogo de contabilidade
criativa" e lamenta que os dois meses
passados desde então não tenham servido para moderar as posições. Pelo
contrário. Todos se mostram obstinados. E todas as veleidades pró-europeias
desapareceram, porque todos os países teimaram em defender os seus próprios
interesses.
Em Berlim, Die Welt considera que
o acordo "não foi muito mau, na medida do possível". Tradicionalmente
hostil ao aumento do orçamento da UE à custa do dinheiro dos contribuintes,
este diário aprova, em especial, os cortes no "dinossauro das subvenções
da UE": as ajudas à agricultura.
A tentativa, em
curso há algumas décadas, de equilibrar a qualidade de vida no interior da UE
centra-se agora mais na vontade de dar oportunidades aos empresários e já não
em preservar os benefícios dos políticos regionais.
Mas, para poder ser
posto em prática, adverte Le Monde, esse
compromisso terá de ser aprovado pelo Parlamento Europeu – e é preciso
convencê-lo:
O seu presidente,
Martin Schulz, sente-se ofendido com a austeridade imposta por David Cameron
[primeiro-ministro britânico]. É provável que Schulz critique a diferença
excessiva entre as dotações para autorizações e as autorizações para
pagamentos. Para ele, isso equivale a gerar défices, uma vez que os pagamentos
reais não serão obrigatoriamente financiados ao longo dos anos.
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